quinta-feira, 19 de maio de 2016

Então, teremos mais um partido?

Vocês sabem muito bem que se há uma coisa que não falta nesses tempos que correm são motivos pra nos indignar. Desconfio até que já estamos em um estágio perigoso demais no qual o nível de indignação se tornou tão brutal que tem nos levado a uma certa letargia diante dos fatos, por mais absurdos e horripilantes que sejam. Mas a aprovação pelo TRE-SP do Partido Nacional Corintiano além de me indignar fez crescer em mim uma outra sensação: a de que perdemos todos os parâmetros. 
 
Diante das primeiras recusas nesse sentido quis acreditar que por trás de tudo poderia haver o bom senso. Aquele tipo de ingenuidade que mais cedo ou mais tarde acaba atropelada pela realidade. Sei que a nova sigla cumpriu os requisitos exigidos, apresentou os documentos, obteve o apoio do número exigido de eleitores. E já imagino que alguns usarão a própria indignação para dizer que se tudo está dentro da lei quem sou eu pra questionar um direito. Ocorre que no meu humilde ponto de vista reside aí um dos motivos que têm levado nosso país ao buraco. 
 
Custo a imaginar que nosso país necessite mais partidos políticos do que o número absurdo que já tem. Imagino que será o primeiro passo para as bandeiras do futebol invadirem a política, como já invadiram o carnaval. Os dois casos abrem a porta para o recebimento de dinheiro público. E como bem sei do ânimo do mundo estou ciente de que o dito me fará correr o perigo de que alguns o tomem como algo contra os corintianos. O que essa minha indignação está longe de ser.As leis não deveriam ser o limite de tudo. E imagino que em muitos casos, quando interessa, elas não sejam. Andamos carentes é de bom-senso, de autoridades com atitude. Boas atitudes. Aberto esse caminho imagino que fica estabelecido, a partir de então, a sugestão para que os que se irmanam sob alguma bandeira ou condição fundem um partido na ilusão de que estariam por ele melhor representados.
 

Quem sabe algum iluminado não tenha dia desses a nobre ideia de fundar o partido dos miseráveis, dos desempregados, dos larapiados, ou sei lá mais o quê. Por certo seriam partidos que não teriam dificuldade nenhuma para angariar o ínfimo 0,1% dos votos válidos para a Câmara dos  Deputados, como a lei exige. E feito isso estariam todos legitimados. Mas sem reforma política, com esse nível político vergonhoso que aí está não tardará o dia em que serão levados a admitir que tudo não passou de ilusão. Que só alguns poucos se deram bem. E que eles, os eleitores, continuaram no mesmo papel. Mas sempre será mais fácil conquistar a simpatia de alguém que torce para o mesmo time que a gente. E o Brasil? Bom, o Brasil que se dane.

Um time raro


Vou contar uma coisa pra vocês. Andei comprando briga por causa desse Barcelona que temos visto aí. Esse que acaba de se sagrar pela sexta vez nos últimos oito anos campeão espanhol. E se briguei foi por ter defendido a tese de que se trata de um dos times mais encantadores que vi jogar. Muita gente se doeu e rebateu a afirmação me dizendo, em tom provocativo, que o Barça de Guardiola era melhor. Pode ser. Não sou do tipo que não vê grandeza na dúvida. Mas talvez valha em casos assim apelar pra o que alguns costumam dizer sobre os vinhos, que o melhor deles é aquele que parece feito para contentar o seu gosto não importando de onde vem ou quanto custa. 

A essa altura minha posição certamente será ainda mais combatida pois no imaginário do torcedor ainda baila a derrota para o Real Madrid pelo Espanhol e a eliminação da Copa dos Campeões pelo Atlético de Madrid. Resultados que sugeriam um futuro mais opaco para uma equipe até então brilhante. Principalmente se lembrarmos que entre uma derrota e outra o time catalão perdeu para a Real Sociedad e depois da eliminação na Copa dos Campeões ainda viu o Valencia sair do Camp Nou carregando um triunfo por dois a um. 

Os insucessos só fizeram aumentar consideravelmente o tom das críticas feitas a Neymar e a Messi, que amargava então um jejum de cinco jogos sem gol, o pior dele desde 2010. E os jornais não hesitavam em tratar tudo como uma derrocada. Era ou não era pra abalar qualquer equipe? Mas o que fez o Barça depois disso? Venceu os cinco jogos restantes marcando 24 gols e não sofrendo nenhum. Ah, mas o Campeonato Espanhol é uma baba dirão. Lembrando dos jogos que vi do Barcelona nesta temporada prefiro pensar que ele fez valer seu futebol. Além do mais, tivesse o Barcelona atual vencido tudo dispensaria essa minha defesa. 

Nome por nome talvez não resista a uma comparação com o de Guardiola. Mas pro meu gosto há algo raro, muito raro ali, ancorado no brilhante trio MSN. Uma magia, um tempo de jogo. Não por acaso, o uruguaio Suárez acaba de se tornar o mais novo artilheiro do Espanhol quebrando a hegemonia de Messi e Cristiano Ronaldo que durava desde 2009/2010. Foram quarenta gols no total, quatorze deles marcados nos últimos cinco jogos. Na temporada Luis Suárez soma cinquenta e nove. E no próximo sábado, na final da Copa do Rei contra o Sevilla, terá a chance de ir além, e nós a chance de ver uma vez mais esse Barcelona que está longe de ganhar tudo e agradar a todos... mas que tem jogado futebol como poucos.  

