sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

A fronteira dos anos



Em matéria de futebol o final do ano me fez pensar que em 2022, acima de tudo, a diversão será acompanhar aquele que pode ser chamado de o trio de ferro do futebol brasileiro:  Atlético Mineiro, Flamengo e Palmeiras.  A saída do técnico Cuca do time de Minas já nos deu uma ideia disso. O tempo costuma ser a melhor medida para as dinastias. Ainda que a palavra nesse caso seja usada mais como uma licença poética. Mas não custa lembrar que o tempo até hoje não deixou de ser fatal para nenhuma delas, as grandes, as verdadeiras, as que pareceram em algum momento eternas. E por mais que essa fronteira que divide os anos soe cada vez mais como um teste para nossa capacidade de crer num futuro melhor, faço questão de deixar muito claro que não tenho a mínima esperança de que esse papo de Sociedade Anônima do Futebol venha a ser de alguma forma a redenção. 

Vou acreditar no futebol brasileiro no dia em que ele realmente andar com as próprias pernas e souber, no mínimo, fazer da exploração da paixão do torcedor um negócio sustentável do ponto de vista econômico.  No dia em que clubes passarem a pagar impostos como qualquer empresa ou cidadão, quando não tiverem mais isenção de IPTU para os seus Centros de Treinamento historicamente instalados em áreas públicas. E quando, acima tudo, deixarem de ser grandes devedores da União. Na minha modesta opinião, e até que se prove o contrário, o que está se desenrolando não passa de mais um refinanciamento vestido de forma elegante. 

E é óbvio que não faltarão entendidos para defender o que foi feito. Não duvido que tenha sido bem pensado. Mas não dá para deixar de lembrar que tudo o que foi feito com essa intenção até hoje tinha essa mesma virtude. Virtude que trataram de driblar, de desonrar.  Nessa fronteira de ano eu quero é a equação, o resultado exato que só o tempo mostra. Lembro bem do que era o São Paulo nos anos noventa. Eu era repórter e tinha recursos para sentir, para decifrar, mas qualquer um que acompanhasse os treinos perceberia do que se tratava, de um time que estava à frente dos outros.  Que de alguma forma era sinônimo de modernidade. Seja lá o que isso quer dizer. E o que vimos com o passar do tempo? Uma quase ruína. O que nunca foi exclusividade do São Paulo. 

Vimos o mesmo se dar com o Cruzeiro, com o Santos. Todos eles, e tantos outros, times que de alguma forma em dado momento se viram nessa condição privilegiada. Na condição de serem invejados pelos adversários até. Na situação de serem encarados como clubes que poderiam mostrar o caminho. E não me venham dizer que não é bem assim, porque é. As glórias não duram pra sempre, mas boas administrações sem dúvida são mais perenes. O problema, ou melhor , o fato é que não as temos. Há umas que são infinitamente melhores do que outras não resta dúvida. Mas a realidade é que estão todas inseridas num universo que gosta de tecer suas próprias regras, ter sua própria justiça. Mas e as dívidas? 

Bom, as dívidas os mais eficazes gostam  sempre de lembrar que estão sendo reduzidas. Isso enquanto elas pairam sobre tudo e todos como uma mera abstração que só se materializa pra valer de tempos em tempos quando uma nova lei é tecida com ares de salvação.  Já que no cotidiano dos clubes não passam de uma sombra. Dívidas que assombram mesmo só as mediadas pela FIFA que, essas sim, podem complicar pra valer um clube, um mandatário. Os tais investidores de hoje que vemos aí são, antes de mais nada, farejadores de oportunidades e ponto. Portanto, meus amigos, se há algo que se pode aprender com o futebol é que é só o tempo que nos mostra os resultados verdadeiros. Jamais essa mínima fronteira invisível que separa um ano do outro.  

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