quinta-feira, 7 de julho de 2011

A seleção no Bar do Zé

Se um dia vocês passarem por lá não se deixem levar pela aparência. O Bar do Zé Ladrão é família. Normalmente, aos domingos, por volta das cinco e meia da tarde já está com as portas de ferro arriadas. Mas no último domingo, com o Mano Menezes fazendo sua estréia em competições oficiais no comando da seleção o Zé entrou no clima que ronda as licitações para a Copa de 2014 e flexibilizou o horário de fechamento. Dizem que a tática não redundou em aumento do faturamento uma vez que o futebol apresentado pela seleção brasileira abateu o ânimo dos presentes, inclusive o daqueles que antes da bola rolar demonstravam uma insensata euforia.

Dizem mais, muitos foram embora antes do apito final e os que restaram não tardaram a deixar o local. O que o Zé achou bom. Mas o fato que eu vos relato se deu mais de setenta e duas horas depois, o que deixa claro que se o futebol da nossa seleção não serviu para o divertimento, foi pra lá de eficaz para provocar e manter as discussões vivas. E o papo corria numa boa quando Curió se encarregou do primeiro rompante:
_ Eu não aguento é essa ladainha da imprensa. Pô, já ouvi e li de tudo. Que foi um fracasso. Que a gente não deve esperar que a seleção dê show. Esses caras tão forçando a barra. Zero a zero é fracasso? Fracasso seria perder, levar de três ou quatro. Aí vá lá!

Nisso o sujeito que trabalha no açougue - cujo nome infelizmente não me recordo - decidiu entrar na conversa:

_ Olha, meu chapa. Sei não.

Curió entrou de sola, não deu chance pro cara prosseguir:

_ Não entra numas de defender, não. Vamos ser honestos. Se a gente não pode esperar show do Brasil pode esperar show de quem? Só da Espanha? Se é assim, vamos parar com esse papo de futebol arte. Vamos mandar colocar um anúncio no jornal avisando que o futebol arte morreu.

O cara do açougue tentou de novo:

_ O futebol bonito tá lá, só não virou.

_ Não virou? Vou te dizer uma coisa. O bonito reside no simples. Pelé era simples na maior parte do tempo. Agora esses caras usam três brincos em cada orelha. Nada contra, de verdade. Mas os caras são enfeitados, entende? Quem joga futebol é o homem, sacou? Não esquece disso.

Foi aí que o Curió percebeu que eu tava ligado no papo. Não deu outra, virou a sua metralhadora verbal pra mim.

_ E aí, tu é jornalista esportivo, não vai falar nada?

Pensei comigo: Como jornalista vira alvo fácil. Mas mesmo esse meu breve silêncio irritou o cara:

_Vai dizer que não é? Esse seria teu time?

_ Curió, só vou te dizer uma coisa: Jamais negaria a batuta ao Ganso se tivesse uma orquestra.

_ Jornalista metido a erudito é f...

Abençoado seja o rapaz do açougue que decidiu voltar pro campo de batalha e me salvou:

_ O Curió não tá errado, não. Os caras exageram. Pra mim o Robinho venceu faz tempo.
Mas é geral. Vocês não viram a Argentina, o Uruguai?

_ Ô meu chapa, não foge do assunto. Nós estamos falando do Brasil. Se liga.

Vi que tinha jeito, quase implorei:

_ O Zé vê quanto é o meu café aqui, que eu vô embora!