quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A diversão possível !


Imagino que o Brasileirão tem sido um suplício para os que ainda clamam pela fórmula do mata-mata. Não que eu tenha necessariamente algo contra ela, mas não é de hoje que me sinto meio obrigado a defender o sistema de pontos corridos. Questão de ser coerente. Tempos atrás, você deve lembrar bem, o grosso da crônica esportiva tinha uma bandeira. E essa bandeira era o tal sistema de - ou por - pontos corridos. Era difícil passar um dia sem ouvir alguém fazer essa reivindicação. Quando acontecia de por aqui um oitavo colocado ficar com o título brasileiro depois da dita fase de mata-mata então, aí a grita era geral. Não que não se possa mudar de opinião. Mas eu, particularmente, me sentiria um tanto patético se resolvesse mudar. Fiz parte do coro. 

Naquele momento dois grandes argumentos, principalmente, embasavam os defensores desse sistema. Premiar o time mais regular. E permitir que os times mais bem planejados tirassem o devido proveito dessa qualidade. Em linhas gerais de dois mil e três pra cá os campeões de certa forma provaram isso. Que o Cruzeiro e o São Paulo reflitam essa lógica vá lá. Mas será que ela serviria para o Flamengo de 2009? O Santos de 2004? E o Fluminense de 2010? Regularidade é um conceito complicado. E ainda bem, porque assim um time que consiga uma arrancada fenomenal estará na luta. Falar em regularidade e planejamento deixa no ar a impressão de que quando se trata de pontos corridos só times, digamos, certinhos, é que podem triunfar. E não é bem assim. 

Tudo leva a crer que as derradeiras rodadas do Brasileirão deste ano não trarão grandes novidades. Se ainda há uma disputa possível, tudo indica que se dará na hora de decidir de quem será a quarta posição, que vale vaga na Libertadores. Prato cheio pra qualquer amante do mata-mata externar seu descontentamento e nos jogar na cara que foi só o que nos restou, se divertir com uma disputa de quarto lugar. Não é bem assim. 

No próximo domingo, Atlético Mineiro e Corinthians estarão frente a frente, no Independência.E ainda que a matemática não nos deixe esquecer que o campeonato está quase decidido, sabemos todos que não se trata de um jogo qualquer. Uma vitória não salvará o time mineiro, mas lhe dará um brilho, lhe trará respeito. O Corinthians, por sua vez, já tem quase tudo, mas se triunfar sobre o principal concorrente, com uma bela atuação, claramente dará outra envergadura à campanha que vem fazendo. O sarro corintiano será outro, mais polido, mais sarcástico. Para os descontentes continuará sendo pouco.  Mas de minha parte, como disse, já não me sinto no direito de reclamar dessa diversão possível.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Alguma coisa está fora da ordem

Leio as notícias e o refrão de Caetano Veloso que dá título a este artigo me vêm à cabeça. A Holanda foi eliminada, não estará na Eurocopa. Vejam só! A Holanda que começou a última Copa goleando a Espanha, na época atual campeã do mundo. A Holanda que depois disso seguiu com um estilo bonito, jogando com uma intensidade de impressionar, sendo a responsável por dar à primeira fase daquele Mundial um tom surpreendente. E as eliminatórias da Eurocopa trouxeram outra surpresa: a Bélgica! Isso mesmo, os belgas deixaram pra trás a Alemanha e a Argentina e tomaram o topo do ranking da FIFA.

Por falar em Alemanha, o submundo da bola também começa a feder por lá, deixando Franz Beckembauer um tanto parecido com Michel Platini. A possível compra da Copa de 2006, e o papel de Beckembauer nisso, já não é novidade pra muitos alemães. O mundo do futebol neste momento é um castelo de cartas ao vento. O número de envolvidos em milionárias falcatruas só aumenta.

Por aqui, cartolas se uniram para criar uma Liga e ao baterem na porta da CBF receberam dela um ok. Sinal de que a entidade começava a aceitar um outro papel, menor. Ainda que não saibamos os detalhes do que foi tratado. Mas eis que dias depois o presidente da Federação Carioca vem a público dizer que em 2016 a Sul-Minas não acontece. E o que faz a CBF? Pressionada, volta atrás e decreta que a decisão dependerá de uma Assembléia. Talvez não seja o caso de dizer que as coisas estão fora da ordem, mas  que já não existe ordem, nem uma nossa, nem uma mundial. Só uma desordem total. 

