quarta-feira, 29 de julho de 2015

Vejam só !

Haja paciência com as coisas do futebol. Na recente Copa América nada de prorrogação em jogos eliminatórios. Algo difícil de engolir. Nem vou entrar nessa de dizer que penalti é loteria. Acho que é uma questão de se respeitar a magnitude do evento. Pois se um torneio de seleções continental já não tem esse direito, não tardará o dia em que algum iluminado decretará que a Copa do Mundo também será disputada assim. Com direito a prorrogação só na final. E os homens de TV, podem crer, não irão reclamar. 

Essa questão atual da Copa do Brasil é outra coisa mal resolvida. Como pode uma eliminação de um torneio nacional significar garantir uma vaga em um torneio internacional? É ou não é esquisito? Na esteira disso fica sempre aquela desconfiança de que a derrota tenha sido optativa. E mais! Agora vieram com essa das Eliminatórias. Determinaram que Brasil e Argentina teriam suas posições pré-determinadas para evitar que outras seleções não tenham que encarar brasileiros e argentinos em sequência. Qual a lógica? Se ao menos o Brasil fosse aquele de outros tempos vá lá. Os argentinos sabemos que estão aí na condição de vice-campeões mundiais. Mas na bola hoje mais terrível pra qualquer seleção talvez fosse pegar Argentina e Chile na sequência. Sorteio é sorteio, ou não é? Sem contar que feito dessa forma se garantiu que o jogo será na terceira rodada, ou seja, logo depois de Neymar ter cumprido a suspensão que lhe foi imposta. O tal fair-play deveria ser algo que se estendesse a todas as questões envolvendo o esporte. 

Outro detalhe é a inclusão dos times mexicanos na Libertadores. A velha força da grana, o interesse dos patrocinadores. Aceitação que resulta em um River Plate já classificado para o Mundial de clubes da FIFA mesmo perdendo a final. E não é só. O regulamento prevê ainda que, além do time mexicano não poder ficar com a vaga, também não pode fazer a partida final em casa, mesmo tendo campanha melhor. E nesse caso bota melhor nisso. Pois o argentino River Plate teve simplesmente a pior campanha do torneio e os mexicanos do Tigres, a segunda melhor, atrás apenas do Boca Juniors. 

E antes de me despedir só queria lembrar mais alguns detalhes depois de termos terminado o Pan na frente de Cuba. Respeito o suor e o trabalho de qualquer atleta. E embora cada modalidade deva ser analisada em separado, o Pan está longe de ser parâmetro. Vejam só! De todos os ouros que conquistamos em Toronto apenas dois deles garantiriam uma medalha na última Olimpíada. O do canoísta, Isaquias Queiroz, e o do nadador, Felipe França. Mesmo o ginasta cubano Erick Lopez, desbancado agora do posto de atleta mais premiado da história do evento pelas vinte e três medalhas do nosso nadador Thiago Pereira, jamais pôs no peito uma medalha olímpica. 

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Respeitável? O público !

                                                            Foto: Guga Matos/JC imagem

Tenho certeza de que em algum momento o nobre leitor já se pegou tentando entender o que se passa com o time do São Paulo. É realmente intrigante. Foi-se o tempo em que eu comungava com aqueles que faziam sempre questão de lembrar que o time do Morumbi é dono de um dos melhores elencos do país. Não que o elenco seja ruim. Está longe disso. Mas está longe também de ser melhor do que outros. Se você duvida pegue o elenco de algum outro time brasileiro de ponta e compare posição por posição. Mas não se deixe levar pela emoção. 

Quando for comparar o Paulo Henrique Ganso com outro meia leve em consideração o futebol que ele tem apresentado nesta temporada. Depois tome o mesmo cuidado ao analisar o atacante Luis Fabiano, os zagueiros e por aí vai. Não estranhe se você acabar espantado com o resultado final da comparação. Já disse em outros momentos e volto a dizer. Torço pelo sucesso de um técnico estrangeiro entre nós, antes de mais nada, porque isso talvez nos abra de vez a cabeça. É só olhar. Em qualquer país que tenha um futebol respeitável há técnicos de várias partes do planeta. A razão é simples. Eles não estão nem aí se o cara é de um canto ou de outro. O que prevalece no mercado é a capacidade profissional. É com ela que o cara se impõe.

