quinta-feira, 21 de setembro de 2023

O valente Sampaoli



Para além das grandes questões que cercam o futebol não há como não se render a um bom personagem. O que não quer dizer que um personagem dito bom venha a ser um sujeito gente fina. A sedução de um personagem se dá de forma mais complexa do que isso. O que me leva a crer que mesmo o futebol com todo seu apelo e encanto seria menor na ausência deles. Não colocaria, no entanto, Jorge Sampaoli na galeria dos grandes personagens. Mas há nele um traço que me desperta interesse. É um personagem intrigante. Ainda não tenho claro se é  um treinador  acima da média, ou alguém que se colocou nesse universo com certa pompa depois de ter sido exímio em extrair todos os dividendos de momentos como a conquista da Copa América com a seleção chilena quase uma década atrás. 

E por transitar nesse mundo em que os resultados servem como uma espécie de maquiagem fantástica imagino que a essa altura os santistas o tenham em melhor conta do que os flamenguistas.  Não é pra menos. O que Sampaoli fez à frente do time santista é algo difícil de esquecer. E imagino que muitos dos que não nutrem simpatia por ele ao lembrar disso evitam ser cruéis a ponto de dizer que se trata de uma farsa. O que não é o caso, longe disso. Mas talvez também não seja o caso de tratá-lo como um extra classe, termo sisudo muito usado por boleiros.  Meu olhar de torcedor - no início um pouco levado pelo bom astral de momentos como aquele em que Sampaoli chamou pra ver um treino do time santista alguns meninos que acompanhavam tudo de cima de uma árvore - aos poucos foi descobrindo nele um certo ar fechado, de valentia. 

Para a formação dessa imagem contribuíram imensamente os relatos de que ele queria mesmo é saber da comissão dele, evitando outros profissionais. Alguns com lugar de honra na história do clube. Mas o que soava como exagero acabou corroborado pelos acontecimentos envolvendo a comissão dele no Flamengo. Agora mesmo antes de começar a escrever estas linhas tinha dado de cara com manchetes nada abonadoras. Pudera. Às vésperas de decidir a Copa do Brasil levou a campo um time pródigo de invenciones que unidas ao placar de três a zero a favor do adversário se fizeram de difícil defesa. E insisitiu nelas na hora de passar a decidir o título. Também tinha lido a declaração de Suso, jogador do Sevilla, da Espanha, que apontou Sampaoli simplesmente como o pior treinador que já teve. Não sei se é crível, mas depois de tantas páginas vividas no futebol brasileiro, somos levados a supor que o chileno Vidal e o atacante Marinho pensam na mesma linha. 

Desde que chegou ao Brasil Sampaoli fez com que a imprensa tomasse ciência de que não dava entrevistas exclusivas. Protocolo que mais tarde viria a quebrar, para atender interesses que eram só dele.  Sobre a valentia, um dia me contaram - e isso claro pode ser apenas intriga de um desafeto - que certa vez foi visto desviando a rota de uma caminhada que fazia na praia de Santos ao perceber que ela desaguaria na mesma que vinha traçando o lendário Serginho Chulapa.  Adoro personagens e adoro lendas. Se é um treinador de primeira classe sigo sem saber. Mais fácil tem sido constatar que quer mesmo é se cercar dos seus. Coisa que se segue sendo levada adiante é porque quem o contrata não tem a valentia de encarar valentes nem mesmo quando os está pagando. E assim vão se formando personagens não exatamente grandes, mas intrigantes.

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