quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Zero a zero no Ministério

A mudança no Ministério do Esporte deixa tudo na mesma. Seguimos sem motivo pra comemorar. Como precisamente apontou o amigo Juca Kfouri na sua coluna da Folha de hoje, contrariar os "comunistas" seria deixar Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal sob a mira, e ele agora é PT. Ainda assim quero acreditar que mesmo na ausência de tal contrariedade, de algum modo, o governador será alvejado, afinal, tudo aponta para ele. Quanto a Aldo Rebelo, que acaba de ser escolhido para administrar a pasta, vale dizer que semanas atrás foi goleado por Ana Arraes, mãe do governador de Pernambuco, na disputa por uma vaga no Tribunal de Contas da União. Sálario de 25 mil reais. O placar? 222 a 149. Acho interessante citar o fato porque mostra bem o foco dos nossos políticos, dos que nomeiam e dos que são nomeados. Aldo queria estar no TCU, acabou no Ministério do Esporte. Se perguntado, com certeza dirá que atendeu a um "chamado".

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Futebol em estado bruto

Bar do Zé Ladrão, dia desses, sete da noite. Enquanto o português - dono do lugar - segue teimando em convencer os desavisados de que é francês, a sua mais tradicional freguesia vai chegando. Alguns com a dor do dia sobre os ombros, mas não todos. Afinal, o Bar do Zé não é praia mas tá cheio de personagens que fizeram a invejável escolha de levar a vida...boiando.

Estava eu de passagem. Na pressa. Tinha pensado até em desviar a rota, usar a outra calçada, mas eis que a rua se revelou ausente de automóveis e ao atravessar fiquei cara a cara com o bajulado estabelecimento comercial. Num primeiro instante me contive. Parei na porta. Cumprimentei muitos dos presentes com um olhar festivo. Por incrível que possa parecer, resisti.

Mas não poderia negar ao seu Zé uma reverência maior. Senti no aperto de mão que ele estava louco pra falar do Corinthians. O empate com o Inter ainda fresco na memória praticamente lhe transbordava dos olhos. Acontece que a sabedoria do seu Zé é imensa e ele jamais cairia na arapuca de fazer um comentário futebolístico pra todo mundo ouvir, a liturgia do cargo não permite.

É quase como dizer que dono de bar que se preza não bebe, nem fala de futebol com entusiasmo. Fui amigo. Junto com o sorriso lhe recitei baixinho: " Eu te disse que o Alex ia dar caldo". Exemplarmente contido o Zé não deixou que a resposta fosse além de um sorriso.

Fiquei ali por uns minutos, num esforço tremendo para driblar as colocações e as gracinhas que os mais chegados costumam dizer a quem passa os dias debruçado sobre as coisas do futebol. Mas devo dizer que, como sempre, me diverti notando o micro-cosmos do futebol que se esconde em qualquer botequim. O jogo e sua onipresença.

Na minha breve permanência no recinto vi de tudo um pouco. O relaxamento pomposo que invadiu a alma dos torcedores do time da Vila, quando o Edson, de cabelos brancos como a mais tradicional camisa santista esnobou seu interlocutor dizendo:

_ Nem adianta me provocar. Ó, tô numa espécie de pré-temporada. Só vou voltar a falar sobre futebol em dezembro, tá?

Vi ali também o Botafogo carregando o fardo imenso de ser tido como um campeão improvável, sendo clássico ao seu modo.Vi o Palmeiras mexer com o brio dos seus torcedores, que confabulavam alvoroçados tentando entender o que tem se passado na Academia de Futebol, divididos entre o respeito e a repulsa pelo modo truculento de seu treinador, outrora tão vitorioso e familiar.

O que tenho dizer ao seu Zé, e naquele instante por respeito não pude, é algo muito simples. Que o Corinthians não caia no conto de que a tabela lhe reserva facilidades. E esse não é um ensinamento qualquer. Vi mais até, porque nos bares as maldades ludopédicas são ditas sem o menor pudor.

Vi o embate do tricolor com o Vasco sendo encarado mesmo como dose pra Leão. Maldade tamanha que o sujeito lá da porta, quando eu já estava de saída, interpretou assim:

_ Olha, se o Leão ganhar do Vasco eu não me empolgo, não! Não terá feito nada além de confirmar que é um técnico que costuma dar certo no início.

Depois parti, carregando comigo a certeza de que é cruel e explícita essa beleza do futebol que se destila nos bares.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A diferença quem faz são os homens

Há algo de intrigante no desempenho dos times do Rio neste Brasileirão. Mas o acontecido, talvez, tenha explicação. No ano passado, logo após conquistar o título com o Fluminense, Muricy Ramalho fez questão de dizer umas verdades. O então treinador do time das Laranjeiras, em pleno momento de festa, afirmou que esperava que o triunfo servisse para abrir os olhos da diretoria, que era preciso criar uma estrutura melhor para o futebol do Flu.

