terça-feira, 22 de abril de 2008

Duas atitudes coerentes

Mesmo que de maneira tardia queria registrar aqui duas atitudes que tiveram uma honrada e escassa qualidade: a coerência.

A primeira delas partiu do técnico da seleção brasileira de vôlei, José Roberto Guimarães, que não convocou a levantadora Fernanda Venturini, em quem reconheço uma atleta de primeira linha.

A segunda partiu do técnico do Corinthians Mano Menezes, que se recusou a receber os torcedores que foram ao Parque São Jorge protestar.

Reconheço, claro, o direito que todo torcedor tem de se manifestar.
Mas acho que essa é uma outra história.

E acho que as duas atitudes não podem passar em branco, porque são, antes de tudo, atitudes difíceis de se tomar.

De acordo

Nas duas últimas enquetes feitas aqui os que votaram deixaram claro que não concordam com a decisão do Comitê Olímpico Internacional que proíbe manifestações por parte dos atletas.

E por causa de tudo que vem acontecendo nos últimos tempos, quando se fala em dar aos competidores a chance de se manifestar... logo se pensa em política.
Mas causas dignas para serem defendidas existem muitas, e tal determinação, no entanto, impede todas.

Os que votaram deixaram claro também que não concordam com a volta do "mata-mata" ao Campeonato Brasileiro. Assim, ajudaram a colocar em "xeque", ao menos por aqui, aquele raciocínio de que o "velho sistema" era mais emocionante.

Como evito votar, faço esse registro aqui pra dizer que, nos dois casos, estou com a maioria.
O que não é normal.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

No ritmo frenético do planeta

A semana que se vai mostrou que o esporte segue o ritmo frenético do planeta. Um turbilhão de fatos a nos empurrar na direção do futuro. O baixinho Romário, depois de driblar muito jornalista com a tal notícia, afirmou estar aposentado. Notícia que eu, aliás, continuo tratando com desconfiança.

O Corinthians de Mano Menezes, ficou roxo de raiva com a provocação do dirigente goiano - aquele que falou da uva, sabe? - perdeu por três a um, e está diante de um desafio enorme. Ainda que a Copa do Brasil seja um vôo muito alto para um time que tenta se reerguer, permanecer vivo no torneio daria ao elenco alvinegro uma confiança tremendamente necessária nesse momento.

Teve ainda aquela cena da levantadora Fernanda Venturini, que depois de pedir um lugar na seleção de vôlei para o técnico José Roberto Guimarães, o encontrou durante um evento na última terça-feira, o que ofuscou até a presença do Ministro do Esporte, que também estava por lá. Fernanda está afastada das quadras há muito tempo, mas afirma que, convocada, se apresentará em forma. Apesar de reconhecer o talento de Fernanda, acho difícil acreditar nisso quando se trata de um esporte tão exigente quanto o vôlei. Mas acredito na capacidade do brilhante Zé Roberto pra resolver essa equação.

A semana teve ainda a dramática vitória do Santos sobre o Cúcuta, que levou o peixe até as oitavas-de-final da Libertadores. Será que os torcedores, outrora descontentes, já conseguem enxergar alguma qualidade no técnico Emerson leão?

A semana revelou também o fim da passagem do talentoso-problemático Carlos Alberto pelo São Paulo. O tricolor, apontado por muitos como um exemplo de administração, deixa transparecer cada vez mais o ambiente pouco saudável cultuado por alguns de seus dirigentes. E isso explica, ao menos em parte, a tensão estampada no rosto de Muricy Ramalho.

Mas o futebol é mesmo cruel. Ronaldinho Gaúcho que o diga. O jogador foi praticamente ignorado em uma pesquisa feita por um jornal espanhol com a intenção de eleger o gol mais bonito do Barça. Aposto que você, de imediato, já deve ter lembrado de uns dois ou três lances memoráveis dele com a camisa do time catalão.

E a semana que chega promete ser tão agitada quanto essa que parte. No domingo, no clássico decisivo entre Palmeiras e São Paulo, jogo duro mesmo quem vai encarar é a Polícia Militar, que chamou a responsabilidade, e precisará mostrar que o Parque Antártica é seguro.

Custei a acreditar numa manchete que dizia: “Torcida Notifica Ministério Público...”. Sempre achei que fosse papel do Ministério Público fazer isso. Uma alegação para a notificação é que o espaço reservado para os visitantes não comporta os dois mil e duzentos torcedores previstos.

É ou não é muita emoção para uma semana que ainda nem começou?

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Papo cabeça

A lucidez sugere que o assunto da semana seja o clássico entre São Paulo e Palmeiras. Eu, no entanto, como um treinador turrão, teimei em deixar a razão no banco, de reserva. Até porque sei que o clássico receberá a devida atenção de todos os "Cadernos de Esporte".

