quarta-feira, 28 de março de 2012

Os homens da FIFA estão reunidos.

Os homens da FIFA estão reunidos. E o que vem de lá é de doer. O argentino Júlio Grondona, vice-presidente da entidade, disse que " A copa do mundo é da FIFA e ela apenas ocorre no Brasil". Grondona é um ícone do que o futebol tem de pior. Desde 1979, como homem forte do futebol argentino, resistiu a nada menos do que quatro ditadores, nove presidentes e um papa, como bem anunciava uma matéria escrita por Ariel Palácios para o Estadão em 2009.

O encontro dos executivos da FIFA deixa transbordar um mar de lamentos. Ora, se estão tão descontentes assim com o Brasil deveriam pegar a Copa e... levá-la para outro lugar. O acordo assinado com o nosso governo, inclusive, reza que a FIFA tem esse direito até o meio do ano, e que a decisão não implicaria em multa, nada.

Mas o que me causou indignação ainda maior foi saber que o argelino Mohamed Raouraoua, integrante do Comitê Executivo da FIFA, teria insinuado que falta a Dilma poder para se impor diante do Congresso e da base aliada. "Qual é o poder real da presidente do Brasil?" questionou o sabichão.

É bom que o tal Mohamed fique sabendo que a presidente Dilma acaba de vetar a utilização de recursos do FGTS para obras não só da Copa, como também dos Jogos Olímpicos de 2016. E não foi a primeira vez, não. A Câmara já havia lhe enviado essa proposta.

A presidente justificou a decisão dizendo que a proposta desvirtuaria a prioridade de aplicação do Fundo, que segundo ela deve continuar tendo como foco os setores previstos em lei, fundamentais para o desenvolvimento do país.

Uma decisão que deixa no ar a boa impressão de que temos no poder alguém, que ao contrário de muitos, está ciente de que tem uma história e um nome a zelar.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Os meninos e o futebol












Os meninos são a face mais pura do futebol. Para grande parte deles jogar bola, em algum momento, não foi apenas uma, mas a grande brincadeira. Você provavelmente sabe se um dia fez parte desse time.



Caso tenha alguma dúvida, pode acabar de vez com ela recorrendo a memória. Nela, as tardes passadas atrás da bola parecem infinitas? Existiu um tempo em que a pelada com os amigos estava, certamente, entre as coisas mais importantes do mundo? Não tenho o menor medo de errar. Serão muitos os que irão responder que sim.



E é justamente esse reinado no terreno fértil da infância que faz o futebol diferente de tudo. Sem essa soberania entre os guris o esporte dificilmente teria virado o que virou. Tudo bem que depois da nossa mais tenra idade o futebol tenha perdido espaço para outras curtições. Guitarras... meninas... viagens... ondas... estudo.



Em outras palavras, quando um menino brilha com a bola nos pés não é só o talento dele que nos encanta. Naquela meninice nos reconhecemos, reencontramos alguém que já fomos. Todo menino que o futebol consagra realiza um sonho que um dia também foi nosso. Somos cúmplices da alegria vivida por cada um deles. E isso é muito maior do que torcer por um time.



Digo que foi com euforia que encarei a redenção do jovem Lucas no clássico entre São Paulo e Santos, pois a exibição dele no último domingo trouxe de volta um menino para o futebol brasileiro. Um menino que vinha recebendo críticas de tudo quanto é lado. E Neymar, ao não poupar elogios ao adversário em dia tão importante, deixou transparecer que se reconhecia no momento vivido pelo amigo. Diria mais, nas entrelinhas sugeriu que se tratava de um embate entre iguais, e isso foi de uma elegância madura.



Imagino que em matéria de futebol ter o talento questionado pode guardar tanta crueldade quanto não ter o talento reconhecido. Flutuar entre o genial e o puramente normal exige fibra. Não sei se vocês viram mas até o empresário do Lucas, o bem sucedido Wagner Ribeiro, saiu em defesa de seu cliente dizendo que se tratava de uma Ferrari que estava sendo mal conduzida.



Sou capaz de compreender a comparação, mas não resisto à tentação de dizer, Sr Wagner, que a fábrica de onde saem esses meninos - tão caros e rentáveis - é muito mais perfeita e interessante do que aquela que fabrica Ferraris, em Maranello, na Itália.



E por falar em meninos, dias atrás me deliciei com a entrevista do garoto Wellington Nem no caderno de esporte do jornal "O Globo". O jogador do Flu, que tem vinte anos, contava ao repórter que no início de tudo chegava a se esconder, depois de ter sido inscrito pelo pai em time de futebol de salão, e que entrou em quadra na primeira vez chorando porque o que queria mesmo era ir para a rua soltar e correr atrás de pipa.



Wellington chegou ao Flu com treze anos, acaba de ser pré-convocado por Mano Menezes. Foi companheiro de Neymar em 2009, no Mundial sub-17, disputado na Nigéria. O atacante disse ainda que "Partir pra cima e driblar é a maior diversão".



De que campinho sairá um novo menino ninguém sabe. O sonho deles tem mais essa beleza, ignora a incerteza. Tem gente que vai dizer que hoje, aos vinte, ninguém é mais menino.Pode ser.



Mas é com eles que o futebol garante uma dose maior de graça.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Ele saiu, o futebol continua

"Vida, minha vida/ olha o que é que eu fiz". O refrão da música do Chico Buarque me veio logo à cabeça. Na tarde que passou faz pouco tive a sensação de que as manchetes iam fermentando diante dos meus olhos. Tentei imaginar, não o cartola-mor, mas o homem por trás dele.

