sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

O futuro santista



Não bastasse a vergonha do rebaixamento os santistas tiveram de lidar também com a vergonha por alguns não saberem lidar com essa condição. Vale dizer que isso não é exclusividade dos santistas. Historicamente os rebaixamentos têm deixado essa marca. Ainda estão frescas na minha memória a batalha campal que se deu no estádio Couto Pereira, por exemplo, no final da temporada de 2009 quando o time dono da casa caiu. O que se deu depois também não foi novidade. Multas e perdas de mandos de campo, que num primeiro momento soavam muito bem impostas, sendo descaradamente abrandadas até quase deixar de existir. Um rebaixamento pode não ser o fim do mundo mas que os santistas não se iludam. Ou achem que o exemplo de outros grandes clubes que caíram pode lhe servir. 

Não é bem assim. A musculatura financeira e social os distinguem. O rebaixamento do Corinthians, não custa lembrar, passado o impacto inicial virou praticamente um case de marketing para o clube. E, arrisco dizer, até para a crônica esportiva. Todos os jogos eram acompanhados com grande interesse. Mobilizavam um contingente considerável de torcedores que fizeram questão de acompanhar cada jogo onde quer que fosse. Não que eu duvide do que pode o torcedor santista. E quero lhe crer tão fiel quanto outros. Mas a realidade tem tudo para ser mais solitária. Uma vez que não deverá despertar todo esse interesse da mídia. Realidade que exigirá que o elegido para cuidar deste futuro santista tão incerto neste momento o pense com os pés no chão. 

Vejam. Respeitoso com o Santos seria não pensar em SAF. Afinal, que bom negócio pode ser feito quando uma das partes está nas cordas? Contratações badaladas que costumam fazer mais bem a imagem dos cartolas do que ao clube não virão ao caso. O inédito descenso não foi uma cena fácil. E chegou a pesaru sobre ela algo de fajuto. Essa palavra outrora tão usada mas que parece condenada a um eterno banco de reservas depois do advento do fake. Mas a mim fajuto soa mais preciso. Não duvido do sentimento de quem estava ali em campo. Mas conversei muito a respeito com outras pessoas. E a impressão que ficou é que, de certo modo, esse era um final tão previsível que mesmo a desolação dos atletas ainda no gramado diante do ocorrido soava esquisita, quase forçada. Pareceu uma reação não de quem é abatido mas de quem precisa se mostrar assim. É fato que uns devem ter sentido o momento mais do que outros. E também é possível que outros ainda tenham sofrido muito. O técnico Marcelo Fernandes certamente está entre eles. 

Em tempo algum se poderá dizer que o rebaixamento foi uma surpresa. Não, não houve clube no futebol brasileiro para quem situação como esta pareceu só uma questão de tempo. Os indícios da queda foram visíveis nas últimas temporadas. Mas o futebol tem lá seus caprichos e revestiu isso tudo de momentos que lidos com euforia e oportunismo fizeram a derrocada ser apontada como coisa de pessimistas. Um caldo fatal engrossado por seguidas administrações que nem perto do aceitável passaram. Nada pode ser mais triste do que chegar a esse momento e precisar reconhecer que ele foi merecido. E qualquer pessoa de bom senso diante de tudo o que se viu nesta temporada não irá discordar de tal veredito. Que o Santos volte o mais rápido possível a espelhar o brilho que a história lhe deu, infelizmente, não a história recente.    

 

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