quinta-feira, 5 de outubro de 2023

É o Tite, mano !



Somos reféns da própria história. Não há como fugir disso. Voltamos a amores. Voltamos a lugares. E ao agir assim desafiamos o que disse certa vez um literato que fez questão de avisar que não deveríamos voltar jamais a um lugar em que fomos felizes, sob risco de não encontrar por lá o que tivemos da outra vez. Mas voltar a algo que deu certo é coisa que ao longo do tempo tem pautado a história dos clubes brasileiros. Filosofando aqui sou levado a crer que por se tratar justamente de algo tão cercado de paixão. Algo do qual o homem costuma ser tão escravo quanto é da própria história. A novela que vimos nos últimos dias envolvendo os treinadores Mano Menezes e Tite evidenciou  essa realidade. 

O primeiro comandou o Corinthians num dos momentos mais emblemáticos de toda a história alvinegra. A queda para a Série B, verdadeira tragédia no momento em que se deu, viria a se transformar em uma espécie de catalisador que fez a fiel torcida mostrar toda a sua força. E à frente dessa recondução triunfal à elite do futebol brasileiro estava o gaúcho Mano Menezes credenciado por já ter vivido com o Grêmio esse tipo de epopeia. O título paulista e o da Copa do Brasil conquistados na sequência sedimentariam de vez a imagem dele no imaginário dos corintianos. 

Tite, por sua vez, que é gaúcho como Mano e tem praticamente a mesma idade, chegou ao Corinthians na condição de velho conhecido. Já tinha passado por lá no início dos anos dois mil e ao voltar, ao contrário de Mano, trazia no currículo um título nacional de primeira divisão e até um título sul-americano. Mas com o Corinthians alcançou e deu ao clube outra dimensão. Fez do time do Parque São Jorge campeão da Libertadores e campeão Mundial de clubes. E só quem é capaz de compreender o que significava para um time como o Corinthians a ausência desses títulos será capaz de compreender o que significa e significou a conquista deles. Não é por acaso que Tite virou uma espécie de deus do time alvinegro. 

Ele, e Mano, tiveram passagens tão fortes pelo clube que nem mesmo as que foram desenhadas pelos dois tempos depois, ao voltar, sem qualquer grande êxito, mudaram o rumo das coisas. Nada me tira da cabeça que pelo momento em que se deu a demissão de Luxemburgo, e por outras informações que circularam, a ideia da direção corintiana era trazer Tite de volta. O desenrolar da história a fez se contentar com Mano. E do mesmo modo que o Flamengo - que dizem tem tudo encaminhado com Tite - não é o Corinthians. Mano Menezes não é o Tite. E mais do que preferir esse ou aquele o que a torcida do Corinthians deve cobrar é que esse abismo que hoje existe entre os dois clubes , no mínimo, diminua consideravelmente. 

O Corinthians tem história, torcida, triunfos pra isso. A falta, é obvia, é de competência administrativa. Normal que o torcedor tenha sua preferência. Como é preciso admitir que as passagens dos dois acabaram os levando à Seleção Brasileira e isso é prova de alguma excelência. E se Mano não teve a longevidade de Tite não custa lembrar que acabou demitido quando o trabalho dele na Seleção passava a ser amplamente respeitado pela crônica esportiva. Tite, por sua vez, dirão os críticos, esteve em duas Copas e saiu das duas muito criticado. Mas aí eu diria , sem titubear: mas é o Tite, mano! 

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