sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O futebol e a Raimunda


Foi a Raimunda, minha empregada, quem deu o veredicto assim que o juiz apitou o final da partida lá em Toyota. "Que joguinho feio", cravou. E não foi tudo, na sequência ainda disparou " Se pegar um melhorzinho que esse daí, já era". Tá certo que se trata de uma cearense que ao chegar a São Paulo há mais de três décadas se encantou pelo Palmeiras. Certa vez, em uma de nossas conversas travadas no início das manhãs me contou com entusiasmo como gostava de ir ao estádio com o marido, coisa que já não faz mais.

Seja qual for o time dela a análise pode ter soado seca mas está longe de ser descabida. A semifinal do Mundial de Clubes entre Corinthians e Al Ahly pode ser um exemplo claro do futebol atual, mas beleza que é bom não teve. E quanto a dizer que se pegar um adversário melhor já era, ela também tem lá sua razão, só esqueceu de levar em conta que o Corinthians na final pode mostrar outra postura e parecer ser até outro time. E terá que ser outro time porque o adversário é o Chelsea, bem melhorzinho que o Al Ahly.

E não venham me dizer que o Al Ahly é considerado o time africano do século XX, que é experiente em mundiais. Nada faz diferença. Passado o susto dos corintianos ainda acho que se o Al Ahly tivesse eliminado o time de Tite estaríamos todos diante de uma zebra monumental. Uma zebra tão grande que aquela zebrinha antiga e com cara de boazinha do Fantástico nem teria coragem de anunciar.

O que sei é que o olhar desprovido de maiores pretensões analíticas da valente Raimunda me deixou cara a cara com a simplicidade do futebol num momento em que a minha cabeça fervilhava para tecer teorias sobre ele. Além disso, gostaria de compartilhar com vocês a alegria de ver Messi fazer tudo o que anda fazendo.

Não gosto da injustiça das comparações, nem costumo ser seduzido por essas estatísticas que nascem para adornar manchetes, mas confesso que nos últimos dias acompanhei com atenção a possibilidade de Messi bater a marca do alemão Gerd Muller que fez oitenta e cinco gols na temporada de 1972. No final de semana quando o jogador do Barça chegou ao gol de número oitenta e seis diante do Bétis não foi exatamente o número que me causou espanto, foi a maneira nobre que ele chegou até a marca, sem alarde, com aquele jeitão de trabalhador incansável, como a Raimunda.