quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Sobre os homens de frente


Por mais que alguém tenha cometido a insânia de dizer que o gol é um detalhe estamos cansados de saber que não é bem assim. E não me venham com argumentos porque sem ele não se vai a lugar algum. Não chegaria a  dizer que um zero a zero é o que pode haver de mais triste no futebol porque não sou homem de duvidar dos  enredos que esse jogo é capaz de desenhar. Mas estou ciente de que desenlaces desse tipo são raros, o que me faz querer - como a maioria - ver logo é um gol.Teria mais facilidade em aceitar a tal teoria do detalhe se, ao menos, tivesse tratado o gol como um detalhe, sim, mas como o mais precioso dos detalhes. 

E, diante desse eterna urgência do gol, eis que o país do futebol, de repente, se vê sem um atacante, sem um homem de frente. Talvez não tenha sido tão de repente assim. A coisa foi rareando, rareando, até que Fred acabou visto como a grande salvação. Não culpo quem ainda não se convenceu de que deve ser dele esse papel. Também não estou convencido. 

Há um traço singular em jogadores desse tipo. Em geral, quando se trata de um virtuose do meio campo é impossível se contentar apenas com breves lampejos de genialidade. Desse tipo de jogador se exige uma constância que chega a ser cruel.  E quanto mais o cara se mostra capaz menos se aceita que passe uma partida sem protagonizar algo digno do sujeito diferenciado que narradores e comentaristas insistem em dizer que ele é. 
Até dos zagueiros se exige refinamento. Um zagueiro com z maiúsculo, aquele tipo que não brinca em serviço, que intimida o adversário só pela postura, ainda que venerado terá sempre alguém a lhe apontar as deficiências. Já quando se trata de um homem de frente tudo muda de figura, só nele a ausência de categoria pode quase ser esquecida, perdoada. 

Chega a ser bonito ver um Dadá Maravilha confessar sua grosseria com aquela segurança de quem satisfez a torcida. E quanta beleza não se escondia nos gols trombados de um Serginho Chulapa. É injusto não reconhecer que se Fred cavou um lugar nesse panteão foi fazendo o que mais legítima um homem de frente: gols.

Homens de frente são um caso à parte no futebol. Difícil não reconhecer a graça do robusto Walter, mesmo com seu porte físico improvável. Walter que mesmo jogando menos de quarenta minutos em duas partidas conseguiu fazer três gols pelo Flu. E como não reconhecer a boa fase do Alan Kardec ou as qualidades de um Jô? Mas como negar também que nenhum deles parece soar tão fatal como os homens de frente que tínhamos outrora? Tomara que seja só saudosismo. 

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Retratos do momento

Depois do que se viu dias atrás nas arquibancadas do Pacaembu ninguém mais deveria falar sobre o time do Parque São Jorge sem antes analisar tais cenas, ou melhor, antes de senti-las, porque parece ser justamente esse o caso. Se você não viu... eu lhe conto. 

Na partida contra o Bragantino estavam de um lado os ditos torcedores organizados querendo protestar e do outro torcedores corintianos comuns dispostos a apoiar o time, batendo palmas, incentivando. E aí o que fizeram os que estavam a fim de protestar? Tentaram impedir que se mostrasse ali nas arquibancadas uma reação que não fosse a deles, de indignação, descontentamento. Ou seja, o desserviço que esse tipo de torcedor presta ao futebol não tem limites.

Vejam a que ponto chegamos. Você vai ao estádio agora e passa, além de tudo, a ter de se preocupar se a sua maneira de torcer não vai melindrar ninguém. Tenha a santa paciência. Por falar em paciência, a fase do Emerson soa mesmo terrível, como a de Paulo Henrique Ganso que - mesmo longe de estar vivendo um inferno astral como o de Sheik - voltou a ouvir do seu treinador que ele segue sendo um jogador que não gosta de fazer gols, o que nunca se diz quando sua técnica está evidente e que, por outro lado, poderia ser encarado como prova de muita personalidade. 

Queria ainda citar um outro acontecimento banal mas que, creio, diz muito sobre o que andamos vendo e vivendo. Uma cena que presenciei na última sexta-feira ao entrar em um supermercado para comprar uma garrafa de água. Pois é. Aguardava a senhorinha na minha frente pagar as compras do dia, quando ela decidiu comprar uma dessas sacolas ecológicas. Aí diz a caixa:

_ Pode ser a verde?

Como elas estavam expostas a certa distância, a mulher levantou os olhos, 
analisou-as com atenção e disparou indignada:

_ Não! Verde não. Nada de CBF!!!

Surpreendido pela frase - e pela ênfase da pacata senhora - instintivamente olhei pras sacolas também. Era verdade! A verde tinha um escudo enorme da CBF em detalhe.
A conversa seguiu:

_ Me dá a vermelha!

A caixa ainda mostrou outros modelos, um deles todo verdinho, ecológico, bonito, mas a mulher estava decidida:

_ A vermelha, a vermelha - voltou a dizer

Esperei minha vez, paguei a água e saí do lugar pensando até que ponto aquilo não 
era o mais fiel retrato de como anda o ânimo do nosso povo com os donos do futebol e com o próprio. E bem agora que a Copa parece apontar na esquina.