quinta-feira, 28 de março de 2013

Perdão?Imperdoável!


A história que você lerá aqui não tem nada de confidencial. Frequentou páginas de jornais. Mas não causou alvoroço algum. No entanto, deveria. Em março de 2011 a Receita Federal abriu um processo para apurar uma suposta sonegação de impostos. Um não recolhimento indevido entre 2006 e 2010. Uma lei que revogou expressamente a isenção fiscal das entidades de desporto profissional teria sido desobedecida e beneficiado Corinthians e Coritiba. Os clubes alegam ser associações sem fins lucrativos e, por isso, se acham no direito de não pagar os impostos.

Só que a Receita - dura como todo contribuinte sabe que ela é - não quis saber do argumento. Disse que, a despeito da forma jurídica que adotam no papel, clubes são como empresas. Vendem jogadores, acumulam dívidas, negociam espaços publicitários, ingressos, ou seja, atuam como empresas comuns e devem estar sujeitos às mesmas regras. Muito óbvio. Menos para o Ministério do Esporte que pediu para que os motivos da cobrança fossem reavaliados.

E pensando assim, enviou para a Advocacia Geral da União um parecer questionando o entendimento da Receita sobre o caso. Isso, lógico, depois do gabiente do Ministro do Esporte ter recebido cópias das autuações aplicadas pelo Fisco ao Corinthians e ao Coritiba. As justificativas adotadas pelo Ministério são de doer. Falam da paixão do brasileiro pelo futebol, de como ele faz parte do nosso patrimônio cultural, de como é reconhecido como elemento constituinte da nossa brasilidade.

Cita até um trecho do discurso feito por Lula em 2008 quando recebeu os campeões de 1958 no Palácio do Planalto. Eu estava lá e ouvi tudo. Mas a frase "quando a gente veste a camisa da seleção, está vestindo a camisa da nossa nação, está representando os milhões de brasileiros e brasileiras", definitivamente, não foi selecionada pela minha memória emocional, apesar de todo talento do nosso ex-presidente para momentos assim.

 A Advocacia Geral da União, por sua vez, pediu à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional uma avaliação. E ela não demorou. A Procuradoria afirmou que a autonomia dos clubes para se organizar não os livra de cumprir, como as outras empresas, as obrigações com o Fisco. Sei que se trata de uma história chata, burocrática, mas vi nela duas virtudes. A primeira,  de mostrar que nem tudo está errado no nosso país. E a segunda, a de deixar bem claro em que time joga o nosso Ministério do Esporte.

E por essas e outras, não vai demorar, teremos de engolir mais uma jogada para perdoar a dívida dos clubes brasileiros. E não será essa migalha citada aqui não. Será um papagaio de bilhões de reais. Iria terminar esse texto dizendo que era só esperar. Mas ontem ao abrir pela manhã o primeiro site de esportes dei de cara com uma manchete sobre o assunto avisando que o governo já prepara uma Medida Provisória nesse sentido.

Medida provisória! Que permitirá aos clubes trocar suas dívidas por projetos sociais. Isso quando todo mundo tá cansado de saber como boa parte dos projetos sociais são tocados neste país. Isso quando o principal projeto do Ministério do Esporte, o programa Segundo Tempo - que tinha esse mesmo objetivo social - gerou um mar de escândalos. Chega a ser difícl de acreditar que a gente engula tudo isso sem ir pra rua protestar.


*artigo escrito para o jornal " A Tribuna", Santos

quinta-feira, 21 de março de 2013

O que andam dizendo por aí


É, eu sei. Numa disputa em que todos jogam com o coração querer usar outras armas pode parecer loucura ou soberba. A verdade é que me sinto na obrigação de dizer que quando me vejo diante de impasses como esse que tem colocado o técnico Ney Franco na berlinda, secretamente me cobro uma posição que seja, sob certa ótica, a de tentar livrar o assunto de tudo que é dito sob o peso da emoção. Pretensão insana!

Uma torcida descontente é uma torcida descontente e está acabado. Um jogador descontente, idem. Uma torcida que não quer mais um treinador, injusta, ou não, tem lá sua legitimidade. Mas o papel de quem informa é outro. Primeiro, o de ter a humildade de levar em conta que nem tudo é dito. Que fontes, por melhores que sejam, sempre têm lá seus interesses.

Não dá pra não levar em conta que existe ali um profissional a quem cabe administrar um batalhão de homens. Tarefa certamente inglória. Teria mais facilidade em aceitar a versão de que Ney Franco não é o treinador ideal para o São Paulo se o clube não tivesse ao longo da história recente criado o mesmíssimo ambiente para técnicos notadamente muito acima da média, pra não dizer ideais.

Em outras áreas somos mais permissivos. Já aos treinadores de futebol ter convicção com relação a um esquema tático passa facilmente a ser encarado como teimosia. Os supra descontentes tricolores pregam que esperar o jogo com o The Strongest é burrice, terá sido tarde demais para trocar de treinador. Mas onde está a justiça de tirar de Ney Franco essa chance?  Trata-se de um técnico que, acertando ou não, deu conta de todas as missões que lhe foram impostas.

Cobram-lhe um esquema tático não é de hoje. Mas não consigo acreditar que sem um ele tivesse conseguido levar o tricolor à essa liderança do Paulista, ainda que se trate de um estadual em sua fase mais meia boca. E por falar no que andam dizendo por aí. Tendo em vista o adiantado da hora, até compreendi as razões que levaram Pelé a sugerir o Corinthians como base da seleção brasileira que, em breve, terá de disputar a Copa das Confederações na condição de anfitriã.  Considerei o apogeu da valorização do entrosamento. Mas, entre o entrosamento e o talento, fico com o talento. Seria possível? Talvez... se não fossemos tão passionais em relação ao jogo.   

quinta-feira, 14 de março de 2013

Que futebol é esse?


