quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Acadêmicos, ou não?



O atual treinador palmeirense é não só o mais vitorioso do futebol brasileiro dos últimos tempos mas também o que mais tem dado combustível para a crônica esportiva e seus afluentes. É raro que uma coletiva dele passe despercebida. Tenho dúvidas de que isso seja salutar pra ele. Mas dada a alma catimbeira que carrega claramente se alimenta de alguma forma desse embate. Como é fato que vira e mexe tem se excedido. Muito do que diz se ampara, querendo ou não, nos bons resultados alcançados. E é incrível que alguém esteja a tanto tempo na crista da onda. O que é de se tirar o chapéu. E vendo os últimos momentos do Palmeiras na atual edição da Libertadores acabei lembrando de uma passagem na qual Abel Ferreira foi muito bem. 

O time tinha acabado de se sagrar campeão brasileiro e o lendário Ademir da Guia no entusiasmo saudou a conquista  como sendo um feito do que poderia ser chamado de a terceira Academia. Fazia menção aos times palmeirenses que nas décadas de sessenta e setenta ganharam essa alcunha pela excelência do futebol que apresentavam. Não houve vaidade nem empolgação na resposta do treinador quando questionado a respeito. E olha que aquele era o título que lhe faltava e que tinha sido a grande meta do time. Abel não caiu na armadilha. Confessou sua falta de conhecimento para interpretar o que tinha sido dito e foi além. Julgou que somente o tempo poderia dar essa resposta. Não teria como ser mais preciso. Também considero que só a história será capaz de dar a exata dimensão do que estamos vendo. 

Na ausência de arroubos plásticos impressiona o apuro coletivo do time. Não sei se todo palmeirense vê com bons olhos esse discreto desdém pelo Brasileirão que corre. O considero, no entanto, até compreensível. E há além das virtudes demonstradas em campo uma outra grande contribuição dada ao nosso futebol, a comprovação dos frutos que podem vir da manutenção de um treinador e de um elenco. Jamais saberemos onde começa a estratégia ou em que ponto entra na história a questão orçamentária. Fato é que a gestão do elenco, com reposições pontuais, levada no fio da navalha não tem comprometido o todo. Mesmo que seja difícil contestar aqueles que dizem a enxergar no banco de reservas. O que não pode ser dito do Flamengo.



E talvez esteja justamente aí o mote para comprovar o grande valor do trabalho de Abel Ferreira, porque mesmo essa sendo a realidade o Palmeiras até o momento nunca esteve atrás de ninguém. E o recém naufrágio rubro-negro na Libertadores só reforça essa tese. Sem dizer que como time não foram poucas as vezes em que se mostrou superior. Arrisco dizer que segue sendo mais competitivo, mais constante na sua capacidade de tomar conta de um jogo. Quem acompanha futebol, e mesmo os atentos à vida, sabem bem que tudo passa. A perenidade do Palmeiras de Abel também, como já escrevi, por essa razão impressiona. Jogadores como Rony e Zé Rafael - elogiadíssimo depois da partida que tirou o Atlético Mineiro da Libertadores - visivelmente têm alargado consideravelmente o padrão de suas atuações. E além do mais, quem sou eu pra duvidar do mestre Ademir da Guia. Não me espantaria que ele com sua elegância supostamente lenta tenha enxergado muito além do presente.   

Nenhum comentário: