sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Para os que andam preocupados com o futuro

Tenho um amigo muito estimado, que nas horas de preocupação coloca em ação uma tática inteligente: não sofrer por antecipação. A justificativa, antes de ser óbvia, é inteligente. E só é viável para pessoas que conseguem manter a mente um tanto "fresca". Diz ele:

"Se o que não quero, realmente acontecer, terei começado a sofrer antes. E, se não acontecer, terei sofrido por nada".

Bom, bem antes dele, Cícero, famoso estadista e escritor romano, já tinha sacado algo parecido, e deixou o pensamento resumido em uma frase:

"Em verdade, não é útil saber qual será o futuro, pois é uma desgraça angustiar-se sem nada poder remediar"

Deu pra sacar, ? Deixa a bola rolar...

Tudo tem um preço

A frase é velha, mas pelo visto não corre o mínimo risco de perder o sentido. Acredito que a nossa experiência cotidiana impedirá qualquer divergência nesse sentido. Lembrei da mesma, porque há tempos venho adiando um comentário sobre a nadadora Rebeca Gusmão, cujo exame antidoping com resultado positivo virou até caso de polícia.

Na última terça-feira Rebeca quebrou um silêncio que já durava duas semanas, e as palavras da primeira mulher a conquistar uma medalha de ouro para a natação brasileira (ela, por sinal, conquistou duas no Pan do Rio) revelaram uma atleta disposta a “pagar o preço”. Nada a ver com o resultado do antidoping, que isso é assunto para especialistas. Quem viu Rebeca Gusmão nos últimos tempos, muito provavelmente, ficou impressionado com o porte físico da nadadora, o que sem dúvida contribuiu para acelerar opiniões a respeito do caso.

Aos vinte três anos de idade, Rebeca não deixou no ar a menor preocupação estética. Disse que faz doze refeições por dia, e que não tem medo de engordar. “Quem quiser ser alguma coisa tem que fazer de tudo”, afirmou em seguida. E ao dizer que as outras atletas deveriam “se preocupar menos com a aparência e mais com performance”, deixou no ar, reforçada, a possibilidade de ter sido seduzida por um outro tipo de vaidade, a da vitória.

O caso de Rebeca Gusmão nos aproximou ainda mais dessa face perversa do esporte. Na próxima segunda-feira, o exame da mostra B será feito em um laboratório de Montreal, no Canadá. O preço de tudo isso ainda é desconhecido, e pode se revelar bem maior do que o previsto.

Isso sem falar na declaração do responsável pelos exames antidoping no Pan do Rio, Eduardo De Rose, que declarou que estava à caça de Rebeca e que sua aparência era suspeita. Nada me tira da cabeça que só pode ter sido inveja daquele delegado-geral da Polícia Civil do Pará que, ao falar sobre a menina de quinze anos que ficou presa com homens na mesma cela, ainda culpou a vítima, alegando que ela só podia ter alguma “debilidade mental”.
Tudo... sem ficar vermelho de vergonha.

E por falar em preço, o Comitê Olímpico Brasileiro apresentou um projeto em Brasília para receber mais 27 milhões de reais para a preparação olímpica de Pequim 2008. Outros 57 já estavam garantidos. Nunca é demais, ?

Nesse nosso cenário, de bem com o preço só o atacante Lulinha, do Corinthians. Mesmo sem marcar um único gol como profissional, a jovem promessa teve a multa rescisória do contrato elevada para astronômicos cinquenta milhões de dólares, quase cem milhões de reais. A pergunta que não quer calar neste momento é: quanto deveríamos cobrar pela nossa paciência?

terça-feira, 27 de novembro de 2007

O risco de estar na arquibancada

A tragédia que matou sete torcedores na Bahia trouxe com ela um recado muito claro: se você gosta de futebol, e costuma frequentar estádios, tem corrido um sério risco. Ainda que ninguém seja tão ingênuo a ponto de achar que acompanhar da arquibancada um jogo de futebol seja tão seguro quanto assisti-lo de casa, estamos longe de admitir que ao comprar o cobiçado bilhete estamos, ao mesmo tempo, nos dispondo a correr risco de morte. Pode parecer exagero, mas pelo que vimos não é.