No ano passado quando o São Paulo enfrentou a LDU, de Loja, nas oitavas da Copa Sul-Americana, fiquei impressionado com o que vi. Quando terminou o primeiro tempo eu já estava indignado com o árbitro. E antes mesmo da bola voltar a rolar minha indignação aumentou. Foi quando o narrador da partida decidiu colocar o comentarista de arbitragem no papo. Quase fui à loucura.

Sem mostrar nenhum desapontamento com o festival de entradas duras e empurrões que tínhamos acabado de presenciar, o sujeito elogiou o árbitro. Para ele o homem do apito tinha demonstrado um critério interessante. Como assim critério interessante? Ao ouvir aquilo fiquei com a sensação de estar desatualizado, ultrapassado, sei lá.

Sou do tempo em que juiz não tinha direito de ter critério não. Tinha é que saber o que era falta e ponto. E ai do juiz que não mostrasse competência pra essa avaliação. A probabilidade de ter de sair de campo às pressas era imensa. E para mim o impasse atual é esse. Ou a gente descobre logo o que é e o que não é falta, ou o parecer que era dado por meu velho pai se fará profético.

Seo Ary dizia que boa parte do seu desencanto com o jogo vinha do fato do futebol estar cada vez mais parecido com o rugby. Vendo tudo que tenho visto sou obrigado a lhe dar razão. O futebol está cada vez mais pesado, sofrido, físico ao extremo.

Outro dia foi aquela entrada do argentino Diego Braghieri, do Arsenal, no Ronaldinho Gaúcho. E o que fez o árbitro? Nada! Gostaria muito de saber como se explica aos amigos um sujeito que não tira um cartão do bolso pra um lance que no dia seguinte amanhece estampado pelos jornais do mundo como um atentado.

Nesse final de semana foi o Lucas que sofreu uma entrada desleal de Mangani e deixou o campo... enquanto o seu algoz nem cartão levou. Momento mais dramático ainda viveu o Ferrugem, volante da Ponte Preta, que deixou o gramado com uma fratura no tornozelo e com rompimento de ligamentos depois de levar um carrinho por trás do jogador do São Caetano.

Sou capaz até de absolver o Danielzinho, que justificou o lance dizendo não ter muita intimidade com o ofício de marcador. Mas sou incapaz de absolver um juiz que viu tudo aquilo de perto e decidiu punir um carrinho por trás com um cartão amarelo. A FIFA faz tempo decretou que esse tipo de lance deve ser punido com expulsão imediata.

Os tais critérios estão levando o futebol a uma brutalidade crescente. A falada impunidade, tão citada na hora de explicar o que temos visto por aí também explica o que estamos vendo nos gramados. O futebol não precisa de Vuadens. O futebol não precisa de árbitros que deixem o jogo correr nem de árbitros que marquem tudo. O futebol precisa é de árbitros com talento para aplicar as regras. Só isso.

Até porque de nada nos servirá ter gente talentosa pra jogar se o apito continuar nas mãos de cabeças-de-bagre.   

quinta-feira, 7 de março de 2013

Um clássico brochante

Juro por tudo que há de sagrado nesse mundo que dessa vez queria encontrá-los trazendo para o nosso encontro um assunto que tivesse como ponto de partida o talento. Algo primoroso que tivesse se desenhado nos gramados e provocado prazer. Mas, pensando bem, por saber como anda o nosso futebol chego a me sentir inocente por ter esperado que o clássico entre Santos e Corinthians pudesse ter satisfeito toda essa expectativa.

Uma coisa é ver um jogo e não gostar, outra , mais grave, é ver um jogo que causou descontentamento geral. Não é possível que tenhamos desaprendido a jogar futebol assim. Chego a crer que a explicação pode ser outra. Talvez o que tenhamos visto, sem entender, tenha sido uma brochada ludopédica. Preocupante, como todas elas costumam ser.

Pensem comigo. O psicológico como vocês bem sabem tem nesse tipo de caso importância vital. Eis que o Santos, há tempos devendo uma boa exibição, vai jogar no Morumbi e chegando lá dá de cara com um estádio semi vazio que não reflete em nada a vibração que a história do jogo sugere. Com os corintianos se dá algo parecido. O time que se acostumou a levantar sua torcida no instante em que entra em campo olha para as arquibancadas e quase não a encontra. Os poucos corintianos fazem o que podem para empolgar o time que amam.

Mas lá embaixo na cabeça de cada jogador do timão está a certeza de que terminado o clássico não haverá o conforto de casa nem o abraço dos filhos. Depois dos noventa minutos haverá, isso sim, uma longa viagem até Tijuana. Longas horas dentro de um avião para alcançar um destino que está longe de ser dos sonhos. Uma cidade na fronteira do México com os Estados Unidos onde o Tijuana os espera para um confronto em piso sintético.

Como se não bastasse, no gramado do Morumbi as coisas não dão certo pra ninguém. Os santistas padecem de total falta de entrosamento. E as consequências da falta de entrosamento nesses casos são cruéis. Enquanto isso os outros alvinegros vão fazendo o que podem para dominar o campo de jogo mas - no fundo - estão sendo corroídos pela preocupação extrema com uma possível derrota. E a ausência de tesão pela vitória é por natureza devastadora.

Nem mesmo o apelo de um encontro prestes a se tornar centenário foi capaz de mudar o clima. O que sobrou da última tarde de domingo de Santos e Corinthians foi o desconforto que costuma assombrar o homem quando nada dá certo e uma certa vergonha se faz inevitável.



* artigo escrito para o jornal "A Tribuna", santos