sexta-feira, 29 de junho de 2012

À moda antiga


Não bastasse o apelido - que tem um quê de futebol das antigas - ele também tem porte clássico e certo ar retrô.O futebol moderno que costuma transformar jogadores em figuras midiáticas não lhe pegou. E olha que não estamos falando de alguém que brilhou nesse mundo da bola pelas beiras. Foi campeão da Libertadores com o Cruzeiro, campeão Brasileiro e do Mundial de Clubes com o Corinthians. Sem falar das glórias com a camisa do Milan, time pelo qual conquistou duas Copas dos Campeões da Europa e um Mundial.

Dida, que está de volta pra defender o gol da Lusa, é um sujeito original. Sobre ele o que mais ouvi no meu tempo de repórter é que era um tipo muito tímido, o que pelo visto reflete a verdade, mas e daí? O que pouca gente sabe é que ao longo da história a timidez foi e tem sido a marca de grandes homens. Ainda outro dia li um artigo muito interessante sobre isso. E quando um grande homem exerce seu ofício a coisa costuma mudar de figura.

Pra corroborar essa tese basta recordar o que Geninho falou depois da vitória sobre o São Paulo. O treinador da Portuguesa considerou a vitória, entre outros detalhes, fruto da calma e da orientação que o arqueiro passou para a defesa. Ora , se orientou, não ficou calado. Ainda que tenha falado pouco, disse o que se fazia necessário, e pelo visto foi o suficiente.

Goleiros sempre pareceram ser um capítulo à parte na história do futebol e Dida reforça essa sensação. Foram duas temporadas longe dos gramados. E até as declarações que ele deu no pós-jogo foram de certo romantismo. Dida confessou que estava com saudade e talvez justamente aí resida o segredo do retorno em grande estilo. A saudade costuma provocar o que a gente de melhor. Sem falar, de novo, na originalidade, pois a maioria dos boleiros aos trinta e oito anos já não tem paciência alguma para as coisas do futebol.

Sem paciência anda também o torcedor santista que já pressente a dureza dos meses que estão por vir. Afundado na tabela do Brasileirão, com horizonte turvo e tendo que lidar com o fato de que precisará emprestar seus maiores talentos à seleção, diretoria e comissão técnica estão, sem sombra de dúvida, diante de um grende desafio. Elano está na berlinda e outros atletas terão que mudar muito se quiserem sair da mira da torcida.

Superar essa fase de transição colocará à prova a estratégia administrativa em curso. Neymar, não resta dúvida, tem feito valer cada centavo que recebe. E lembre-se de que ele atua em vários campos. Mas a estratégia poderá se mostrar fragilizada na ausência de dinheiro suficiente para manter o clube no nível competitivo que tem apresentado, que é consideravelmente alto.

Sim, porque uma coisa é ter recursos, outra é ter quem se disponha a investir no clube, situação que por mais que esteja incorporada ao nosso futebol, está longe de ser a ideal. Se alguém duvida basta perguntar a qualquer gerente de futebol sério. E há outro aspecto,  manter Neymar aqui exige que o Santos tenha outros jogadores, não como ele, o que seria pedir demais, mas jogadores com técnica suficiente para dialogar com aquele que é a referência do time. Em outras palavras, jogador caro.

Seria bom até trazer para o Santos alguém reconhecidamente talentoso para que os adversários já não pudessem se preocupar apenas com Neymar. Olhando o passado recente do time da Vila dá pra dizer que o que o torcedor quer ver em campo é um time, um pouquinho, à moda antiga também.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

E deu Corinthians !

Serei breve para falar do confronto que em matéria de futebol....

O jogo de volta, sob certa ótica, reforçou a impressão que tive do primeiro, quando o
Santos, de tão pouco agressivo, permitiu que o Corinthians se visse confortável em plena
Vila Belmiro. Na ocasião, mesmo depois de ter levado um gol demorou mais quinze minutos para construir um bom lance de ataque.

Fez um segundo tempo mais vivo, é verdade, mas longe de ser um time brilhante.

Por mais que se fale das limitações do Corinthians, não resta dúvida de que vive um momento melhor que o do adversário, e colhe os resultados da lucidez de ter mantido, além do treinador, um time base.

Ontem, com um toque de bola, que mais ludibria do que glorifica, o Santos se mostrou novamente pouco agressivo. Só alguns segundos antes do cronômetro apontar meia hora de jogo atacou pra valer. Se houve um mérito no time de Muricy foi conseguir chegar ao intervalo em pé de igualdade com o Corinthians.

Tivesse conseguido fazer a pressão sobre o time de Tite ir além dos dois minutos da etapa final, teria aumentado consideravelmente as chances de ter mudado a história. Mas enquanto o Santos ia padecendo da falta de brilho, de criatividade, saltava aos olhos a maior das virtudes corintianas: ser uma equipe combativa.   
           

quinta-feira, 14 de junho de 2012

É o camisa dez


Ainda trago aqui comigo um certo deslumbramento por ter visto Lionel Messi fazer tudo que fez no final de semana diante da nossa seleção. Pois nesse imenso purgatório de finalizações bizarras que temos sido obrigados a testemunhar a precisão cirúrgica do craque argentino na hora de concluir uma jogada chega a me impressionar.

E como é cruel, diante de uma exibição dessas, dizer, como ouvi e costumo ouvir por aí, que o sujeito estava num dia inspirado e todas as chances que apareceram ele transformou em gol. Muitos de vocês já devem ter ouvido esse tipo de explicação. Trata-se de um cacoete, um modismo, ou algo que equivalha. Um jeito simplista que certos torcedores adotaram para explicar uma bela exibição, em geral de jogadores de outros times, raramente do seu.