Muricy foi além, enalteceu a comissão técnica que, segundo ele, muitas vezes tinha se desdobrado para suprir tanta carência. Foi assim na lata mesmo! Muricy disse que se tratava de uma turma de guerreiros que muitas vezes tinha saído em busca de uma academia às pressas para fazer a recuperação dos atletas, já que o clube não tinha uma piscina ideal para isso. E olha o Fluminense aí, soltando o bafo no cangote das equipes mais bem colocadas do campeonato.

A estrutura atual do Vasco, do Botafogo e do Flamengo também estão longe de honrar toda a tradição desses clubes. Que uma estrutura de primeira faz diferença não resta dúvida. Mas, pra mim, a lição que fica é que apenas ela jamais será capaz de levar um clube aos títulos.

Poderíamos dizer que no caso do Palmeiras, que conta com uma boa estrutura, o elenco acabou comprometendo o trabalho da temporada? É possível. Mas o que dizer do São Paulo, que tem ótimo elenco e um centro de treinamento tido como modelo? Time, meus amigos, precisam e precisarão sempre dar liga.

Querem outro exemplo? O Santos! É bem provável que tudo que o clube santista conseguiu nos últimos tempos seja reflexo das altas somas investidas em infra-estrutura. Mas ainda que o título da Libertadores sirva de desculpa para um time pouco interessado e pouco vibrante, não dá pra negar que com hotel, campos de treinamento e tudo, o saldo do caro elenco santista anda no devedor.

Podemos citar ainda o enigmático caso do Cruzeiro, que nos últimos anos esteve na briga por todos os grandes títulos, era apontado como favorito ao Brasileirão no início da temporada atual, enaltecido por suas instalações esportivas, e agora aí está o time mineiro, à beira do vexame. Vale ressaltar que além de boa estrutura os cruzeirenses têm bom elenco.

Meu romantismo não é tão grande que me permita dizer que essa coisa de boa estrutura é bobagem. Claro que não é. Morro de curiosidade pra saber onde estariam os grandes do Rio nesse momento se tivessem estruturas melhores do que as atuais. Resposta que jamais virá, lógico.

Pois a minha explicação, senhores, é simples. E o melhor de tudo é que ela protege a grande mística do futebol. A minha explicação é: o poder dos homens. São os homens que fazem a diferença. Ainda bem! Imaginem como o jogo perderia a graça se ter tudo do bom e do melhor fosse garantia de título.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Se liga, peixe !

Neste mesmo espaço tempos atrás comentei a chegada do ex-jogador Romário ao Congresso. Vê-lo eleito deputado federal me causou temor e faço questão de lembrar a razão. Alguém que tenha desenhado a trajetória que ele desenhou nos gramados deveria pensar muito antes de permitir que as páginas mais recentes de sua biografia fossem escritas no campo político.

De lá pra cá Romário tem demonstrado muito interesse pelos assuntos que envolvem o Mundial que nosso país irá sediar. Esta semana, no Fórum Legislativo sobre a Copa 2014 realizado na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro falou em tom severo que o Brasil não pode se render aos interesses da FIFA, que "...precisamos colocar a FIFA em seu devido lugar".

O nobre deputado vem construindo frases de efeito que, muito provavelmente, não levarão a lugar algum. Um dia antes tinha postado em sua página no twitter o seguinte comentário: " Lei Geral da Copa é o seguinte...galera. O Brasil entra com aquilo, a FIFA entra com aquele outro aquilo... e o Brasil sifu...". O mesmo Romário que, segundo a Folha de São Paulo publicou na terça, é o único brasileiro entre os 22 integrantes do Comitê Técnico e de Desenvolvimento da entidade.

Escolhi o tema porque acredito que a mídia tem sido condescendente com o baixinho. Já ouvi por aí que ele está muito bem assessorado e, quando inaugurou seu site para fiscalizar as obras da Copa no início de agosto e lá colocou uma entrevista com o jornalista escocês Andrew Jennings, conquistou amplo espaço e elogios nos mais variados meios de comunicação. Jennings, pra quem não lembra, havia sido o responsável pela notícia do acordo feito com a justiça suiça no qual vários cartolas tinham sido obrigados a devolver dinheiro de propina recebido da falida ISL, e entre eles estaria Ricardo Teixeira.

Não quero desmerecer as atitudes de Romário, reconheço a importância de uma voz discordante a respeito do assunto no Congresso, mas acho que mesmo com toda a dificuldade por estar tendo que se situar em um ambiente totalmente novo e cheio de detalhes, um deputado federal bem intencionado pode muito mais. Até porque a essa altura lá se vai quase um ano do seu primeiro mandato.

Mas o que tem me causado maior incômodo é saber que Romário fechou acordo com uma emissora de TV e trabalhará como comentarista de futebol durante os Jogos Pan Americanos. Desconheço sua agenda, não imagino qual será a combinação de datas, e nem mesmo se ele terá direito a uma licença que o permitirá cumprir essa função. Acho isso simplesmente incompatível, seja qual for o argumento.