Vejam essa questão dos clubes que emprestam jogadores. Entre eles é feito um acerto que enquanto durar o empréstimo o jogador cedido não poderá enfrentar o clube que detém seus direitos. Alexandre Pato tem sido o mais retumbante exemplo desse disparate. Pois bem. O ato é proibido pela FIFA. A CBF no início do ano decretou que a prática estava proibida no Brasil, mas só valeria para os contratos assinados a partir de maio. Ora, se a prática é lesiva e proibida pela FIFA porque não decretar seu fim de uma vez ? Um profissional nem deveria depender da CBF ou da FIFA pra isso, já que se trata de impedir alguém de exercer o próprio ofício. Mas o futebol, sabe como é !? Um mundo à parte, em que a justiça dita comum não deve se meter. Lógica visivelmente perversa. E assim a letra de Caetano vai ecoando aqui na minha cabeça e fazendo cada vez mais sentido pro futebol, pro mundo. É que "  tudo parece/ que era ainda construção/ E já é ruína".

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Ah! Nossa seleção !

Nem tudo o que se pensa se fala. Fico imaginando que no fundo, no fundo, Dunga olhe pra situação dele e pense: os caras me bombardeiam mas a Argentina perdeu em casa. É, perdeu. Mas quem pensa assim deveria levar em conta que os argentinos carregarão até a próxima Copa o status de vice-campeões do mundo. Se os brasileiros costumam não valorar os vices é outra questão. Isso sem dizer que com muito menos futebol eles endureceram o jogo pra cima da Alemanha e estiveram perto de fazer na final o que parecia improvável. E não foi à toa. O time argentino com todas os detalhes desabonadores que possam lhe impor continua tendo uma maneira de se portar em campo que soa muito condizente com o que sempre foi. Engana-se quem, cegado pela rivalidade, não enxerga no time portenho uma escola de futebol.

Se com a bola ao longo da história conseguimos ser mais artistas, eles desde sempre puderam nos servir de exemplo de conjunto, sem nunca terem deixado de ter também jogadores de técnica respeitável. A leitura que fiz e faço das primeiras apresentações do Brasil nas eliminatórias é simples. A opção de Dunga por Lucas Lima diz tudo. Foi, antes de qualquer outra coisa, o espelho do tamanho da ousadia do nosso treinador que, falando claramente, no primeiro jogo foi capaz de apostar cerca de dez minutos na capacidade criativa do nosso futebol. E só. Não deixo de reconhecer em parte dos nossos convocados certa excelência técnica. Nem desdenho da igualdade entre os times que o tempo trouxe e se faz evidente. Mas o que me intriga, é que ainda estamos em um patamar razoável, mas que não tem se refletido em nenhum tipo de vantagem em campo.

É fato que temos há tempos uma seleção sem pegada, sem identidade, e nada pode ser mais brochante do que isso. Adiante não sei, mas hoje em dia a seleção brasileira é um time que não deu liga. Há quem se agarre ao placar do jogo contra a Venezuela. Na próxima rodada estaremos frente a frente com os argentinos, que perderam na estreia como nós. Gostaria de acreditar que estamos em pé de igualdade com eles, mas não creio. E também não vou mudar de ideia caso o time brasileiro vença a Argentina jogando em Buenos Aires. O placar não me servirá de parâmetro. Quem parecerá mais time, quem terá um jeito mais sólido de jogar, quem será mais competitivo? Aliás, competitividade é qualidade que nunca faltou aos argentinos, e que a antiga seleção de Dunga também tinha. Mas, quem terá mais alma, mais identidade? Essa é a dividida que eu quero ver o Brasil encarar, é isso que gostaria de ver no time brasileiro quando ele voltar a disputar um jogo de eliminatória no mês que vem.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Bem agora que nossa pitangueira floriu !

