quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A arte da intuição

Em matéria de futebol há uma coisa que sempre me deixou intrigado.E agora que a temporada chegou ao fim vou aproveitar a deixa pra colocar o assunto em campo. A bola não está rolando mesmo. Os que me conhecem podem ficar até com a impressão de que este é um texto feito em causa própria. Não lhes tiro a razão.

O fato é que sempre percebi entre os profissionais que me cercam uma certa falta de habilidade para adivinhar resultados de jogos. Não falo da capacidade de análise. Conheço figuras que fazem um raio x de um time de futebol com uma profundidade e com um embasamento de arrepiar. Mas na hora de cravar o resultado do jogo a teoria não se comprova.

De minha parte, inclusive, conheço muitos jornalistas que jogam na loteria esportiva, mas não tenho notícia de que algum deles tenha faturado algo. Compreendo que o segredo nesses casos convém, mas duvido que o sujeito iria perder a chance de contar o feito para, secretamente, se deliciar com o fato de ter sido capaz de antever o que iria acontecer nos quatorze jogos listados. Não teria sido uma simples sequência de chutes. Jamais.

Por outro lado, conheço algumas figuras que nada têm a ver com o futebol e que causam assombro com essa capacidade. Conheço um sujeito, por exemplo, que certa vez fez todo mundo rir quando disse que o Flamengo, apesar da vantagem, não iria segurar o América do México em pleno Maracanã. E não é que o Mengo levou um tremendo de um chocolate e os rubro-negros ainda hoje se lembram bem de um tal Cabañas? Os descrentes dirão se tratar de uma obra do acaso. Pois fiquem sabendo que o cara, um engenheiro, antes disso, já tinha acertado umas três ou quatro do mesmo tipo. Onde estava este fatídico salto alto que nenhum dos especialistas que conheço foi capaz de enxergar?

Fico cada vez mais com a impressão de que muita teoria, muita informação, anula o nosso sexto sentido ludopédico. Sei que esse "nosso" será combatido, pois muitos não terão coragem de se irmanar comigo nessa deficiência interpretativa do que estará estampado no placar quando a partida chegar ao fim. Não é de hoje que o time dos humildes tem elenco menos numeroso do que o time dos metidos a visionários do score.

Vale dizer também que o que me levou a escolher este tema foi uma matéria que li dias atrás na internet. Ela dizia que os capitães dos times brasileiros da primeira divisão, como videntes, tinham se revelado ótimos jogadores. Dos vinte atletas ouvidos no início do Campeonato nenhum deles foi capaz de apontar o Fluminense como campeão. E apenas um, o zagueiro William do Corinthians, apontou o Jonas, do Grêmio, como artilheiro do torneio.

Tá certo que nesse caso o grau de dificuldade é muito maior. Mas se trata de gente que vive o futebol, de gente que conhece bem os seus meandros, e que mesmo assim parece não ter sido capaz nem ter de desconfiar do que o futebol reservava. É por essas e outras que eu acredito que, muitas vezes, só a intuição pura decifra o jogo. Vai apostar?

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A bola está com os astros

Foi antes da penúltima rodada. Ele passou por mim, quando todo mundo já dava como certo que o Palmeiras não faria o menor esforço pra complicar a vida do Flu e, com o olhar limpo de quem se ampara nos astros, fez a profecia de que o Felipão era de escorpião, tipo de gente que leva a moral em conta. Disfarçadamente garantia ali que o duelo não seria a moleza que muitos previam.

Alguns dirão que está aí um belo exemplo de que até os astros podem ser driblados. Ou não? Estaria mesmo traçado o nosso destino? E aquele chute em curva do Dinei? Seria prova disso, ou prova de que essa coisa de entregar o jogo é história pra boi dormir? Cada um com sua crença. O fato é que o papo me deixou curioso pra saber o que o cara podia tirar dos astros.

O cara é o Silviano, companheiro de redação, torcedor do São Paulo e místico por natureza. Não resisti. Resolvi convidar o sujeito para fazer uma prévia leitura da derradeira rodada do Brasileirão. Escrevi num pedaço de papel o nome e a data de nascimento de alguns personagens. Sugeri, não uma previsão, mas um perfil rápido. E não é que o sujeito topou?

Voltou no dia seguinte com o papel todo rabiscado. Ao me ver, abriu o sorriso e avisou que o Muricy estava com tudo. Sagitário e cabra - no horóscopo chinês - o técnico do Fluminense estaria vivendo um ano de dádivas, ainda que confusas. De início cravou que seria o campeão, depois pensou melhor e disse que o escorpião (Mancini ) é o inferno astral do sagitário ( Muricy). Completou dizendo que o treinador do tricolor das laranjeiras poderá num futuro breve acabar na seleção. Foi assim que ele interpretou a possibilidade de novos e proveitosos contatos ditados pela astrologia.

Sobre o duelo entre Grêmio e Botafogo vislumbrou que o quarto lugar do Brasileirão ficará com o virginiano Renato Gaúcho. Não sem antes avisar que o cara é tigre no horóscopo chinês. E de acordo com o nosso astrólogo convocado, o capricorniano Joel Santana, rato no chinês, é um cara muito sensível e, apesar de viver um ano bom, será afetado por um ambiente que não é dos melhores.

Sobre Vagner Mancini e Arthur Neto, técnicos do Guarani e do Goiás, fez questão de dizer que os dois estão sob muita pressão. Mas traduziu o sinal de progresso no lado técnico da profissão como uma possibilidade de triunfo goiano na Sulamericana. Será?

Tite? Claro! Classificou o treinador corintiano, que é boi no chinês, como um visionário, que atravessará um período difícil mas será capaz de perseverar.

Aproveitei também pra pedir alguma luz sobre a partida que irá revelar o último rebaixado da série A, Vitória e Atlético Goianiense. A sentença foi de que Antonio Lopes, técnico do time baiano, tem a qualidade de saber esperar e não ficar nervoso nunca. Mas como se trata de um duelo com Renê Simões, ou seja, um duelo entre dois dragões o jogo terminará empatado, o que salvará os goianos.

Agora, preparem-se, porque a notícia mais bombástica de todas ele deixou pro fim: Washington voltará a marcar! Diz ele que os astros reservam um lucro pro atacante do Flu no final do ano. E esse lucro, segundo o místico, seria o reencontro com alegria do gol. Acredite se quiser.