Os quase trinta e um mil torcedores que pagaram para ver o duelo entre Sport e Cruzeiro no último final de semana, no estádio da "Ilha do Retiro", podem até ter levado em consideração a possibilidade de precisar fugir de uma briga, ou até de um grande tumulto. O que eles talvez não tenham percebido é que aceitaram pagar para assistir a um jogo no terceiro pior estádio do país, segundo um levantamento feito por arquitetos e engenheiros, que percorreram outros vinte e oito estádios, nas dezoito cidades que se candidataram a receber jogos da Copa do Mundo de 2014, que terá o Brasil como sede.

Amanhã o Atlético Mineiro recebe o Goiás no tradicional Mineirão, o estádio "Governador Magalhães Pinto. Milhares de torcedores estarão lá, antes de tudo, correndo um risco, talvez, ainda maior do que aqueles que foram à "Ilha do Retiro" dias atrás. Inaugurado no dia 5 de setembro de 1965, o Mineirão aparece na "lista dos piores" em segundo lugar, vencendo apenas o já condenado estádio da "Fonte Nova". Perdoe, nesse momento o melhor é dizer, "perdendo", uma vez que nessa triste tabela não há vencedores.

Mesmo os mais de oitenta e um mil torcedores que foram ao Maracanã testemunhar a classificação do Flamengo para a Libertadores do ano que vem, com a vitória sobre o Atlético Paranaense no último domingo, não podem dizer que viveram plenamente essa condição. A superlotação do Maracanã, cuja reforma consumiu mais de duzentos e quarenta milhões de reais, obstruiu as vias de acesso e elevou ao máximo a possibilidade de acidentes. É bem provável que diante de um estádio reformado a sensação de segurança fosse maior. Ilusão.

Mas como sempre, o "show deve continuar". A "Fonte Nova" será demolida, o Campeonato Baiano vem aí, e o futebol fará de outras praças sua fonte de renda. Não sejamos ingênuos a ponto de achar que esses estádios estarão em condições plenas de receber a multidão de torcedores baianos que já deram grandes demonstrações de devoção ao futebol.

Seja onde for, por hora, tudo continua, e continuará, por um fio.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A seleção é o país

A passagem da seleção brasileira por São Paulo revelou uma vibração diferente entre o escrete nacional e a torcida. Havia no ar um “que” de reivindicação. Uma cobrança. Em outros tempos o time era a arma para manipular o povo. Nos últimos dias, em muitos momentos tive a impressão de que dessa vez era o povo que estava querendo usar a seleção pra mandar recado. Entrou em campo um descontentamento. Todo mundo exigindo mudanças.


E já que a seleção e o país parecem cada vez mais uma coisa só, imagine se na hora do jogo, tomado por essa emoção das coisas que não andam, pela angústia desse futebol que não diverte, todos decidissem levar ao estádio uma faixa. Nada de “beijos pra tia” ou “Olha eu aqui Galvão”.
Em papéis, tecidos, frases como “Eu não aguento mais a CPMF”...
“O hospital da minha cidade tá caindo aos pedaços, não dá! ”...
“Chega de impostos”
“ Nós somos de “não sei onde” e só temos 20 por cento de saneamento básico”.


Ah! Era bem capaz da “ cartolagem” baixar uma norma dizendo que cartazes são proibidos. Ou talvez, destacar um funcionário pra falar o que pode e o que não pode ser escrito.
Uma espécie de censura, como em outros tempos.
O futebol e a Nação têm mesmo muito um do outro. Levam embora nosso minério, nossas riquezas, como levam embora nossos craques. No comando do país, assim como no comando do time, a possibilidade da vaia pode aterrorizar. Pode fazer repensar agendas.
Um momento agudo em que todos os artifícios param de funcionar.