Ô Zé, não achei que a coisa iria complicar assim. Desde que essa história de uma vizinhança descontente começou o horizonte se turvou um pouco. Sei que lei é lei e que ela costuma valer com especial fervor aos que não são amigos, como sugere certa frase famosa que você já deve ter ouvido. Também imagino que na tua idade a paciência para desfiar rosários burocráticos quase não exista. Tem sido triste ver a porta de ferro teu bar cerrada. E você bem sabe que ultimamente eu vinha sendo, de longe, o menos assíduo dos teus frequentadores. Mas a mim andava bastando aquele papo breve que volta e meia travávamos quando eu voltava da feira. Em outros dias, muitas vezes, via de longe tua imagem com o jornal na mão, de olho nas notícias do teu Corinthians, em meio ao silêncio do salão vazio, com pouca luz. O custo da energia anda mesmo pela hora da morte, eu tô ligado. E aquela era uma imagem bacana de ver. 

Os que te difamam provavelmente jamais entenderão por completo o que é um bar. Só os inocentes e desavisados podem imaginá-los de alma imaculada. E esses tais que agora andam fazendo questão de que o Bar do Zé Ladrão permaneça com as portas fechadas jamais souberam compreender a razão que lhe fazia, desde sempre, levantar as portas tardiamente. Nunca seriam capazes de sacar a tática para afastar os que infelizmente precisam de um primeiro trago já bem antes do dia nascer. Pra alguns, bares serão sempre todos iguais. Mas se tô aqui é pra dizer da tua classe. Os que tiverem coragem que tentem domar um balcão de bar por décadas a fio, sem perder o prazer no trabalho, sem perder para as próprias pernas condenadas a amparar o corpo em posição de sentido dia após dia, por horas a fio. 

Tô precisando ir lá - esteja o vosso bar de portas fechadas ou não - porque a primavera chegou e já é passado o tempo de colocar algum adubo no pequeno naco de terra exposta que sustenta nossa velha pitangueira. Veja só, outro dia tava passando na calçada contrária e vi um sujeito embaixo dela, olhando pra cima, com jeito intrigado. Por instinto parei pra observá-lo. De repente, o sujeito puxou um ramo e o quebrou. Olha, por pouco não fui lá tirar satisfação. Mas,rapidamente, dei um jeito de me convencer que era só alguém a fim de um raminho pra quem sabe fazer um chá. Olha Zé! Não sei como andas gastando teu tempo. Se tens cuidado dos netos e das plantas de casa. Mas sei bem o quanto aquele cotidiano de sempre deve lhe fazer falta. Já não estou certo de poder sonhar em ver o teu velho bar de novo de portas abertas. Ainda assim, seguirei teimosamente na torcida. Ô Zé, que tristeza me dá ver teu velho bar de portas fechadas bem agora que nossa velha pitangueira floriu. 

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

É hoje !


Se você é do tipo que sofre por causa de futebol e, digo mais, se és daqueles que ainda sofrem por causa da nossa seleção, deixe que sirva de amparo pro seu coração o fato de já não ser nenhuma novidade ver o Brasil passar por poucas e boas nas eliminatórias. A estréia é hoje contra o Chile. E imagino que se nem o histórico sete a um foi capaz de lhe endurecer o coração, nada será. Talvez você não lembre que o Brasil só garantiu um lugar no Mundial de 2002 no último jogo contra a Venezuela. Mas, provavelmente, lembra bem do que Romário foi capaz nos idos de 1993, quando tivemos que decidir no Maracanã, diante do Uruguai, no jogo derradeiro, se íamos ou não íamos pra Copa dos Estados Unidos. Fomos, porque Romário acabou com o jogo dando uma disparada que o goleiro adversário não conseguiu parar nem tentando agarrá-lo. Ou seja, se você achava que seria possível não sofrer, pare de se enganar. Mas sei bem que o temor nunca foi tão justificável. 