E se acabei caindo nesse assunto é porque vejo o colombiano Juan Carlos Osório cada vez mais num beco sem saída, tendo de comandar um time onde todo mundo se acha no direito de reclamar e no qual, praticamente ninguém tem mostrado futebol em tamanho suficiente pra colocar essa banca toda. Mas, Juan Carlos Osório, não nasceu ontem. Já sentiu o campo minado em que está pisando. E deve ter começado a sentir o chão lhe escapar assim que viu a diretoria tricolor se desfazendo de parte do elenco que tinha acabado de lhe entregar para comandar. Sem falar no tamanho da crise que jamais lhe foi confidenciada e que o impediu de ter nas mãos um elenco com salários em dia. 

Será que com todas as verdades postas na mesa o São Paulo conseguiria ter seduzido um treinador com o currículo de Juan Carlos Osório? E se pudesse voltar no tempo, depois de tudo o que viu nos últimos tempos a respeito de comportamentos e folhas de pagamentos, será que teria aceitado o convite para desembarcar nessa nossa dura realidade? O momento do São Paulo, o desafio imenso do seu técnico estrangeiro, dizem muito sobre o futebol brasileiro, que nem sei se anda merecendo estádios cheios como vimos no último final de semana. Mas é bom notar que, de uma forma ou de outra, nosso velho jogo de bola ainda respira. 
 

quinta-feira, 16 de julho de 2015

O esporte e suas cifras


Olha, não vejo razão pra se gastar tanto dinheiro com esses mega eventos esportivos. Sei que eles desempenharam ao longo da história um papel importante para que o esporte conquistasse a notoriedade que lhe cabe. O problema não é o evento em si, mas as cifras que passaram a movimentar. Enfim, o mundo pode não estar numa sinuca de bico como dizem que estamos, mas a coisa, de tão astronômica que se tornou, destoa dos tempos atuais. Houvesse coerência nenhum país nesse momento abraçaria uma causa dessas. 

No final de semana dei de cara com o relato sobre a exposição que autoridades brasileiras fizeram em Toronto, no Canadá, que neste momento sedia os Jogos Pan-Americanos. O que li era de estarrecer. Durante mais de uma hora os encarregados de apresentar os Jogos Olímpicos do Rio teriam contado as mentiras mais cabeludas. Falaram em uma transparência que por aqui ninguém viu, de investimentos privados, que se fossem como disseram nos encheriam de orgulho e, de quebra, teriam nos livrado de abrir mão de algumas centenas de milhões de reais. Disseram até que a despoluição da Baía de Guanabara será feita conforme o prometido. 

Conhecemos bem o legado que grandes eventos deixam. Ouso cometer a graça de dizer que o Pan do Rio, por exemplo, foi um Engenhão. O mundo precisa gerir melhor o que tem. E nisso entra adequar os grandes eventos esportivos aos duros tempos em que vivemos. Não há sentido em gastar bilhões em eventos que duram semanas. Por falar em dinheiro, queria citar a bela entrevista feita pelo repórter do jornal "A Tribuna", da Santos, Ted Sartori, com o ex-presidente do Santos, Luis Alvaro Ribeiro. Laor, por quem tenho muito respeito, teve habilidade para construir com a imprensa, em especial a paulistana, uma relação que muito dirigente por aí daria tudo pra ter. Era um personagem novo, com discurso original. Qualidades que somadas aos títulos, que chegaram rápido, e ao tamanho de certas conquistas, lhe permitiram viver uma verdadeira lua-de-mel à frente do Santos. 

Mas depois de tudo o que vem sendo dito sobre a venda de Neymar, me chamou a atenção o fato de Laor ter afirmado - e tive a impressão de que o fez de modo categórico - que o jovem astro foi muito bem vendido. Até porque na sequência da mesma resposta não escondeu que desconhecia o contrato, dizendo ainda que estava mal e sob efeito de remédios. Ora, dizer que Neymar foi muito bem vendido deixa transparecer uma empolgação um tanto desmedida. Talvez a mesma empolgação que o levou ao segundo mandato, e que lhe roubou a oportunidade de estender a lua-de-mel com o clube até os dias de hoje.        
 

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Um artista da bola


Há um trecho muito bonito no "Livro do desassossego", escrito por Fernando Pessoa, que desafia o leitor a notar que talvez haja mais beleza na derrota do que na vitória. Aliás, fica aqui a dica porque dias atrás um amigo me disse que está pra ser lançada uma edição ainda mais completa dessa obra. Lembro bem que quando li o tal texto pela primeira vez fiz questão de mostrá-lo logo ao Doutor Sócrates, que em muitos dos nossos encontros madrugada adentro defendia a teoria de que a derrota da seleção de 82 a fez maior do que uma vitória faria. E eu gostava muito de ver o Magrão falar daquilo, principalmente, por ser um ponto de vista que driblava, com classe, o óbvio. Verdade também, portanto, que o Magrão, antes do poeta português, foi o primeiro a me apontar que de algum modo vencer é estar vencido. E que há um desconforto reservado somente aos derrotados que obriga o homem a manter em si, intacta, a gana de ir além. 

