quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Erotismo esportivo


O meu trabalho diário tem me colocado numa saia justa. Já relatei para alguns colegas de redação o que tem se passado. E bastou eu começar a explicar para que todos se mostrassem cientes do que anda acontecendo.
 
É que nessa minha profissão a gente passa o dia inteiro com o computador aberto em páginas de esportes e anda difícil encontrar uma que não tenha em destaque uma mulher deslumbrante.... quase sem roupa. Isso sem falar nas poses. Diante dessa realidade não foram poucas as vezes em que notei um certo ar de espanto no rosto de companheiras e companheiros de trabalho que, subitamente, chegam até a minha mesa.
 
É batata! A pessoa chega e é imediatamente atraída pelo olhar lânguido de uma loira estirada no gramado, traves ao fundo, lábios mais vermelhos do que cereja, bunda pra cima. Não há olhar que resista. é como um imã. Entendo a surpresa, a primeira impressão não é de se estar de cara com uma página de esportes. São as belas da torcida, as musas. Do Coritiba, do Santa Cruz. O que me faz imaginar que até a do Íbis - que ainda não topei por aí - deve ser de parar o trânsito. Isso sem falar nas namoradas de jogadores, nas fotos sensuais, nos calendários com atletas,na Larissa Riquelme. Nada contra, aliás, nada mesmo.
 
Mas veja como anda a coisa. Paro de teclar. Resolvo ir lá olhar uma dessas páginas em busca de inspiração, e o que encontro? Uma enquete que me pede pra dizer que atleta brasileira eu gostaria de ver em um ensaio nu. Bom, nem te conto. Não é mesmo um conteúdo informativo? O que pouca gente sabe é que os portais da internet tem sua importância avaliada pelo número de acessos e nada melhor para turbiná-los do que mulheres turbinadas.
 
Não tardará o dia em que os sites de esportes terão entre esposas e namoradas a mesma reputação daquela tradicionalíssima revista masculina. Diremos para elas que vamos abrir a internet, rapidinho, só pra ver quanto foi o jogo do nosso time e receberemos de volta um olhar desconfiado, seguido daquele tradicional " Ah, sei!!!", em tom provocativo, quase de briga. Será mais ou menos como dizer que vai à banca de jornal comprar a Playboy, claro, por causa da entrevista.
 
E nem adianta ter na estante, como eu, aquela edição comemorativa com as trinta melhores entrevistas da Playboy, sem uma única foto de mulher entre as páginas. Não haverá argumento capaz de levá-lo à absolvição. E haja fibra para resistir, dia a após dia, a toda essa tentação. Falando nisso, vocês já viram que belezura a torcedora símbolo do América do Rio Grande Norte? Dá de goleada em qualquer entrevista. Brincadeirinha!

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Que viagem !


De repente estávamos todos ali. Homens feitos parecendo crianças. Entregues a ânsia que costuma tomar de assalto quem espera um jogo de bola começar. Quando recordo agora daquele Boeing 747 que nos levou Atlântico afora ele tem toda a pinta de ser, na verdade, uma máquina do tempo. Uma máquina que me levou de volta ao passado, quando eu tinha uma turma pra jogar bola. Um turma que passava lá em casa pra me chamar. Ávidos, nos entregamos totalmente a esse convite ludopédico-romântico que o destino fez. E ao fim, sem perceber, levávamos todos no rosto e na alma a revivida euforia das tardes em que voltávamos pra casa com os pés sujos de barro, areia, lama.

Houve, sim, um placar que me fez ver muita gente incomodada. Mas pra quem cultiva toda essa reverência pelo futebol deve bastar a transcendência daquele treino debaixo de chuva. A beleza da nossa entrega, nossa crença cega num certo improviso, enquanto o Autonama, ali ao lado, se esmerava num treino com jeitão profissional. Repetindo movimentos. Astral de orquestra sendo afinada. Mal sabem eles que com todo aquele entrosamento tinham mais motivos pra se divertir do que nós. Terá sido pra eles de alguma forma intimidador o nosso descompromisso? Que pensavam ao olhar para a outra metade do campo? Que pensaram ao ver um bando de garotos correndo pra lá e pra cá, como se aquele mero treino fosse à vera?

Driblamos o tempo como só o futebol permite. Mas de tanto lembrar Moritz Rinke & Cia jogando fácil, passando por nossa brava defesa com a velocidade e o entusiasmo de quem vai a uma festa, não sei, passo a ter incertezas. Tendo a achar que poderia ter me apresentado mais ao amigo Prata ali na esquerda.Ter sido mais altivo, ter procurado mais o jogo. Começo a achar que naquela bola que veio feito um torpedo pra área eu poderia ter subido um pouco mais. Simples efeitos colaterais de um complexo de vira-lata mal curado. E, Caro Nelson, se tu soubesses como foi citado.