Chegar à Copa da Rússia em 2018 promete grandes emoções. Não vou aqui ficar dizendo o que acho do Dunga, só acho que se não leu uma entrevista dada por Sir Alex Ferguson dias atrás, deveria. Ferguson, o inglês respeitabilíssimo quando o assunto é futebol, que comandou o Manchester United por vinte sete anos e sabe muito dos negócios que envolvem o jogo, classificou o sete a um como acidente, um grande acidente. Mas apontou o que deveria nos preocupar. Não o placar daquele dia, mas o fato de termos ficado visivelmente para trás. Fato que Ferguson admitiu ao dizer que a Alemanha criou uma escola, uma identidade de jogo, coisa que nós, brasileiros, segundo ele, tivemos um dia. Lógico. 

Houve um tempo em que o dinheiro não fazia pouco do talento. Mas o tempo hoje é outro. Nada me tira da cabeça que nosso calvário vem muito do fato de hoje em dia os jogadores não serem escolhidos puramente pelo que fazem ou sabem mas, antes de tudo, pelas oportunidades que representam e trazem.  Não vou entrar nessa de dizer que tem esquema na seleção. Mas tá na cara que os negócios venceram, e aí pobre de quem tiver só o talento, sem ter a entrada, sem estar presumidamente bem assessorado e tal. Prova disso é que passamos pelo maior vexame e nossos dirigentes continuam todos com cara de paisagem. Nem se deram ao trabalho de franzir o rosto, ainda que fosse teatralmente. Menos de um ano atrás a palavra de ordem era renovação... mas as últimas apostas de Dunga foram todas na experiência. Continuamos sem um plano, ou se há, confesso não ser capaz de detectar. E estamos sem Neymar pra começar. Mas quem não quer ver no que vai dar? 

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Um homem de princípios


Bom, a coisa se deu dias desse, quando tomava um café com um velho amigo. Momento breve desses que, às vezes, temos a sensatez de nos dar de presente. Trata-se, pra que saibam, de um santista desde sempre. Não posso nem dizer que o rumo da prosa me surpreendeu porque em um encontro anterior havia sentido que a ligação dele com o futebol já não era a de outros tempos. Não fiz disso preocupação porque tudo tem conspirado pra nos roubar o ânimo quando o assunto é esse. Mas, de repente, ele me confidenciou que tinha decidido abrir mão desse prazer. Até aí, quem sou eu pra fazer juízo da decisão dos outros? 

O detalhe é que no aprofundar da prosa fui levado a ouvir outra confidência. A do imenso esforço que alguém que toma uma decisão dessa precisa fazer. E lá foi ele desenhando as situações. Como resistir a dar uma espiadinha se todo mundo diz que o time anda voando? Que tem o artilheiro do torneio? Que seu armador-mor anda dando espetáculo? Palavras que me fizeram crer que o cidadão que se impõe essa mudança sofre como um abstêmio tentado pelas lembranças dos prazeres que descobria na bebida. A essa altura me encontrava totalmente seduzido pela questão. Estava ali diante de mim um caso totalmente possível mas ao mesmo tempo raro, principalmente, pelo fato da intimidade não deixar dúvidas sobre a veracidade do que estava sendo dito. 

Movido pelo astral do papo lhe confessei meus desencantos. Por cumplicidade alimentei a ilusão do sujeito. E se acham que já disse tudo ajeitem-se aí porque o mais arrebatador da conversa foi ter ouvido o homem contar, com semblante tenso, que se fazia isso era porque era um homem de princípios. Acrescentou que o fato de ter trabalhado por algum tempo na cobertura esportiva talvez tenha sido o que fez nascer esse desencanto. E mais tenso ainda se mostrou quando completou que depois de ter tomado essa decisão muitas vezes tem visto esse homem de princípios se debater com o menino que ele, de algum modo, ainda traz no peito. 

Um menino que se entristecia quando o time perdia, que saia com pressa a comprar todos os jornais quando o Santos triunfava. E era como se na riqueza dos relatos e nas fotos dos cadernos de esporte a alegria se multiplicasse. Sensato, antes que levássemos o papo pra outro rumo afirmou que nunca foi um fanático, mas se considerava um torcedor padrão, porque o torcedor que um dia fez o que ele fazia só podia mesmo gostar de futebol. Ao sair da casa dele, estava decidido, precisava escrever sobre o que tinha acabado de ver. Um homem decidido a deixar o futebol pra lá.