quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

A televisão, o futebol e as organizadas




O que trago no balaio hoje é uma mistura de observação dos fatos e utopia. Não que seja uma receita rara, mesmo porque sem o primeiro ingrediente a crônica, ou o que quer que estas linhas lhe pareçam, seria impossível.  Começo com detalhes de uma entrevista concedida dias atrás pelo senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente da República. Homem que está à frente da coordenação da campanha de reeleição do pai. Ele admitiu um erro na estratégia de comunicação do governo.  A de em um primeiro momento ter pensado que o uso da internet, das ferramentas ditas sociais, bastariam.  Não custa fazer a ressalva de que o modo como usaram é uma outra história que , creio, não cabe aqui abordar.  O senador disse que isso foi detectado em pesquisas que mostraram que muita gente não tem conhecimento das coisas boas que o presidente fez.  O que também é uma outra história.  

O interessante é notar a conclusão do raciocínio, a de que foi um erro não ter dado a devida atenção a veículos impressos, rádio e televisão. Digo isso porque paira sobre o mundo da comunicação uma imensa sombra chamada internet.  À parte o exagero dos entusiastas não duvido de seu papel futuro na comunicação, o que já se dá. Não contesto. Por outro lado, acredito ser necessário estudar com cuidado como tratar outros veículos, em especial a televisão, cujo papel na história da sociedade brasileira lhe dá uma importância distinta da que pode ser encontrada em outros países. E mesmo quando o mundo dos direitos esportivos vira de ponta cabeça, como tem virado, ninguém ainda ousou descartá-la.  O que considero um grande sintoma. 



Os que ficaram fora dela acabaram assim por outros motivos, não porque não quisessem ver seus produtos na outrora dita telinha. Falo sobre isso porque também era uma maneira de fazer uma ponte com o que foi escrito aqui na semana passada, com relação aos treinadores. Primeiro vimos, veladamente, o treinador corintiano cair pela forte pressão das organizadas. Pouco depois o técnico do São Paulo ser aplaudido no Morumbi, amparado nelas. Ainda que o time tricolor tenha mostrado em campo um futebol contestável. Ouvi de um colega de redação que não tem jeito, quem dá o tom são elas. Ele falava mais, pelo que compreendi, no ambiente do estádio. E é aqui que entra a parte da utopia que citei no início.  

Quero crer que um time de futebol, seja ele qual for, com seus milhões de torcedores já não precisa ficar - e não deve - refém daqueles que no fundo representam uma minoria.  Ainda que por outras questões tenham, sim, um certo domínio das arquibancadas. Digo isso por entender que de outra forma estará tudo realmente dominado.  Interesses se alimentando de interesses,  quando nem sempre os interesses são realmente os da maioria da torcida. E é preciso que a torcida como um todo tenha essa consciência.  

Não faz muito tempo escrevi aqui sobre a diferença que pareceu existir entre o que se lia na internet e o que fez a torcida do Flamengo no primeiro jogo do rubro-negro depois de ter perdido a Libertadores para o Palmeiras. Ainda que a saída de Renato Gaúcho tenha alterado a rota dos ânimos nesse episódio. Aos não digitais  será  saudável que fiquem sempre atentos ao abismo que pode existir entre os fatos e o uso que se faz deles nas redes.  Um rigor que pode ser decisivo para a futuro desses outros veículos.  No mais, que o torcedor  comum perceba que nunca teve tanta chance de ser ouvido e de se organizar, no melhor dos sentidos

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