quarta-feira, 27 de julho de 2016

Minha fé é... no esporte !


Se há uma virtude na Olimpíada é fazer o futebol perder parte de sua hegemonia. Os próximos dias prometem ser  mais democráticos nesse sentido. Dias em que, certamente, o jogo de bola não reinará absoluto nos cadernos de esportes. Muito embora o ineditismo desse ouro que nos falta venha a lhe garantir uma força extra nessa queda de braço pelas manchetes. E, talvez, ainda mais nobre do que isso seja o fato de a Olimpíada jogar luz sobre histórias que o jornalismo esportivo costuma descartar em nome do apelo mercadológico do futebol. 

Acho terrível que não tenhamos conseguido dar aos nossos visitantes uma Baía de Guanabara mais digna, mas o que considero terrível mesmo é o fato de termos chegado até aqui sem ter ainda um plano nacional de esporte. E na ausência dele toda essa ladainha a respeito de legado vira piada. E mesmo se tivéssemos conseguido dar uma limpada na Baía de Guanabara teríamos escondido o sol com a peneira. Deixando assim os visitantes terão uma imagem mais real do nosso país. Não dizem que é preciso se distanciar um pouco das coisas pra enxergar melhor? Sabe-se lá, então, se os que vêm de fora não serão capazes de nos dar uma interpretação melhor da realidade brasileira. 

Pois, se o nosso forte não é o esporte, também não é nossa educação e tampouco o saneamento básico. Nesse quesito, aliás, estamos atrás de países como a Jamaica e o Equador. Em outras palavras, a milhas e milhas de conquistar medalha. Gastar o que se gastou na Vila Olímpica e ter de mandar pra lá seiscentos homens pra reparar às pressas algo novinho em folha não pode ser algo normal. Mesmo que depois de ter colocado a boca no trombone os descontentes tenham abrandado o discurso. O desafio é imenso e, sinto informá-los, não há mais tempo de correr dessa. Mas quero crer que apesar de tudo o que fizeram em nome das intenções do Barão de Coubertin - que era pedagogo - o esporte irá se impor, mostrará sua força. Ainda que no segundo seguinte tenhamos de nos entregar novamente à superfície áspera dos dias que nos cercam. 

Tenho gostado do astral de Rogério Micale, o comandante da nossa seleção olímpica de futebol masculino. E achei muito lúcido da parte dele dizer que esses trinta e poucos bilhões que ora torramos com essa festa monumental bem que poderiam ter sido mais bem utilizados. Oxalá essa nossa condição de anfitriões faça que nossos meninos e meninas se deixem seduzir, não pelo que o esporte tem de competitivo, mas que ao praticarem alguma modalidade incentivados pelo que irão ver, descubram o que o esporte traz de benefício e prazer. Talvez a única forma de acreditar que desse circo todo poderá brotar uma nação um tantinho mais sadia. 
        

terça-feira, 19 de julho de 2016

O futebol e o nosso senso de humor


Olha, não sei a quantas anda a relação de vocês com os homens que aceitaram a ingrata missão de apitar uma partida de futebol. Mas saibam que a CBF segue firme na cruzada para que isso tudo melhore. O aviso das últimas orientações dadas pela entidade nos chegou acompanhada pela alvissareira notícia de que nas primeiras quatorze rodadas do Brasileirão o número de partidas que foram além dos sessenta minutos de bola rolando cresceu mais de 500% nos últimos dois anos. Das míseras oito partidas registradas em 2014 para 42 este ano. O que me fez concluir que, talvez, não resida exatamente na arbitragem o principal motivo do nosso mau humor. Eu explico. 

Com os homens do apito devidamente orientados nosso atletas têm ficado mais expostos, têm precisado lidar mais com a bola, o que vem escancarando de vez a pobreza técnica que assola nosso futebol, minando de vez nosso humor. Um olhar mais atento até mesmo sobre o clássico do último domingo entre Corinthians e São Paulo pode convencê-los dessa minha teoria. Se puderem ver o VT atentem para uma breve sequência de lances registrada no início do vigésimo quarto minuto do segundo tempo. Um perde o tempo de bola, outro erra, a bola espirra pra lá e pra cá sem que apareça ninguém capaz de realmente dominá-la, só vendo. Ou revendo, se tiverem coragem. 

Mas, observações feitas, acho que as orientações foram pertinentes. Exigir que na cobrança de escanteio a bola esteja no lugar certo faz sentido. Vocês já devem ter notado que de uns tempos pra cá nego tem sismado de colocá-la um tantinho pra fora da marca. E juro que não consigo entender do que é capaz essa mínima diferença. A insistência dos goleiros que, em geral, ignoram o cumprimento do seis segundos para colocar a bola em jogo também ficou na mira, bem como o fato dos laterais serem cobrados muito além de onde a bola saiu. O aviso também deixou claro que os árbitros não devem aceitar em hipótese alguma que jogador peça cartão pro adversário, que faça rodinha pra reclamar, que mande o árbitro consultar o assistente. 

Tudo moleza, perto da orientação sobre o agarra-agarra na área, curiosamente colocada entre as coisas com as quais o árbitro deve ter atenção, e não entre as que o árbitro não deve aceitar em hipótese alguma. Tudo tem limite. Aproveito o momento, então, para lembrar que evitar que o jogador adversário se aproxime usando o braço é... falta. E impedir que o goleiro reponha a bola com agilidade coisa pra ser punida com cartão amarelo. Mas sejamos sinceros. O que tem mexido com nosso humor é a constatação de que andamos necessitados de bem mais do que bola rolando. É ou não é? 