Arrisco-me a afirmar que os que votaram nele não esperavam vê-lo na condição de comentarista pelos próximos quatro anos. Como no Brasil o eleitor costuma aceitar todo tipo de falta de postura, estou ciente do risco enorme que corro de queimar a língua. Não vi, nem ouvi, ninguém falar nada a respeito disso. Classifico essa atitude de Romário como uma tremenda bola fora.

É claro que essa não é a única coisa esquisita que vemos por aí. Outra coisa que gostaria de comentar é a sucessão corintiana. Andrés Sanchez diz que não quer nem saber de reeleição, já nos bastidores vai deixando claro que quer continuar sendo o homem forte por trás do Itaquerão. O argumento seria o de que trabalhou muito por isso e que o novo estádio poderia virar alvo dos adversários, sofrer paralisações, e isso colocaria tudo a perder.

Ora, é muito fácil aceitar o fato de não ser mais o presidente desse jeito. Imaginem o Lula dizendo que estava em paz com sua saída mas que não abriria mão de continuar dando as cartas no famoso PAC, o nosso Programa de Aceleração do Crescimento, que de tão importante foi fundamental para sedimentar o perfil de gerenciadora e para eleger a atual presidente, Dilma Roussef.

Por mais que a gente saiba que nos bastidores os mais poderosos continuarão a ser os mais poderosos, colocar a coisa nesses termos é demais. A conclusão não pode ser outra. Se o futebol anda mais cara-de-pau do que a nossa política, não será o Romário que irá salvá-lo.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

E essa nossa seleção?

Muito se fala na relação dos brasileiros com a seleção. Relação que não seria a mesma de outros tempos. Mas se tudo muda, porque é que justamente a nossa relação com a seleção brasileira iria permanecer intacta, imutável?

Há pouco mais de dez anos eu estava envolvido na produção de um documentário sobre os trinta anos da conquista do tricampeonato mundial no México e lembro muito bem do entusiasmo do pessoal ao ouvir da boca do José Genoino, ainda um ícone ilibado da esquerda (eu disse que o tempo muda tudo), que naquela época quando a bola rolava não tinha ideologia que resistisse. Se não me engano o depoimento foi dado ao repórter Dorival Brammont. O poder de transformação do passar dos dias é tão poderoso que nem mesmo as ideologias restaram.

Seja como for, a frase de Genoino condensava de modo preciso a relação do povo com a seleção nos idos de 1970. Não vou ficar aqui papagaiando o que estamos cansados de ouvir. Que a seleção quase não joga no Brasil, que nossos grandes nomes partem cedo para o exterior, que nossos craques estão mais interessados nos milhões do que em defender a seleção.

Também não vou ter a petulância de apontar quais seriam as razões reais para esse estado atual de desinteresse pelo time canarinho. Quem sabe? Só posso usar da sinceridade e dizer que não tenho lembrança de ter visto um jogo contra a Argentina com tão pouco entusiasmo como foi o caso dos dois últimos. É bem verdade que a Argentina contribuiu pesadamente para esse meu desânimo. Mas vem aí a Costa Rica e depois o México. Isso por acaso lhes entusiasma?

Bom, acredito que só uma vez na era Mano Menezes essa relação pareceu revigorar. Foi na primeira convocação dele, quando mais do que nos últimos tempos, a seleção foi um retrato fiel da vontade popular. Depois disso, graças a Andrés Santos e Fernandinhos, esse contentamento, essa concordância, essa cumplicidade, só diminuiram. É a impressão que tenho.

E para piorar ainda mais temos esse conflito com os clubes, que ficam sem seus jogadores mais importantes em momentos-chave. Intuo que a única coisa capaz de zelar por essa relação seria resgatar a sua versão mais apaixonante e apaixonada. A única coisa capaz de mudar isso seria construir um time que nos fizesse lembrar da sublime seleção de setenta ou que nos arrebatasse como fez a de 82, o que não será viável sem uma dose gigantesca de ousadia que, infelizmente, não vislumbro em lugar algum.

O que ouvimos é que precisamos cautela para usar o talento de Lucas, que precisamos atenção porque um time mais ofensivo irá comprometer a nossa retomada de bola e diminuir o avanço dos laterais. Ou seja, por hora, tentam nos seduzir com um discurso desgastado de renovação, tentando esconder o óbvio. A grande estratégia dos homens que comandam a seleção brasileira atualmente é montar um time para vencer, nada mais que isso.

Ao contrário dos times, que muitas vezes calam torcidas com um triunfo, a seleção sempre precisou e precisa ir além. Mais do que qualquer outra equipe sua missão não é provar eficiência - como não deveria ser para ninguém que gosta de jogar bola - e sim fazer um povo feliz em grande estilo. Foi assim que nos acostumaram, foi assim que sempre nos venderam a ideia, e agora querem nos tirar essa oportunidade, essa alegria.