Há algo na engrenagem, no entanto, que impede a total imobilidade.
E tudo vai andando, mesmo com Wagner Love, mesmo com CPMF.
Tudo vai sendo salvo. Dunga tem a sorte de ter Kaká ... Robinho...Ronaldinho, e agora Luis Fabiano .Lula tem a sorte de encontrar o mundo num tremendo vento à favor. Tudo segue. Temos a jazida de Tupi, com seus bilhôes de barris de petróleo e gás, temos milhares de garotos sendo preparados em “escolinhas” para mais tarde adornar os grandes clubes de futebol da Europa.
Apesar de toda essa possibilidade, apesar dessa insatisfação, tanto com o futebol quanto com o país, o que se tem dos dois é o mínimo. E não me venha pedir escolas...hospitais...e ainda mais segurança.


Com relação ao mundo da bola a constatação também é cruel. Até o direito de ver nossa seleção nos é tirado. Treinos secretos, veja só! Será que o torcedor não merecia ser recebido de “portões abertos” já que a seleção se denomina do Brasil? Nada disso.
Como se não bastasse, demora muito pra voltar, só faz amistosos no exterior.


Para aqueles que apreciam as táticas, os esquemas de jogo, a maneira de tratar cada adversário, para aqueles que sempre pensam que têm razão, que poderiam mudar tudo tirando um daqui, colocando outro ali, pra esses eu digo, sem querer “secar”, que tenho a mais pura convicção de que não há como mudar a seleção, sem mudar o país.


De minha parte, entre as tantas placas que levaria ao estádio, vocês sabem, não esqueceria de incluir uma mais amena, onde traria escrito:
“Aproveite sempre da melhor forma as sextas-feiras”

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Desafinado

A falta de harmonia começou na cerimônia de abertura, com fogos estourando em cima da orquestra que tocava o hino nacional.
Em campo a coisa também não se harmonizou. Não havia meio de acertar o ritmo.
Mas Luis Fabiano, num exemplo impressionante de fé, correu atrás da bola e usou a força pra começar a salvar a exibição diante do Uruguai.
Da torcida, que foi acusada de impaciente, o que se viu uma dose extrema de benevolência. Resistiu sem reclamar até os quarenta minutos.
Quase uma atitude budista, tendo em vista o que acontecia em campo.
Como negócio a noite foi um sucesso. Faturamento de quatro milhões e trezentos mil reais.
A maior bilheteria da história do futebol brasileiro.
O time de Dunga só tomou a frente, e construiu o placar de dois a um, quase na metade do segundo tempo. De novo Luis Fabiano, que se encarregou de fazer esse Brasil desafinado dar samba.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

O futebol em sua versão mais surpreendente...

... foi visto no início da noite desta quarta-feira, no mítico estádio Wembley, na partida entre Inglaterra e Croácia. O resultado por si, vitória croata por 3 a 2, já diz quase tudo.
Um grande duelo, que tirou o “English Team” da fase final da Euro 2008 e mostrou ainda que, uma vez em campo, o risco da vaia é parte do jogo.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Manager

Aconteceu na cidade de Bituin, que fica entre Nossa Senhora do Bom Senso e o Vale dos Pecados, no norte de um imaginário país tropical. Digo país tropical, porque assim fica mais fácil do leitor entrar de vez nessa história, pensada para ser de sucesso, mas que acabou atrapalhando ferozmente seu principal protagonista.

Enquanto ele levou adiante sua tremenda paixão pelo jogo de bola, tudo foi se encaixando de maneira perfeita. Mesmo distante da cidade em que nasceu, o tal não teve dificuldade para encontrar os caminhos para crescer, até porque o futebol nunca conseguiu disfarçar que lhe cai muito bem uma dose acertada de malandragem.

Um dia percebeu que o momento de deixar a bola havia chegado. Pensou ir além, mas sua astúcia não permitiu que ele desobedecesse o sugerido pelo destino.
Passou a jogar com os amigos, só pra se manter.

