quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Nosso Brasileirão surreal



O Botafogo tá na fogueira. Não há como mascarar essa verdade. A mim soou desde o início que tamanha frente era cruel demais de administrar. Tivesse o time botafoguense desenhado uma liderança normal a realidade seria outra. Mas a bola , a sorte e os gols de Tiquinho Soares o colocaram em total evidência. O fizeram desenhar o melhor primeiro turno da era dos pontos corridos. Impor aos que precisaram se contentar em persegui-lo uma distância que chegou a treze pontos. Algo que em dado momento soou gigante. E agora está aí deixando o pessoal da crônica com cara de quem não acredita no que vê.  Está pra nascer quem consiga explicar do que o futebol é capaz. Interpretar esse maluquice a que o time da estrela solitária tem condenado seus torcedores. 

O modo como começou o jogo contra o Vasco dias atrás. Valente, dando pinta de que poderia voltar a ser o que vinha sendo, que não sentiria a bigorna sobre as costas que acabou sendo o encontro  com o Palmeiras. O tipo de enredo que costuma minar qualquer confiança. Pra desespero dos que foram convencidos a sonhar com o título brasileiro desde praticamente o início a partir de agora, sob comando de Tiago Nunes, será torcer para que a realidade não venha realmente a ser tão perversa quanto a curva de aproveitamento sugere.  No momento em que escrevo ouço gente aqui afirmando que não se trata de uma questão técnica mas psicológica. Cheguei a crer que Lúcio Flávio ter sido alçado à condição de comandante atendendo ao clamor do elenco que via nele o cara pra tocar o barco um antídoto pra isso. Mas a tempestade se fez. 

Os capítulos que se seguiram ajudaram a manter a veia surreal de tudo o que estamos vendo se dar. O Bragantino que no momento em que passou a ser visto como sério candidato não conseguiu segurar a onda também. O Palmeiras que foi ao Maracanã renascido para encarar aquele que a história recente fez seu maior rival e de lá saiu fazendo o torcedor alviverde, tão acostumado a grandes conquistas, duvidar um tanto dessa alentadora sobrevida. Crença resgatada pouco depois na vitória sobre o Inter que lhe fez chegar a liderança.  Mas aproveitemos o caldo que a história vai nos dando. 

Na ausência do brilho técnico, de jogos memoráveis, de times que dão gosto de ver, já não podemos dizer que nosso futebol anda totalmente sem graça. Por mais que  essa graça tenha um quê da emoção que costuma nos ser oferecida num jogo de bingo. Daquelas que todos começam a se olhar quando vários jogadores estão esperando uma última pedra. Ou estaria exagerando? O que me leva a aceitar a afirmação feita dia desses pelo glorificado Carlo Ancelotti que - dizem - colocará em breve todo seu conhecimento a favor da Seleção Brasileira. Disse ele que ganhar é a única maneira para se avaliar um técnico. Que tenham isso em mente Abel Ferreira, Tite, Pedro Caixinha, e todos os que por ventura tenham condições de chegar lá. Ainda que eu creia que eles saibam de cor e acreditem cegamente nessa teoria.

Eu, de minha parte, acho que a coisa não é tão simples assim, mas sabidamente tenho perfil de quem enxerga tudo de forma mais complexa. Sou , por isso, instado a acreditar mais no que disse certa vez Frida Kahlo, ao sugerir uma fórmula para se tornar invencível. Rir. Isso mesmo, rir.  Disse ela: rir, não como os que sempre ganham. Mas como aqueles que não se rendem. O que me fez ver que esse pode ser um jeito bom de encarar as imensas decepções e glórias que este Brasileirão está prestes a ofertar. 


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