sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Era uma vez uma regra



No meio da reunião alguém pede  a palavra e sugere que a regra que limita a demissão de treinadores deve acabar.  Não que o tema tenha sido amplamente debatido, a sugestão muito menos vem seguida de um bom argumento. Foi amparada no fato de que desde que tinha sido instituída as demissões praticamente acabaram na elite do futebol brasileiro. A partir daquele momento foram elegantemente substituídas por acordos entre as partes. Algo que já tinha sido tema aqui neste espaço.  A decisão foi tomada no Conselho Técnico da CBF realizada no meio da semana passada.  E aceita por unanimidade. Durou, portanto, uma temporada. E desse modo cínico que pudemos acompanhar. 

O interessante nessa história toda foi notar que segundo o noticiado a sugestão foi dada pelo Presidente do Corinthians, Duílio Monteiro Alves. Isso horas antes do clássico contra o Santos.  Como se sabe  a partida terminou com vitória santista de virada.  E fez cair por terra um longo tabu. Há sete anos o time da Vila não sabia o que era vencer na casa corintiana. A derrota colocou um ponto final na passagem do técnico Sylvinho no comando do time corintiano. Ele foi demitido pouco depois do apito final.  Não vou aqui cometer a vilania de dizer que tudo foi premeditado.  Como pode ser ingênuo dizer que  se a regra tivesse sido mantida a história teria sido diferente.  

Alguém tem dúvida de que o Corinthians não teria a mesma cara de pau que teve o São Paulo ao demitir Hernan Crespo meses atrás e  anunciar que tudo se deu em comum acordo entre as partes?  

A história só seria outra se estivéssemos num país em que as regras não fossem dribladas.  A regra que caiu por terra, não sei se recordam, determinava que um clube só poderia demitir um treinador por temporada. No caso de uma segunda demissão o clube não poderia contratar um terceiro e teria de colocar no cargo alguém que tivesse no mínimo seis meses de clube. No papel, uma maravilha. Mesmo porque poderia abrir espaço para profissionais já íntimos do trabalho cotidiano dos clubes e que, por razões outras e não de capacidade profissional, acabam não tendo oportunidades.  No máximo tapam buracos  e veem cair sobre si o rótulo de interino.  E não duvido que muitos poderiam surpreender se encontrassem amparo pra isso. 

Vale notar ainda que a imprensa de modo geral dizia que a pressão sobre Sylvinho era muito mais externa do que interna. Matérias afirmavam a boa relação dele com os dirigentes e com o elenco.  A situação de Sylvinho nunca foi confortável. E esse nunca é que se deve questionar.  Se não é fácil prosperar quando toda vez que seu nome é anunciado no sistema de som do estádio o que se ouve é uma sonora vaia, muito mais difícil é encontrar por aí dirigentes com valentia suficiente para encarar esse tipo de coro.  Se o Corinthians está na Libertadores o crédito deve ser dado a Sylvinho também. 

Por essas e outras é que dá pra dizer que a vitória no clássico salvou a pele de Fábio Carille - mas não livrou o  time da Vila de seu momento preocupante como mostraram as partidas seguintes. A pressão é enorme, ainda mais agora que a mais abstrata das regras já criadas no futebol brasileiro está extinta.  Só é bom lembrar que se o Santos permanece na primeira divisão isso também é obra do seu treinador.  Tem feito um bom trabalho, mas  nada que o livre dessa realidade absurda a qual estão expostos os treinadores no Brasil.

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