O próximo capítulo era óbvio. Virar treinador. Ele só não esperava que essa acabasse sendo a sua grande glória. Transformou times pequenos. Encheu elencos humildes de personalidade. Triunfou. Desafiava os críticos com um respeitável número de conquistas.

O que mais um treinador poderia querer?
Comandar a seleção nacional? Pois ele o fez.
Desta feita não concluiu a tarefa como esperava, teve problemas, e naquele seu mundo a ausência de resultados era fatal. Precisou mudar de direção. Passada a tormenta - um tanto espantado - foi mais além.

Atravessou o atlântico, ganhou uma invejável chance no charmoso e sedutor futebol europeu.
Um universo novo que exigia outras habilidades. Lá, escutou pela primeira vez, de modo claro, a tal palavra: “manager”. Percebeu no homem que a carregava um encanto do qual ele não conseguia bem entender a razão. Rodava com sua esquadra pelo velho continente e, em todos os lugares por onde passava, o “manager” era sempre quem dava as cartas.
Era instigante. Na pessoa desse negociante travestido de executivo, o futebol não se resumia a táticas e concentrações. A ele já não interessava só a vitória, interessava vencer com lucro.
Seguiu contornando a curva do destino.

Voltou pra sua terra.
Afinal, o cotidiano podia ter armadilhas, mas sua trajetória era sólida.
Seguia com grandes clubes lhe cortejando. Escolheu um. Nem precisava ser o campeão. Era o mais bem pago. Aquela velha palavra, no entanto, não o havia abandonado. E nem importava que em seu velho país tropical ela soasse imprecisa e vaga.

Nas entrevistas, vez por outra, a palavra, meio sem querer, saltava da sua boca, como se o estivesse rondando os pensamentos. Às vezes, ele a usava para explicar certas situações.
Na cidade de Bituin todos percebiam que para ele, “Manager”, era “o” sinônimo do sucesso profissional.

Quando os jornalistas o queriam adular, iam logo colocando um “Manager” na pergunta. Quando os cartolas o queriam seduzir, revestiam suas lorotas com a tal palavra.
Naqueles dias era assim, estava entre os melhores, sentindo a pressão do ofício, tendo que manter sua esquadra respeitável. Já não era um tempo em que se podia pensar somente no jogo. O futebol lhe colocou pra participar de compras e vendas. Passou a se tratar de um jogo mercantilista. Se tratar de negócios. Não foi pouca coisa o que o destino o ofereceu. Reconhecimento profissional, posição de destaque.

Mas o velho lateral de Bituin jamais conseguiu tirar essa bendita palavra da cabeça: Manager.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Entender o mundo é "jogo duro"