Driblar o goleiro, por exemplo. Messi é capaz de executar esse movimento sem perder o ângulo, sem deixar a bola se encaminhar para um lugar do qual mandá-la para o gol passe a ser improvável. Neste exato momento tenho dificuldade para lembrar de um lance em que ele na hora de colocar a bola pra rede tenha contado com a sorte. E minha explicação para isso é muito simples: sua maestria em lances conclusivos praticamente anula as chances de que ele dê azar.

Que nosso talentoso Neymar tenha em mente uma coisa: iguais são os cabeças-de-bagre, craques são sempre singulares, por mais que se pareçam, e em geral se parecem muito. Puro disfarce. E não me venham cobrar coerência.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Jornal Velho

 
 
Leio aqui num jornal do fim de semana - mania terrível essa de ler jornal velho - que um vírus que andou causando terror pelo mundo pode ter sido gerado nos computadores de uma instituição brasileira. Mas o que me causou maior espanto foi o seu poder. De acordo com a matéria uma vez instalado no computador o bendito teria a capacidade de invadir microfones e gravar conversas mesmo que o microfone estivesse desligado. 
 
Foi inevitável. Passei a achar até romântico imaginar que um dia as câmeras de vídeo espalhadas por aí foram a maior ameaça a nossa privacidade. Não é tudo!
 
Duas páginas mais tarde dei de cara com um artigo versando sobre nosso pavor do fim do mundo. Calendário maia, asteróides em rota de colisão com a terra, essas coisas. Bom, dessa vez o que me deixou pensativo foi um entrevistado dizer que daqui a quatro bilhões de anos haverá  um choque de galáxias. Andrômeda se jogará nos braços da Via Láctea, ou algo assim. Mas calma.
 
O portentoso encontro de  modo algum irá colocar em risco a vida na terra. O único efeito colateral, segundo o entendido, será um céu mais cheio de estrelas. Vocês, que são muito bem informados já deviam saber de tudo isso. Mas eu, eu fiquei aqui... saboreando a felicidade de saber que daqui a alguns bilhões de anos até nessa paulicéia desvairada teremos um céu mais estrelado. 
 
 
* O título é homenagem ao amigo Marco Aurélio, o Cara do Céu. Maior leitor de jornais velhos do mundo.
 
 
 

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Façam suas apostas


Ronaldinho Gaúcho vestindo o uniforme do Atlético Mineiro por um momento me pareceu miragem. E antes que eu me aprofunde no tema quero dizer que secretamente carrego comigo um medo danado de ser visto como moralista. Do ponto de vista filosófico social poucas coisas me causam tanto pavor.

Estou longe de fazer parte do time dos que vivem apontando a queda que Ronaldinho Gaúcho tem para a aproveitar a vida como o veneno que anda matando seu futebol. Digam o que quiser de Ronaldinho Gaúcho, menos que ele está velho.

Mas é verdade que, do alto dos seus trinta e dois anos, naquele depoimento dado ao Fantástico me passou a sensação de estar meio perdido, tomado de assalto pela avalanche dos fatos. Quem, no entanto, nunca se viu assim nessa vida?

Ser craque sempre foi benção e penitência.Triste daqueles que acreditaram em outras dádivas. Gostaria muito de ver aquele Ronaldinho Gaúcho, sinônimo de alegria e excelência futebolística, renascer nos gramados do nosso país. Se não for possível, desejo que ele tenha a lucidez de colocar um ponto final nessa sandice toda. Isso sem falar que ter uma mãe adoecida como ele é motivo mais do que suficiente para se perder e querer dar uma banana pro mundo. Motivo, inclusive, pra que eu mude de assunto.

Semanas atrás falei da tabelinha que estava se desenhando entre cartolas e políticos com a intenção de achar uma saída para ajudar os clubes a darem conta de suas dívidas que chegam a quatro bilhões de reais, e que Romário, na condição de vice-presidente da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara, despontava como nome forte para fazer essa ponte.


Novo lance se deu. Em audiência pública realizada na nobre Comissão de Turismo e Desporto foi debatida a ideia de regulamentar as apostas via internet. Os interessados em defender a causa alegam que as apostas feitas em outros países em times brasileiros movimentaram 600 milhões de dólares.
 
Dizem que a França criou uma agência para monitorar as apostas em jogos de futebol e só no primeiro ano de funcionamento arrecadou 500 milhões de euros, cerca de 1, 2 bilhão de reais. Só esqueceram de dizer que, talvez, os bem intencionados da França sejam mais bem intencionados do que os nossos.
 
A aposta online pelo que leio aqui foi considerada por um dos deputados como " uma possibilidade espetacular". Será que eles têm acompanhado como a manipulação de resultados para privilegiar certos apostadores tem corroído o esporte pelo mundo?
 
Incentivados pelos vultosos acordos feitos pela venda dos direitos de transmissão os clubes brasileiros bateram recorde de dívidas em 2011. E podem acreditar, o Atlético Mineiro, novo time de Ronaldinho Gaúcho é o quarto time brasileiro com maior dívida tributária, cento e oitenta e sete milhões de reais. Só perde para o Fluminense, para o Flamengo e para o Botafogo, que nesse quesito se mostra insuperável, com inacreditáveis trezentos e dezoito milhões.
 
Para completar toda essa minha desilusão a Portuguesa Santista, a Briosa, ainda foi derrotada pelo Jabuca no inigualável "Clássico das praias". Aí já é demais. Até a semana!