quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Pontos (e corações) corridos

Evitar um campeão de ocasião, neutralizar a alta dose de surpresa que o futebol traz no ventre. Não vamos nos iludir, esses foram alguns, mas estão longe de serem os únicos interesses que fizeram a cartolagem aceitar a fórmula de disputa que por hora decide o nosso principal campeonato nacional.

Durante muito tempo os entendidos no assunto clamaram por ela. Anunciada como a mais justa, a que premia a regularidade, a que enaltece o planejamento. A fórmula em questão, ao ser eleita, foi recebida com honras. Demos adeus a era dos mata-matas de nariz um tanto empinado, com o ar sisudo de quem carrega consigo a certeza de fazer jus a alcunha de moderno.

Mas agora que os interessados em outros detalhes do jogo já não têm vergonha de confessar sua saudade dos tempos que ficaram pra trás e o nosso jeito original de encarar as coisas se manifestou, os pontos corridos parecem despidos de qualquer nobreza, de algo que o faça melhor que os outros. Convenhamos, não tardou para que o nosso jeitinho brasileiro desse um colorido todo especial a esse tipo de disputa.

O Campeonato Brasileiro de 2010 representa, expressa, o amadurecimento entre nós desse jeito de decretar um campeão. Nele torcemos diferente. Os sãopaulinos, por exemplo, descobriram que nem só a vitória do próprio time é capaz de trazer alegria. E no auge da descoberta nem tiveram receio de externar essa euforia, esse entusiasmo pelo triunfo do outro, o que deixou o presidente Lula, digamos, insatisfeito. E não é tudo.

No domingo que vem os são paulinos ainda terão a possibilidade de tirar uma casquinha ao ver o Palmeiras executar sua missão diante do líder Fluminense. Mas não se deixem enganar. Nada disso brota da bendita fórmula eleita. Brota é da gente esse jeito perverso e gostoso de torcer.

Carregamos as mesmas mazelas e vícios, seja diante dos pontos corridos ou dos mata-matas. A cada campeonato ficamos mais na cara do gol da nossa personalidade. A cada campeonato nos revelamos mais a nós mesmos. No fundo todo torcedor sabe que essa pretensão da fórmula exata não existe. O futebol não a permite.

Azar de quem um dia acreditou que seria possível neutralizar uma fatia qualquer que fosse dessa capacidade de surpreender que faz parte do bate-bola. Restam duas rodadas. Mas quem será capaz de prever tudo o que elas reservam? Aí está a graça.

Senhores, enquanto o futebol respira o improvável nos ronda. Creiam. Nesta hora não há um só corintiano convencido de que o centenário foi um ano que passou sem título. E também não há nesse mundo torcedor do Fluminense que secretamente não leve em conta essa veia fatal do jogo.

A possibilidade do triunfo é que nos acelera coração. O título só o inunda de alegria, euforia. São coisas diferentes. Emoções outras. Poeticamente falando, nos pontos corridos os times aceitam o critério de construir uma obra. No mata-mata também, mas aceitam no fim de tudo colocá-la em jogo. Aceitam provocar a sorte, se expor às surpresas das quais tratamos aqui. Mas a fórmula que nos revira e nos revela como torcida é a mesma sempre.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

É vencer ou vencer

Ainda que o encontro no início da semana entre o governador do Estado, o prefeito de São Paulo e o todo-poderoso Ricardo Teixeira não tenha revelado de onde virão os milhões que farão a capacidade do futuro estádio do Corinthians saltar dos atuais 47 mil lugares para algum número além dos 60 mil, a minha impressão é a de que será muito mais difícil e trabalhoso o Timão ganhar o Campeonato Brasileiro do que faturar a abertura da próxima Copa do Mundo.

Bastaria uma ou outra conquista para o alvinegro salvar este tão cultuado ano centenário. No caso das duas virarem realidade aí a alma corintiana estará lavada. Uma alegria tão grande que promete fazer os fiéis do Parque São Jorge esquecerem, ao menos por enquanto, essa ausência sofrida de uma conquista continental libertadora.

Em campo, como se não bastassem os adversários diretos, o Corinthians ainda terá que lidar com a desconfortável sensação de ver o seu destino sendo decidido pelos pés de alguns dos maiores rivais. Isso sem falar nas coisas de ar sobrenatural que vez ou outra garantem ao futebol desfechos inesperados.

Logo, muito mais controlada parece andar a coisa no campo político onde o principal adversário tem toda a pinta de já ter sido batido. Além do mais, se Ricardo Teixeira, presidente da CBF e do Comitê Organizador Local há tempos vestiu a camisa do Corinthians, quem será verdadeiramente capaz de endurecer o jogo? Lula? Não creio.

Pra quem não lembra, o anúncio oficial do futuro estádio corintiano foi feito na véspera do centenário do clube. Notícia de precisão cirúrgica. E quando Lula esteve lá pra ser homenageado, muita gente interpretou o silêncio dele sobre o novo estádio alvinegro como uma desaprovação sobre o rumo que a Copa de 2014 na cidade de São Paulo tomava.

Nesse jogo de cartas marcadas o momento ideal para divididas costuma passar rápido, é breve. E agora que o estádio corintiano virou o representante do Estado para a próxima Copa os descontentes têm pouco a fazer.

Muita gente estranhou quando Andrés Sanchez foi anunciado chefe da delegação brasileira na Copa do Mundo da África. Hoje, só estando muito desatento pra não perceber que essa "convocação" deu frutos. Teixeira tinha mesmo um plano pra ele. Não aceitar isso seria defender a versão de que tudo foi uma conquista de Andrés, que com habilidade descomunal convenceu o presidente da CBF a fazer dele o homem que daria um estádio ao Corinthians. Coisa que já frequentou a agenda de muita gente graúda.

Qual será o preço disso tudo? Isso é que realmente deve importar. Posso estar enganado? Posso. Mas estou convicto de que um dia teremos a resposta. Toda a verdade deixa pistas.
Que a imensa nação corintiana desfrute de toda a alegria possível.