Se você anda olhando o mundo e não consegue entender um monte de coisas não estranhe, nem pense que isso é motivo para maiores preocupações. Faz tempo que boa parte do acontecido carece de explicação mais convincente. Veja, por exemplo, esse nosso campeonato de pontos corridos. Não faz muito tempo era o símbolo da disputa leal.
Por isso mesmo acabou usado como uma bandeira pelos cartolas na tentativa de nos convencer, ou dar a impressão, de que bastaria uma nova fórmula de disputa para consertar a dilapidada paixão nacional. Como apaixonados nem sempre primam pela boa visão, um certo entusiasmo se fez presente.
Passadas algumas poucas temporadas, o que sinto é uma imensa insatisfação com esse modo de revelar o time campeão. A regularidade do São Paulo, claro, contribuiu pra isso. Mas o que a maioria dos meus interlocutores alega é uma imensa saudade do mata-mata. Vai entender.
Todos parecem ter esquecido o fato de que, em outros tempos, não era anormal assistir ao oitavo colocado na fase de classificação papar o título, enfurecendo a torcida do time que havia cumprido a primeira fase do torneio de maneira inconteste.
E não é tudo. Tem ainda aquela discussão sobre se o time campeão poderia, ou não, se dar ao luxo de, uma vez conquistado o título, colocar em campo outra equipe, recheada de reservas. Isso como se alguém pudesse garantir que os jogadores titulares, já cansados da longa temporada, fossem mesmo complicar a vida dos adversários.
Qualquer torcedor é capaz de lembrar de um bom exemplo em que a vontade foi muito mais eficaz do que a qualidade.
Sinceramente, não me recordo de ter ouvido algo semelhante sobre os torneios pelo mundo que, como o nosso, foram decididos antes da derradeira rodada. Já aqui, até o Internacional, que não ganhou nada, sugeriu adiantar as férias dos seus atletas de olho em um torneio rentável no exterior.
É a nossa velha brasilidade, nosso modo original de encarar as coisas, acentuado pela lógica perversa que dissimuladamente envolve o esporte.
Por favor, não vamos resumir tudo isso a uma já alardeada falta de qualidade nossa.
Não é impressão, não, a compreensão dos fatos vai se tornando cada vez mais desafiadora. Veja o caso envolvendo uma das nossas principais nadadoras, Rebeca Gusmão, pega em um exame antidoping realizado pela Federação Internacional de natação, a FINA.
Diante das águas agitadas da acusação, justificou o ocorrido alegando que seu organismo, em razão de uma disfunção hormonal, produz mais testosterona que o normal, ainda que o exame da FINA tivesse deixado claro que essa testosterona havia sido produzida fora do corpo.
Rebeca me pareceu mais sensata ao alegar que os exames feitos por ela durante o Pan do Rio - quando conquistou a medalha de ouro nos 50 e nos 100 metros livre - não apresentaram problemas. Eis que surge um membro Comissão Médica da ODEPA, a Organização Desportiva Pan-americana, dizendo que ela não poderia dizer isso, porque a entidade ainda iria se pronunciar sobre o assunto.
Tento encontrar razão para o resultado de um exame que já foi feito há mais de três meses, e que pode ter tido o resultado positivo, demorar tanto, mas não acho.
Agora, com a reverência já confessada que tenho pelas sextas-feiras, deixo aqui um convite para que durante o fim de semana, que já começa a dar o ar da graça, você não tente entender o mundo, se dê o direito de simplesmente desfrutá-lo. E o faça da melhor maneira possível. É preciso.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O futuro do tricolor

A derrota para o Juventude não muda absolutamente nada.
O que pode mudar é não contar com Muricy Ramalho em 2008.
Técnico de alto nível é artigo de luxo, e as propostas do exterior, tentadoras.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

O que faltou falar

Acredito que a grande sedução dos programas de televisão que discutem o universo esportivo, além de instigar o telespectador a refletir sobre o que está sendo dito, é levar até ele a nítida impressão de que está participando de modo direto da conversa. Prova disso é que não são tão raros os momentos em que, mesmo estando sozinho na sala, o telespectador não resiste e defende em voz alta o seu ponto de vista. Discorda do apresentador, do comentarista, acrescenta outro detalhe. E é exatamente sobre esse detalhe que quero falar. Veja, trata-se de uma verdadeira confissão de quem está do outro lado. Na maior parte das vezes termino o programa com a sensação de que algo ficou sem ser dito. Não sei o que me faz ter a ilusão de que seria possível esgotar um assunto, ainda mais quando em pauta está o futebol. Mas contra minha própria vontade cultuo essa pretensão. O programa desta segunda terminou, e deixei de dizer que essa questão da legitimidade em reconhecer o São paulo como o primeiro time brasileiro a conquistar cinco vezes o Campeonato Brasileiro - que encheu a nossa paciência nos últimos dias - mostra, antes de tudo, que faz muito, mas muito tempo mesmo, que nosso futebol se divide por outros motivos que nada têm a ver com a bola. Há muito tempo os campeões precisam atender aos interesses dos cartolas, e o resto é detalhe. Os tais cartolas contam com essa multidão de apaixonados somente para encher os estádios, pagar ingressos, e legitimar todas as tramas que bolaram.Aproveito pra contar outra coisa. Antes da vinheta do segundo intervalo rodar eu disse que a diretoria do Palmeiras tinha a obrigação de esclarecer o que se passou com seus atletas no aeroporto de Recife na volta para a capital paulista. Com o programa já fora do ar, nosso convidado, o cineasta Ugo Giorgetti, me lembrou que não era possível esperar algo coerente de uma diretoria que não tomou uma atitude digna nem mesmo quando um treinador das categorias de base do clube apanhou do pai de um de seus jogadores por ter tirado o menino de campo. Verdade absoluta.Além disso, faltou dizer que é lamentável acusar jogadores de terem bebido demais sem ter apurado o caso, e citando como fonte os integrantes de uma torcida organizada. A diretoria nega quase tudo que foi dito em um primeiro momento. Quem mente? Enquanto isso, a CPMI, que pretendia investigar a parceria entre o Corinthians e a MSI vai agonizando diante de outros interesses. Faltou dizer também que foi triste ver uma de nossas principais nadadoras, a Rebeca Gusmão, campeã pan-americana dos 50 e 100 metros livre, ser suspensa provisoriamente por causa de um exame antidoping que deu positivo.Faltou dizer que é bom o Santos se cuidar. Faltou dizer que não me soou bem a declaração de Luxemburgo afirmando que o time santista não teve a postura que ele esperava. Quem, afinal, poderia resolver esse espantoso dilema?Antes de encerrar aproveito pra fazer uma outra confissão. A de que essas linhas aliviaram parte dessa insistente sensação que me faz achar que faltou falar alguma coisa.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Na era da "zapiada"