Mas vamos à questão. Arrancar o tampão do dedão do pé! Quem já não arrancou um jogando bola? Chuteira nesses tempos era coisa pra se usar em momento solene. Entrar em campo com uma de cor especial, personalizada, então, coisa para astro de primeira grandeza, e moderno. Começo esse papo meio estranho pra uma sexta-feira, depois de não resistir à tentação de achar uma explicação para o que estamos vendo por aí, um grande numero de jogadores batendo cabeça com cabeça. E aquele chute que, vez ou outra quase nos custou o dedão, é barbeiragem similar a essa outra.

Não pode se tratar de mera coincidência. Dia desses, Tostão - e não me peça para apresentá-lo - citou a enorme quantidade de bolas alçadas na área como a principal razão, mas acho que se trata de um problema de maior gravidade: a qualidade de quem está em campo. Não que craque não esteja sujeito a dar esse tipo de cabeçada, não é isso. Como já ouvi muitas vezes, “Errar é humano, sim! Mas quando a borracha termina primeiro que o lápis, aí tem”. Não é possível
O fato é que a sintonia fina, que outrora produzia uma “folha seca”, ou uma bola de “três dedos”, não anda tão fina assim. Evito dizer que anda até mesmo grosseira, o que poderia ser visto como grosseria.


Queiram os Deuses do campo que o final de semana nos guarde momentos brilhantes a serem testemunhados no questionado Morumbi, e no entusiasmado Moisés Lucarelli.
Porque se há alguém que já cumpriu há tempos sua cota de castigo, esse alguém é o torcedor.

Algo me diz, inclusive, que esses Deuses, tão cheios de capricho, nos guardam um duelo até mais interessante para sábado do que para o domingo. Mas torcedor também tem lá seus caprichos e pode até não ter a mesma boa vontade com os times do interior.


Vale torcer também pra que todo mundo esteja com a cabeça no lugar. Que a torcida não perca a paciência se o jogador adversário resolver desobedecer a FIFA, e comemorar o gol de maneira explosiva. Que o árbitro, o centroavante, e o zagueiro, meu Deus! Que todos eles estejam com a cabeça no lugar, e com a sintonia afinada, porque os olhos daqueles que curtem futebol a gente sabe muito bem onde vão estar, e mais, o que esperam ver.

E se você preferisse mesmo ler aqui algo sobre o clássico, saiba que quem escreve também dá lá suas cabeçadas, e também pode ser chamado de perna de pau.

Faz parte do jogo.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Corintianos santistas

Dizem que em Santos há mais corintianos do que santistas. Algo nem sempre fácil de explicar para o torcedor que vem de outras paragens. Tá certo que até hoje ninguém contou, tudo bem. Mas conheço histórias que fortalecem essa crença. Aos desconfiados devo dizer que não aceitar essa realidade pode ser ainda mais traumático.

Por exemplo, naquele fatídico jogo em que o Ricardinho fez o gol nos acréscimos, lembra?
O duelo valia vaga na final do Paulista de 2001! Pois é, tenho um conhecido, muito conhecido, que estava vendo o jogo com o irmão e nem acreditou quando viu o Santos fazer um a zero no time do Parque São Jorge. A partida era no Morumba e ele sabia que o adversário, naquele momento, tinha um futebol mais consistente. Sentindo a pressão. Olhou para o lado, e disse:

_ Não pode deixar empatar. Tem que virar assim.

De repente, PUM! O Corinthians empatou com Marcelinho!E ainda era o primeiro tempo.> Naquele domingo se recusou a sofrer. Desligou a TV, e decidiu sair esfriar a cabeça com um banho de mar. E assim o fez.

Já era noite escura quando saia da água e não segurou o pensamento:

“Que será que tinha acontecido? Nem um rojão, nada. O empate era do Santos.
Não deu? Acabou?”

A curiosidade nem bem havia passado pela cabeça quando ouviu uma tremenda gritaria que nascia em um dos quiosques à beira-mar. Saiu em disparada, convencido de que uma festa daquela, na beirada da praia, não podia ser para comemorar um gol do Corinthians.

Se aproximou e tentou, em vão, olhar a TV. Mas era muita gente pulando, eufórica.
Um rapaz acompanhava tudo, e percebendo sua aproximação se virou. E ele perguntou, seco:

_ Gol?
_ É!

E, com o rosto iluminado por um enorme sorriso, o rapaz concluiu:

_ Ricardinho!!! Inacreditável !

Como não queria arrumar confusão, deu meia volta silenciosamente, tentando fingir que era exatamente o que esperava ouvir. Bom, nunca mais duvidou que existam mais corintianos do que santistas em Santos.

Resgato a história, e lembro que a partida entre Santos e Ponte Preta será também um fino duelo entre a razão e a emoção para os corintianos. A dependência de um “resultado paralelo” - como elegantemente definiu o técnico Mano Menezes - proporcionará um amálgama de alvinegros. Lhes fará cúmplices de um certo sentimento.

Uma rara oportunidade para esse velho conhecido voltar a questionar a hegemonia corintiana em terras praianas. Uma rara oportunidade.