quarta-feira, 13 de setembro de 2023

O desafio de jogar fora de casa



É bem capaz de o nobre leitor, que quando moleque andou aprontando das suas com a bola no pé, lembre com riqueza de detalhes o que era jogar na casa do adversário. Na minha época quase sempre isso significava encarar a molecada da rua de trás, ou algum outro time formado nas redondezas e que não tivesse entre os seus a patota que costumava formar quase todo dia no prédio ou na praia pra uma pelada. Era coisa simples mas que dava ao jogo de bola um ar diferente. Coisa que a molecada resumia em "jogar um contra". O termo é interessante porque deixa transparecer que os amigos  de todo dia não se enquadravam exatamente na condição de adversários mesmo que estivessem do outro lado. Ninguém dizia que ia jogar um contra se do outro lado estivessem os colegas de rotina. 

Em outras palavras, quando se tratava de um contra a coisa pesava. Entrava no caldeirão do jogo de bola, a honra, a possibilidade de entradas desleais. A intimidação pode não ser bonita como um drible mas em campo costuma ser recurso muito eficaz. Digo tudo isso para fazê-los atentar para o fato de que jogar fora é um desafio mesmo para profissionais. Talvez o viés que mais aproxime o futebol celebridade do futebol descompromissado da infância. Os são paulinos já tiveram muitas chances pra notar a dificuldade da coisa. O tricolor paulista até agora não sabe o que é ganhar fora de casa neste Brasileirão. Nem quando Dorival Júnior chegou com todo o gás conseguiu fazer o time dele protagonizar tal façanha. 

E dizer façanha não é exagero. Vejam. Das vinte e duas rodadas disputadas até agora o mais normal tem sido que os visitantes triunfem em dois de cada dez jogos. Vinte por cento. É muito pouco. Em uma única rodada esse índice alcançou a metade das partidas. Foi na décima primeira. E notem. Das cinco vitórias fora quatro se deram pelo placar mínimo. A exceção foi o Corinthians que conseguiu fazer dois gols no Santos. Entre essas vitórias pelo placar mínimo está uma do Botafogo. Analisar esse tipo de dado dá pista sobre o que tem feito o líder do Brasileirão andar muito na frente. O Botafogo ostenta no cartel cinco vitórias longe de casa. O Palmeiras tem três. Mas o Flamengo mesmo com toda a ebulição que se vê pros lados da Gávea acaba de chegar a cinco também. 

Entre todas as rodadas a única em que nenhum visitante conseguiu vencer foi a penúltima. Talvez a necessidade de pontos que vai alimentando a esperança de salvação de uns e os sonhos de outros vá tornando jogar em domínios adversários mais complicado ainda. Destaquei o percentual que mais vezes se repetiu ao longo do torneio, mas devo dizer que em seis oportunidades o número de triunfos fora chegou a três. O que pela ótica matemática, com alguma licença poética, pode significar um empate técnico com a porcentagem que mais se deu. A dos tais vinte por cento. Uma outra maneira de ver os números sugere que a porcentagem anda mesmo por aí, já que dos duzentos e dezessete jogos disputados até aqui cinquenta tiveram vitórias de visitantes.  Ou pouco mais de vinte três por cento. Três jogos ainda estão pra ser jogados. E já que me entreguei a esse devaneio matemático aproveito para lembrá-los  que se uma única vez esse coeficiente chegou a cinco, apenas duas esteve em quatro. A conclusão fica por conta de vocês. De nada tenho certeza, só de que jogar "um contra" era bom demais e dava ao jogo outra dimensão. 

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