quinta-feira, 3 de agosto de 2023

A filosofia da chatice



O Chato é uma instituição. Está em todo lugar. E o pior: pode se revelar repentinamente. Mas duvido que um chato irrite tanto quanto esses que se revelam sob a mira das câmeras encarregadas de nos entregar as emoções de uma partida de futebol. Não estranhem. Fiz aí de cara uma cera. Ensaiei uma firula. Mas o tema é esse: o boleiro mala. Vou elencar alguns aqui. Que me perdoem. Olha, um que tem se esmerado na fase da chatice atende pelo apelido de Hulk. Uma pena porque se não anda jogando o que jogou tempos atrás, tem muita bola. Não precisava disso. Aliás, esse é um traço interessante que une todos eles: em geral são donos de um talento acima da média, muito acima da média arrisco dizer. Acho que o chato cabeça-de-bagre se acanha, ainda bem. Estaríamos perdidos. 

Quer outro exemplo? O lateral Rafinha, do São Paulo. Vou desenhando aqui essa cornetada ciente de que muitos deles se defenderiam dizendo que a condição de capitão exige falar, colocar aquela pressão no juiz. Se alguém quiser comprar essa ideia que compre. Eu não. Dou aqui um exemplo de jogador que já exerceu o cargo sem apelar para esse tipo de comportamento. E o fez com muita elegância. O meio campo Danilo, campeão mundial com o Corinthians. Lembra dele? Provavelmente. Não por acaso era chamado por alguns de Zidanilo. O que imediatamente nos remete a outro bom exemplo. 

Coisa muito comum entre esse tipo de chato é se dizer injustiçado, perseguido. E eles nunca conseguem enxergar motivos para isso. Mas me diga, quem é que consegue tratar um chato exemplar como se fosse um sujeito comum? Digo mais, não percebem o óbvio: a primeira coisa que a chatice mina é a credibilidade. Ou alguém acredita que seja possível ser mais respeitado em campo do que um Danilo, ou um Zidane, azucrinando meio mundo? E, não custa reforçar,  não estou falando de talento estou falando de comportamento. Fazem parte desse elenco que gostaríamos de ver cada vez mais reduzido também o zagueiro paraguaio e palmeirense, Gustavo Gomes. O atacante rubro-negro Gabriel.  Esse, na minha ótica, o representante-mor de uma versão dos chatos. A saber, o chato-híbrido. No caso, o chato-marrento. 

Como há também o chato-bélico. Aquele que pode no mais banal dos lances fazer do adversário um ferido de guerra. Nesse segmento o grande representante vem a ser o lateral Fagner, do Corinthians. Vejam! Não duvido que sejam, uma vez além das quatro linhas, gente fina. Estou falando da atuação e da forma como cada um tem representado seus papéis no grande circo do jogo de bola. Como imagino que todos eles ao aceitar dar vida a esses personagens têm a intenção de tirar dele algum proveito. Os mais duros podem me considerar ingênuo ao esperar dos boleiros esse bom mocismo. A esses eu gostaria de dizer que não cultivo esse anseio. O detalhe é que minha noção de malandragem sempre pediu uma dose, mínima que seja, de inteligência. Não duvido que falar na orelha do árbitro tenha efeitos colaterais e que esse ou aquele tire proveito deles. Agora quando alguém se faz notadamente um chato - desses que todos conhecemos um infelizmente - ingênuo passa a ser pedir que o árbitro o trate como se fosse alguém exatamente igual aos outros.  Coisa que, sejamos sinceros, não são. Desafiam a paciência de qualquer um.  

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