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Desabafo de um torcedor


Fala sério! A gente se diverte muito com o futebol dos gringo. A coisa tem uma pompa que por aqui não viceja. Ademais o enraizado complexo de vira-latas pode ter saído do nosso corpo mas segue rondando nosso cucuruto. E não é pra menos. Tem sido duro acordar dia após dia e levar a vida adiante nesse clima de desastre que nossos políticos trataram de armar. Mas como ia dizendo, nessa tal de Champions o babado não é mole. E os convidados pra brincadeira - quando não são craques - gozam de um tal prestígio que só vendo mesmo. 

Mas futebol é futebol seja qual for o pedaço desse mal tratado globo. Quem viu o embate entre o Bayer do pomposo Guardiola contra o Atlético do rústico Simeone há de entender o que tô falando. O jogo bem que tava uma maravilha com o Bayer vivinho depois de ter feito seu segundo gol. E não é que aí em vem o turco pra quem entregaram o apito e me marca pênalti num lance que se desenrolou quase um metro antes da linha da grande área? Pois aí que é. 

Vocês podem não crer, mas de minha parte nem pestanejo pra botar fé de que existe mesmo justiça divina. Pois vai lá o tal do Torres, que não cansa de colocar o cabelinho pra trás da orelha, e me perde a chance de mandar a bola pra rede. Coisa pra qual o juiz devia render prece e agradecer, porque o erro o livrou do pecado de estragar um jogo daquele. Se o cabra tivesse feito o gol, vixe ! Teria sido um bafafá que ia azucrinar as orelhas desses pobres coitados que não perdem a chance de gruda os óio e as orelha numa dessas mesa-redonda. 

O futebol dos gringo é bão? É bão! Mas tá sujeito as mesmas dor desse nosso aqui, maltratado e subdesenvolvidinho. E já que esse tal Vladir me deu a chance de ponhá no papel um tantinho do que penso sobre o futebol, me recuso despedir se antes posicioná meus pensamento a cerca dessa missão estranha e desafiadora que é chutá uma bola ponhada na marca da cal.  Doutô Sócrates, vi dizer uma vez que depois do papelão que passou em oitenta e seis é que percebeu que não existia alma nesse mundo que ensinasse um homem a bater penalti e, inteligente que era, tratou de se acerca de conhecimento sobre o tema. Rivellino, com tudo que sabia, prefiria evitar a situação, o que só mostra que sabia mesmo da coisa. 

E que fique bem dito: espetáculo pra mim é o futebol dos estrangeiro. Coisa linda. O nosso aqui até que meiorô, mas nas Arenas tem que deixar as calças pra entrá. Aí não dá. E quer saber? Acho que na lustrosa Champions vai é dar o Madrid, que esse Cristiano Ronaldo é bicho vaidoso, com aquele cabelo liso cheio de óleo, mas que joga uma bola que minha nossa. Pronto, tá dito. Agora quero ver é publicá, viu ô Vladir! 

quarta-feira, 4 de maio de 2016

As regras, sempre claras!

Desde que me conheço por gente as regras do futebol dão o que falar. E se a memória não me trai também faz  tempo que não ouço alguém dizer que o sucesso do futebol se deve muito ao fato de ser um esporte de poucas regras. E regras preservadas ao longo da história. Reconheço a virtude. E se escrevo sobre é por acreditar que as intervenções feitas nos últimos tempos tiveram algo de desastroso, em especial, por terem atentado contra essa virtude. 

 Vejam a recente orientação sobre os pênaltis causados por bola na mão. De repente ficou estabelecido que se a bola bate na mão é pênalti e ponto. Imaginaram que num passe de mágica acabariam com o foi-não-foi que costuma manchar reputações. Ora, se há um pecado em matéria de futebol é ignorar a complexidade do jogo, o que a orientação descaradamente fez. 

Mas o que pretendo mostrar é como a decisão teve um efeito perverso. Acredito que vocês, como eu, desde cedo aprenderam a interpretar o que era e o que não era pênalti. Levar em conta a intenção. Claro que não era fácil, nunca foi. Mas a orientação passou a duelar com essa lógica. Chegamos ao seguinte ponto. Em uma partida depois de um lance desses o narrador perguntou ao comentarista como ele interpretava o lance que tinha acabado de acontecer. E ele não teve dúvida. Afirmou que pela orientação dada aos árbitros deveria ter sido marcada a infração, mas que ele, comentarista, não daria. Era ou não era mais simples ter preservado o papel da interpretação que o futebol sempre exigiu?

Bom, foi-se o tempo em que as regras do futebol eram preservadas. Há exatamente um mês o International Board aprovou, e a CBF irá adotar, um pacote de mudanças considerado o mais abrangente dos 130 anos de existência do órgão. O livro de regras foi reorganizado e atualizado, segundo eles, para facilitar a leitura e o entendimento de árbitros e comunidade em geral. A partir de então qualquer toque no rosto - mesmo aqueles com jeito de carinho - redundaram em expulsão. 

E o principal! Aquele lance em direção ao gol, sabe? Aquele que todo mundo exige vermelho? Esse passará a merecer o vermelho só se a falta for intencional, ignorando a bola. A intenção é ótima, claro. Mas interessante aí é notar que dessa vez voltaram a acreditar na interpretação do lance. Ou alguém aí é capaz de crer que ela se fará necessária? Faltas cometidas além da linha de fundo, depois do limite do campo, também serão marcadas. E há outras mudanças. Mas o que me assombra é a certeza de que se fosse debater a eficácia delas com algum entendido a certa altura iria ouvir que estou interpretando a coisa de modo errado