Todas essas lembranças me vieram quando eu estava pensando no tão falado insucesso de Messi com a camisa da seleção argentina. Dizem, inclusive, que depois do terceiro vice-campeonato seguido ele tem pensado em renunciar à seleção por um tempo. É lógico, o pensamento tirado do livro de Pessoa não parece fazer o mínimo sentido nesse caso. Mas mesmo diante de uma constatação como essa ouso defender - com todas as letras - que a ausência de um triunfo dessa natureza em nada lhe diminui. Estou longe de aceitar a pobreza dos que tecem suas teorias a partir de um placar. 

Reconheço nesse argentino de porte físico modesto um gigante. Ou não tem sido Lionel Messi nos últimos tempos o maioral na arte de nos encantar ? Mal lhe ouvimos a voz. Ao contrário de outros, Messi dá a impressão de não estar nem aí para o que mostram os telões. Basta a ele  ter a bola nos pés, que desse encontro faz nascer, esbanjando precisão, uma maneira ímpar de se expressar. Por isso, na final contra o Chile cheguei a ver mais futebol e atitude no conjunto de jogadas mal sucedidas tentadas por ele do que em todo o resto. Talvez seja um exagero, claro. E no fim, me entristeci com seu ar desolado diante da cobrança de penalti desastrada de Higuaín que anunciava mais um insucesso dele com a camisa argentina. Insucesso? Aí eu pensei comigo: chega a ser cruel exigir um resultado de alguém que nos últimos anos, mais do que qualquer outro craque, se encarregou de manter viva a magia do futebol.     

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Fomos traídos ! (ou, o futebol como matrimônio)

É isso! O futebol nos traiu. Estamos nessa parecidos com aquele sujeito que se nega a ver o que a mulher anda fazendo ou vice-versa. Os motivos que sustentam essa nossa cegueira voluntária podem ser os mais variados. Talvez o principal seja não se imaginar sem o objeto cultuado. Outra possibilidade é ter se habituado a um mínimo de prazer. Pois, sejam sinceros, o futebol de agora não tem sido exatamente isso? Um prazer mínimo? Se decidíssemos levar a indignação à cabo teríamos de arrumar urgentemente algo pra ocupar o lugar dele. Mas não é fácil deixar tudo para trás. 

Não duvido que mais felizes serão os que diante dessa realidade tiverem coragem de se libertar. Quase nada restou. Vejamos o caso da Libertadores, nosso objeto de desejo. Paira sobre ela agora uma sombra escura. As gravações de papos maquiavélicos entre o falecido argentino Júlio Grondona e Abel Gnecco, um representante argentino da arbitragem da Conmebol, sugerem que aquela trajetória gloriosa dos times argentinos no torneio pode ter sido construída de maneira escusa.

Grondona, como lembraram os jornais, foi dirigente do Independiente de 1962 a 1979. Justamente o período em que o Independiente conquistou seis dos sete títulos que o transformaram no maior vencedor do torneio. E quantos jornalistas esportivos não vi por aí encher a boca pra lembrar que o Independiente era o tal na história da Libertadores. Que os argentinos isso, os argentinos aquilo. A Copa América que vai chegando ao fim é outra prova. Nem vou citar os tais direitos de transmissão negociados de maneira ilícita pra não ser repetitivo. Mas o que é essa tabela de jogos com partidas decisivas sendo disputadas em horários diferentes? Sinal claro de que apesar de tudo os cartolas continuam fazendo questão de manter uma boa margem de manobra sobre o que ocorre em campo. 

Não vamos nos enganar mais. Fomos nos acostumando com a situação e não temos nem o direito de fazer cara de espanto. O que verdadeiramente causou espanto - e no íntimo sabemos disso - é que a casa tenha caído. O novo mora no fato de que alguém tenha sido capaz de colocar grandes cartolas do futebol mundial atrás das grades. Só os que não eram íntimos do jogo tiveram direito a surpresa. E nós ? Ora, nós tínhamos todos os indícios. Amantes que éramos. E talvez seja por isso que não suportamos os erros dos árbitros. Com o peso de uma possível traição sobre nossas cabeças custamos a acreditar que se trate apenas da imperfeição humana. Revela-se, então, em cada mancada um motivo para imaginarmos uma trama. É, é sempre um desafio salvar uma relação que já não prima pela confiança.