O mundo moderno tem mesmo dessas coisas, quando a gente vê, nosso cotidiano já se transformou. O planeta depois do controle remoto nunca foi o mesmo. E esse assunto vem a calhar porque não se trata apenas de uma questão de canal, o futebol já se encarregou de mostrar dois canais ao mesmo tempo. Houve época em que ligar a televisão era assistir a um só jogo. O mundo acelerou, o Brasileirão passou a ser de pontos corridos, e agora é preciso saber de mais de um resultado.

Esta última quarta-feira, por sinal, foi sintomática, e estranha. O time que decidia o título estava em campo, só que boa parte dos torcedores queria mesmo é saber de outra peleja. Acompanhada de perto por mais de 60 mil.

E, de repente, na ânsia de acompanhar tudo, nos encontramos divididos entre dois canais, coisa de torcedor moderno. E a modernidade, como destaquei no início, transforma mesmo nosso cotidiano.

Fica aqui um pedido encarecido aos diretores de televisão: Lembrar que é sempre de “bons modos” dividir a tela se quiser mostrar outro jogo. Pensem na possibilidade do telespectador estar mesmo a fim de continuar vendo tão somente o jogo que escolheu.

Bom, na verdade durante o primeiro tempo inteiro não houve nenhuma “zapiada” de minha parte.

Foi difícil desgrudar do Maracanã.

O Goiás vencia.O Náutico vencia.

Todos os resultados eram favoráveis ao Fla, menos o que se desenhava no Rio de Janeiro. Depois de um lindo balão de Lulinha, o Corinthians fez um a zero.

Dentinho quase virou mito aos trinta e oito. Acabou traído pela ilusão prepotente do gol.

Enquanto isso o São Paulo ia reafirmando o título.

Na última parte do espetáculo, Obina e Roger ganharam um lugar na história.

Aos vinte, “zapiei”! Só pra sentir o clima do “Morumba”.

Na volta vi Roger, o velho conhecido corintiano, se encher de confiança, avançar e soltar o pé, colocando o estádio mais representativo do país em festa total.

Mantendo a veia de sofredora, a massa corintiana testemunhou o time perder uma chance incrível nos acréscimos.

Futebol, às vezes, é puro drama e euforia.

Na capital paulista o tricolor se sagrava bi, desenhando a imponente marca de cinco títulos brasileiros, adornada por três sul-americanos e três mundiais.

No final de semana tem mais. Com certeza vamos querer saber dos resultados de outros duelos. Como torcedores modernos teremos que voltar a dividir nossas atenções.

A modernidade é assim, tem sempre muita coisa pra mostrar. Essa é sua tática.