terça-feira, 31 de julho de 2007

Quase inacreditável

Imagine! Você está ao Norte do Deserto de Mojave, na Califórnia, quase na fronteira com o estado de Nevada, nos EUA. Um lugar onde as noites de verão facilmente atingem trinta e sete graus, principalmente no mês de julho. Um lugar onde em 1913 foi registrada a temperatura mais alta das Américas. A segunda mais alta do planeta. 56, 6 graus.
Não é por acaso que esse pedaço do Mundo ganhou o nome de “Vale da Morte”.
Agora, imagine que a única maneira de você sair dali é percorrer duzentos e dezessete quilômetros. Seu ponto de partida é o ponto mais baixo da América do Norte, 85 metros abaixo do nível do mar. Seu distante ponto de chegada está 2533 metros acima do nível do mar.
Foi esse o cenário da prova vencida na terça-feira passada pelo santista Valmir Nunes, que era um novato no desafio batizado de “Badwater”. Valmir tem quarenta e três anos, é bi-campeão mundial de ultramaratona e detentor de outras tantas marcas incríveis.
Ele não apenas venceu, melhorou em duas horas a melhor marca da prova. Cruzou a linha de chegada depois de 22 horas 51 minutos e 29 segundos.
Para se parecer um pouco com os normais, dosou a força, contornou problemas físicos, caminhou nos últimos dezessete quilômetros.
Chega a ser difícil de acreditar.

Plebiscito já!

Ricardo Teixeira convocou Romário e Paulo Coelho e foi à Suíça colocar o Brasil de vez na condição de candidato a anfitrião da Copa do Mundo de 2014. Uma festa para a qual nem o Maracanã será convidado. Muito menos o Morumbi.
Gostaria de saber quem foi o responsável pelo projeto da reforma que custou mais de duzentos milhões de reais e, ainda assim, não deixou o "Maraca" em condição de receber uma partida de Copa do Mundo. O projeto sem dúvida deu trabalho, talvez só explicá-lo seja mais trabalhoso.
Como dizem, se pênalti é algo tão importante que deveria ser cobrado pelo presidente do clube, digo que a decisão de sediar uma Copa, ou uma Olimpíada, deveria exigir um plebiscito. E não me venham com essa história de que o dinheiro não virá do governo. Posso até fingir que acredito. Mas, se vão usar o nome do nosso país, como fazem há tempos com a seleção, deveriam, ao menos, buscar legitimidade pedindo permissão.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Nada mudou

Em 2004, depois da medalha de prata em Atenas, acompanhei de perto o futebol feminino. Ainda no embalo da boa campanha nos Jogos Olímpicos a imprensa foi generosa na cobertura do Campeonato Paulista organizado logo depois, o que alimentou a esperança de mudanças no cotidiano das nossas jogadoras.
Estive em alguns jogos, senti nelas o entusiasmo, afinal, o que se propagava era que o torneio serviria como um “laboratório” para a criação do tão merecido Campeonato Brasileiro.
Elas, de novo, fizeram a parte delas, aceitaram um calendário espremido, com intervalos mínimos entre os jogos. Ignoraram as condições precárias, a falta de torcida.
E tudo deu em nada.
A realidade dos salários mínimos e de um horizonte promissor podendo ser vislumbrado somente muito longe de casa permaneceu.
Depois de todo o suor nossas meninas podem se dar ao luxo de não acreditar em mais nenhuma promessa. É perfeitamente compreensível.
Mas, continuem acreditando em vocês, e isso eu desconfio que vocês sabem fazer muito bem. Não acredito que haja campeões sem confiança.
Cristiane, Marta, Pretinha, Simone, Elaine, Aline, todas vocês, olhem pra dentro, se sintam cheias de honra. Cheguem perto do espelho, olhem bem nos seus próprios olhos, esqueçam o batom, esqueçam qualquer tipo de maquiagem, olhem somente nos seus próprios olhos e se reconheçam como as verdadeiras campeãs que são.
Lembrem dos primeiros chutes, da trajetória rebelde da bola que insistia em não desenhar a curva que vocês imaginavam, é sempre assim, até para os homens, não se iludam.
Lembrem do passado, quando vocês sonhavam com um Maracanã lotado jogado aos seus pés. Estão vendo? Aconteceu.
Tudo o mais é crueldade de uma sociedade que não aprendeu a tratar nada de maneira igual.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Uma nação ameaçada