Gastei um tempo nesse exercício de supor o que estaria passando pela cabeça do Sr Ricardo Teixeira. Pensei que ouvir aquela música do Chico agora poderia ser um tanto fatal ou que ela lhe provocaria um mar de lágrimas.

Para alguém que foi alçado à condição de presidente da CBF com quarenta e um anos de idade a parte que diz: "Deixei a fatia mais doce da vida / Na mesa dos homens de vida vazia", poderia agora fazer mais sentido do que nunca. Mas a essa altura ele já havia deixado o país. Era um homem tentando driblar sua própria história.

Na carta que redigiu antes disso, e que foi lida pelo sucessor dele, o ex-governador biônico, José Maria Marin, ficou estampado o contraste entre a figura que reinou e aquela que se despedia. O sujeito que reinou jamais pareceu se deixar levar pelo encanto do futebol. O que se despedia parecia entender perfeitamente o papel da paixão em tudo isso.

No singular, ou no plural, lembro de ter visto a palavra paixão entre as linhas de sua carta pelo menos quatro vezes. E quando entre o fim da manhã e o início da tarde daquele dia tão simbólico seu sucessor, que eu ouvia atentamente pelo rádio, tentava convencer os ouvintes de que nada iria mudar, eu solitariamente lamentava a insistência dos nossos cartolas em administrar o futebol brasileiro com o pragmatismo e a cobiça de quem cuida de um banco.

Mas não devemos, sob hipótese nenhuma, nos furtar de comemorar o fato de que o o futebol brasileiro entrou, finalmente, em um outro momento. Por mais convincente que Marin tenha tentado ser, a "continuidade" defendida por ele no momento da posse já não existia. Os efeitos colaterais da história, em geral impiedosos, passaram a ser para todos eles a partir daquele momento uma ameaça constante.

Deixemos para trás esse capítulo que se arrastava por décadas. Um capítulo temperado por triunfos, mas triunfos que tiveram um preço alto demais. Triunfos que nos trouxeram uma alegria quase estéril, uma alegria que chegou a ter a hora de erguer a taça como apogeu, e isso sempre foi pouco pro nosso povo em matéria de futebol.

No mais, é vida que segue, como diria o bordão inesquecível de João Saldanha. O Santos estará em campo daqui a pouco tentado manter o brilho da bela exibição diante do Inter, quando tratou a Vila com a devida reverência. Uma noite pra fazer a derrota diante do Mogi - uma exibição tão sem brilho que feriu até a reputação de um time reserva - um detalhe cada vez menos importante nesse imenso turbilhão dos dias. Graças aos homens, e apesar deles, o futebol está longe perder sua magia.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Coisa de louco

Para tornar clara a indignação que pretendo dividir com vocês nesse espaço vale dizer que a sensação que trago em mim é que depois da invenção do hippie-chic eu não deveria duvidar de mais nada. Mas, quero acreditar, que doses homéricas de paz e amor jamais terão sido em vão.

Sabe o que é ? É essa tabelinha forçada entre futebol e cerveja que nunca me desceu redonda, e entalou de vez aqui na minha garganta desde o momento em que dei de cara com um comercial que usa a emblemática "Balada do Louco", dos Mutantes, composta por Arnaldo Baptista e Rita Lee, como trilha sonora.

Tá certo que o sistema a tudo consome, tal qual um buraco-negro, mas pra mim esse caso extrapolou todos os limites. Acredito que não faltarão oportunidades para voltar ao tema já que os nossos deputados acabam de dar o sinal verde para a liberação da venda de bebidas alcoólicas nos estádios da Copa 2014.

Pois bem. Durante toda minha vida muitas foram as músicas que com seus versos rebeldes me deram a sensação de ser um cara normal, de não ser o único a sentir essa sensação de estar nadando contra a corrente. E a " Balada do Louco" pairava sempre acima de todas elas.

Depois de ouvi-la, passou a o importar menos que andassem dizendo aos quatro ventos que você era louco. Tenho certeza que ela funcionou, até ser reduzida a um jingle infame, como certificado de sanidade de muito maluco por aí. Agora, me digam o que tem de louco alguém que vive sentado no sofá ou na arquibancada bebendo?

O futebol, meus amigos, não se enganem, é normal. Extremamente careta e normal. E, o mais importante de tudo, ninguém nesse mundo deve precisar de uma dose de futebol pra ser feliz, ora bolas. Se você é feliz com o futebol, essa é uma outra história. Não há dependência aí, e isso faz toda a diferença.

Publicitários, por certo, terão um milhão de teorias para defender a peça que ora faço de alvo. Pensando bem, tá todo mundo louco. Só não dá pra dizer o "Oba" no final, como em uma outra música que não sei se vocês lembram, aquela do Silvio Brito.

O secretário geral da FIFA sugerir um chute na bunda do Brasil pode ser uma loucura. Mas o nosso Ministro das Relações Internacionais, Marco Aurélio Garcia, responder dizendo que o homem é um "vagabundo", também não é nenhuma prova de sanidade.

Mas exemplo de sobriedade porreta foi o ministro dizer: "Vocês sabem como é o ritmo do Brasil. Não é o ritmo europeu, germânico. Vamos fazer do nosso jeito". Diante disso só resta a pergunta: Do nosso jeito? Há algo mais preocupante do que isso?

Há tempos, e graças aos Mutantes como já disse, nem me importo se dizem que sou louco por pensar assim. Mais louco é quem me diz.