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Com receio de um papelão


Longe de mim negar minha brasilidade com tudo que cabe aí de nobre e subdesenvolvido. Mas é preciso admitir que o momento que se aproxima pode nos fazer passar um tremendo papelão. Como se já não bastasse tudo que nossos políticos andam fazendo nesse sentido. Não desconsidero a possibilidade de que uma vez acesa a pira olímpica as coisas se acalmem e esse nosso Brasilzão passe a desfrutar de uma calmaria sueca. Não seria uma novidade. 

Morava no Rio de Janeiro nos idos de 1992 - quando a cidade maravilhosa se preparava para sediar a ECO 92 - e lembro bem da apreensão, dos soldados e tanques espalhados pelas ruas, na beira da Lagoa Rodrigo de Freitas. Nada demais aconteceu e ficou a sensação de que naqueles dias vigiados a cidade ficou infinitamente mais segura e silenciosa. Mesmo na Copa realizada aqui, a não ser por algumas manifestações prontamente contidas, tudo correu bem. Um sucesso que deveria acalmar mas, não só a mim como a muitos que ouço por aí, causa estranheza. Deixa no ar a sensação de que é possível em horas chaves se fazer algum acordo com os que nos assombram para que reine a paz. O que seria algo quase tão brutal como a violência. 

Ocorre que nossa realidade se deteriora a olhos vistos. Ouvir, como ouvi outro dia, o prefeito do Rio dizer com certa soberba que a calamidade era do Estado e que a cidade do Rio e suas finanças iam muito bem e que o custo das olimpíadas no final será trinta e cinco por cento mais barato do que o imaginado foi de arrepiar. Se agora sabemos que o Pan e certas obras viárias nos levaram trezentos e setenta milhões de reais, quanto os espertos não terão lucrado com uma olimpíada? 

E lembrem que nos disseram que sediar um Pan deixaria quase tudo pronto para uma futura edição dos jogos olímpicos. Lembrem das obras que até hoje não foram entregues. De tudo que a essa hora está apodrecendo depois de ter sido erguido em nome do esporte. Tempos atrás senti vergonha como brasileiro ao dar de cara com a imagem de Mick Fanning, o campeão mundial de surfe, saindo do mar da Barra carregando um saco de lixo. Este ano participantes da mesma etapa brasileira do Tour deram de cara com um assalto a mão armada ao sair do hotel em que estavam. Atletas espanhóis da vela que estão treinando no Brasil foram vítimas de cinco pivetes. E no final de semana passado duas carretas carregadas com equipamentos de emissoras alemãs foram roubadas na Avenida Brasil. 

Custo a acreditar que sairemos ilesos dessa. A possibilidade de um papelão é grande. Mas que a realidade me convença do contrário, pois os discursos jamais o farão.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Coisas do futebol


No que daria eu não sei, ninguém sabe, mas que eu gostaria de ver o Guardiola comandando nossa seleção.Não agora, pois engrosso o coro da torcida que fechou com Tite. Há tempos não tínhamos um treinador que chegasse lá com tamanha legitimidade.Mas a lembrança me veio ao dar de cara com a notícia de que os cartolas mexicanos decidiram manter Juan Carlos Osório no comando do time do México mesmo depois de ter sido goleado por sete a zero. O que não deixa de ser uma prova de que o futebol por aí ainda leva em conta certos valores. Mas um detalhe me chamou a atenção: a exigência de impor certos limites ao polêmico rodízio de jogadores, um dos pilares da filosofia do treinador colombiano.

Pelo que li dele será exigida, a partir de agora, uma base do time titular, que deverá ser composta por no mínimo sete jogadores. O que me parece um contrassenso. E chega a me surpreender que Osório tenha aceitado essa condição. Osório não está mais entre nós mas continuo torcendo pelo sucesso de um técnico estrangeiro em solo brasileiro, no momento, pelo simples fato de que o insucesso deles só faz prosperar essa mentalidade tacanha de que o futebol brasileiro deve ser comandado apenas por brasileiros, de que não precisa de alguém pra lhe apontar caminhos, ainda que algo nessa linha tenha ao longo da história nos ajudado a alcançar grandes triunfos. 


A mesma mentalidade tacanha que eu vejo refletida muitas vezes nos gestos fervorosos de grande parte dos torcedores que na semana passada fizeram ir por água abaixo a contratação de Getterson pelo São Paulo. Reveladas as declarações dadas via rede social pelo jovem atacante, não deixando dúvidas sobre sua veia corintiana, a coisa tomou outro rumo. E o jogador mesmo depois de ter sido apresentado ao lado do peruano Cueva foi devolvido ao J.Malucelli. O clube, segundo relatos que ouvi, teria tomado a decisão não pelo que tinha sido escrito mas pelo fato de ao questionar o jogador não ter ouvido dele um relato sincero do ocorrido.

Duvido que essa seria a decisão se o clube visse nele um grande craque, uma promessa de ganhos consideráveis. Levando em conta que Getterson escreveu tudo o que escreveu quando tinha perto de vinte anos a pena me parece cruel demais. E eu fico imaginando aqui quantos dos que se levantaram contra ele já não escreveram bobagens por aí e se, de repente, fossem convidados para assumir um cargo na sua área de atuação em um clube rival seriam honestos a ponto de recusar o convite alegando que, infelizmente, o clube de coração deles era outro. Tenham a santa paciência. Precisamos crescer moralmente.