Trata-se, sim, de uma nação. Uns, orgulhosos da lendária invasão ao Maracanã protagonizada em 1976. Outros, orgulhosos de uma certa democracia instaurada nos idos de 1983. Uma democracia cujos ídolos eram, antes de tudo, craques.
Uma nação que sofreu junta por mais de duas décadas, e se redimiu com o eterno "gol do Basilio".
A beleza da história corintiana não merecia um capítulo sobre lavagem de dinheiro, formação de quadrilha. É demais para um torcedor cuja grande aspiração era receber em troca o direito de poder se divertir, e ser feliz, vendo um jogo de bola. O fim da parceria com o fundo de investimentos MSI, aprovado pelo Conselho Deliberativo do clube na última terça-feira, promete se transformar em uma monstruosa batalha judicial que cansará ainda mais essa nação já saturada de amargas notícias extra-campo.
A próxima trama a se desenrolar, o afastamento do presidente Alberto Dualib, que insiste em se manter na presidência mesmo depois de quase uma década e meia, mexerá ainda mais com as vísceras alvi-negras.
Há tempos as jogadas políticas do time do Parque São Jorge tornaram o risco muito maior do que o de sofrer uma goleada, ser derrotado dentro de casa ou ficar oito jogos sem vencer.
As negociações galácticas se transformaram em uma enorme conta devedora. Nesse momento um time inteiro de jogadores do Corinthians está nas mãos do parceiro investidor. Nunca a música feita em homenagem ao clube pelo meu querido Carlinhos Vergueiro, que é torcedor do Fluminense, soou tão nostálgica, ou melancólica.

"Briga
sacode a poeira
levanta a bandeira
tribo soberana
mais que brasileira
és corintiana
tú és
a mais bonita das nações"

Diante de toda essa confusão, e da dívida milionária, resta a esse grande símbolo do futebol brasileiro, a esperança de uma torcida fiel, a história, a tradição. Coisas que ninguém rouba.

Adeus tabu

Nós escalamos a seleção sub-17 no futebol
Os EUA a sub-22 no basquete, e ainda eram favoritos.
Mas, do outro lado da quadra, encontraram um time Uruguaio disposto a vencer.
Restavam quarenta e seis segundos, e a desvantagem era de seis pontos, quando o juiz “achou” uma falta antidesportiva para os EUA
Nem assim. Vitória Uruguaia por 81 a 72
Jogo com emoção até o último segundo.
Foi a primeira vitória do Uruguai sobre os Estados Unidos na história do Pan, e ajudou a dar um clima para o torneio de basquete masculino.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Ouro e acrílico

Nas competições esportivas a medalha é a parte palpável da glória. O suor secará, os olhos no futuro já não poderão mirar o adversário, as testemunhas todas hão de se dispersar pelo mundo. Alguém esquecerá de guardar a manchete do jornal, as lágrimas da vitória não serão mais do que memória. A medalha, não.
Será tratada por cada campeão como relíquia. Nas mãos de cada vencedor será a principal prova do feito heróico, da superação, do êxito. Cansei de vê-las, penduradas, com seus cordões bem cuidados, em caixas de veludo, sem jamais perder o ar de tesouro.
De certo surgiram porque, um dia, o homem se viu diante da necessidade de materializar o que o espírito sentiu de maneira triunfante. Nasceu, então, a medalha. Forjaram-na de metais diferentes e reservaram o mais nobre deles para os melhores.
Por isso, tem me intrigado demais ver medalhas revestidas de acrílico, ou sei lá o que. Algum designer sábio, com apenas um traço na prancheta, isolou esse pedaço de metal repleto de simbologia da pele de cada campeão revelado no Pan do Rio.
Será que nenhum vencedor, tomado pela vibração insana de uma conquista, teve o ímpeto de tentar descascá-la?