Penso em Pepe fazendo a preleção no vestiário, tentando nos orientar. Que bela imagem! Quem sabe se tivéssemos levado a cabo suas palavras. Mas não começamos pressionando os caras, não avançamos a marcação. Diante do placar adverso não redobramos a atenção para evitar um estrago maior. Pepe, meu velho, não é tão fácil assim fazer o que fazia o teu Santos. Olha, Seo Macia, seja como for, tenha a certeza de que se tratou do desrespeito mais respeitoso da história do futebol mundial. No desassossego de alguns, lembrei de Fernando Pessoa aconselhando a desdenhar da vitória com o seu Desassossego, o livro. Dizendo que vencer é conformar-se, ser vencido. E que por isso toda vitória é uma grosseria, que o império supremo é daqueles em quem a supremacia não pesa como um fardo de jóias.

Só mesmo o Sobrenatural de Almeida poderia ter nos salvado desse germânico nove a um que se abateu sobre os que vestiam a camisa do Pindorama. Ficamos meio sem entender nada, exatamente como fiquei ao me deparar com uma frase de Augustinus Von Hipo escrita em alemão na parede do nosso quarto de hotel: "Nur wer selbst brennt, kann feuer in anderen antfachen".

Fomos sobre o sintético gramado do Eintracht e arredores, um time, um belo time. Fomos o que talvez eles não entendam por completo jamais. Ou talvez até entendam melhor agora, se mesmo diante do abismo das línguas, deram um pouco de atenção a tudo o que andamos dizendo de nós mesmos por lá.


Aos amigos do Pindorama FC


* Leia no link abaixo a matéria sobre o fato que gerou este artigo.

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/10/1355416-selecao-brasileira-de-escritores-e-goleada-por-9-x-1-pela-alemanha-em-frankfurt.shtml 

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Um sonho caro

 
A foto me seduz. Nela um garoto muito novo, vestindo a camisa do Flamengo, tem o olhar vago.Sou levado a ler a matéria que acompanha a imagem. Descubro que se trata de Cassiano Bouzon. Um prodígio que, do alto dos seus doze anos, já teria recusado uma proposta do Barcelona, negociado com o Fluminense. Tudo isso antes de ir parar no time da Gávea. Dizem que os dirigentes rubro-negros não querem expor o menino e que no Ninho do Urubu - o Centro de Treinamento do Flamengo - Cassiano chega quase a ser assunto proibido. Sei.
 
A leitura me fez lembrar a história de outro garoto. Meia década atrás, aos treze anos, Jean Chera era a maior promessa do time do Santos. Hoje, aos dezoito, o meia segue sem ter feito um único jogo como profissional. Chera passou pelo Genoa, da Itália, esteve em negociação com Palmeiras, Corinthians e também não vingou vestindo a camisa do Atlético Paranaense. E nem vem ao caso falar aqui sobre o papel desempenhado pelo pai dele, apontado frequentemente como uma pessoa de difícil trato.
 
Não custa lembrar que em outros tempos Chera era mais badalado do que Neymar e Gabriel, que agora vai aparecendo no time titular do Santos. Tão desafiador quanto interpretar o futebol é entender os seus caminhos. Faz algum tempo, vendo um jogo do Salgueiro pela Copa do Brasil, me interessei pelo fato do time pernambucano ter no elenco um nigeriano. Quis saber de quem se tratava. Descobri que Yerien Richmind Esukusiede, deixou a cidade de Lagos - a maior daquele país africano - aos 17 anos.
 
Chegou acompanhado por um amigo que costumava vir ao Brasil comprar mercadorias para vender na Nigéria... e teve a coragem de não voltar. Passou mais de dois anos sem condições de jogar, sem documentos, ilegal. Passou fome. Em sua peregrinação por times de base, vestiu a camisa do Palmeiras B, onde teria sido alvo de chacotas dos atletas por aparentar na época mais do que seus alegados quase vinte anos. Só no ano passado, depois de quase meia década de Brasil, conseguiu assinar o primeiro contrato profissional, com o Treze, da Paraíba.
 
E foi vestindo a camisa do time paraibano que chamou a atenção dos dirigentes do Salgueiro. Escrevo tudo isso só pra dizer que acho perigosa essa realidade atual de equipes sub12, 13. Depois que um menino se vê enredado por tudo isso é tarefa árdua neutralizar a ilusão. Acredito que quando alguém veste um garoto com uma camisa de futebol e desperta nele um sonho deveria também ser responsável por salvá-lo dele, caso as coisas não saiam como o imaginado. Garotos têm é que brincar de jogar bola. O futebol levado muito a sério só interessa a alguns.