* Até agora, pelo que li, cinco medalhas recebidas pelos atletas no Pan quebraram.

terça-feira, 24 de julho de 2007

orgulho ferido

Tenho uma sugestão sobre o refrão que a torcida consagrou

“sou brasileiro/ com muito orgulho/ com muito amor”

Como o país não está jogando bem...

Sai: com muito orgulho

Entra: “Sou brasileiro.../com muito amor”

É isso!

Nosso vôlei em quadra

Sem moleza até os 17 a 17
e tendo que agüentar o braço pesado dos cubanos
Tranqüilidade, vibração, e muito jogo
25/23 Brasil
1 a 0

Set dois.
Giba dando aula de tempo de bola
Cuba 8 a 5
Dante acerta a mão no saque
Rede no saque seguinte!
Largadinha pra fazer 23 a 18 é sempre bom
Na seqüência, um rally fenomenal
bola de Cuba
set do Brasil
25/20



O terceiro set começa com boa vibração
Rodrigão e Giba mantém o ritmo
Brasil, 11 a 8
Tempo
Cubanos se olham com cara de interrogação
Brasil, discretamente se impõe
20 a 15.
Daí pra frente foi só mais um embalo
O placar adversário nem se mexeu
O nosso se repetiu
25 a 20Brasil
três a zero em cima de Cuba

Estamos na semifinal

É fogo...

Quer dizer que onze dias depois de ter sido acesa a pira pan-americana apagou?
Sei.
Como a organização do evento não queria se queimar, foi logo dizendo que não era bem assim. A "pira" só estava em manutenção para a festa de encerramento, e por isso, mantida no mínimo. Mínimo mesmo, né? Não dava nem pra ver.
Agora, a justificativa foi o máximo.

sábado, 21 de julho de 2007

O Pan e a democracia

Nesses últimos dias, em que as páginas dos jornais se encheram de outros esportes, e nomes tão pouco pronunciados, como Diogo Silva, Rebeca Gusmão, Kaio Marcio, Jade Barbosa, nos chegaram aos ouvidos ditos com uma vibração geralmente reservada só aos que costumam brilhar pelos gramados do país, ficou claro, podemos ir muito além da bola de futebol.
Se você é do tipo que gosta de esporte, e arrumou um tempinho pra parar diante da TV, seja onde for, com certeza neste momento traz na memória a lembrança de uma emoção que nasceu com uma bola de handebol, no tatame ou na piscina. Por um breve instante que tenha sido, ver aquela toquinha verde e amarela avançando dentro da água foi como ver o atacante do seu time caminhando com a bola dominada em direção ao gol. Por um instante, as piruetas cheias de ousadia dos nossos ginastas o fizeram prender a respiração, como se faz no momento em que a bola explode na trave.
Não sou um deslumbrado, nada disso. Faço parte do time daqueles que esperam que a promessa de um certo senador, de que a batata do Pan irá ao forno tão logo se apague a pira olímpica, seja cumprida. É uma questão de saber cuidar bem do nosso “ouro”. Mas, aí se trata de um outro jogo, que também farei questão de acompanhar.
A minha torcida, por enquanto, é para que novos campeões e ídolos ganhem fôlego, afinal, nesse país em que o futebol reina sozinho, para alegria dos cartolas, um pouco de concorrência não faria mal.
Acredito que hoje, os cadernos de esportes recheados de tantas modalidades, desfrutando de espaços incomuns, carregam consigo um exercício de democracia.
E a democracia, como já ficou claro desde a abertura dos Jogos Pan-Americanos do Rio, nos dá o direito de cobrar e vaiar.

O dia...

Atendo o pedido de um grande amigo, e publico abaixo um texto que narra algumas memórias sobre futebol que trago da infância.


O dia em que me tornei...



Quando penso na minha infância percebo como a bola foi a minha grande companheira. Uma realidade que eu acredito me aproxima de muitos meninos do meu país, e do mundo. Não sou capaz de dizer, nem mesmo, quando se deu o primeiro contato com essa coisa redonda, provavelmente de tão cedo que o fato ocorreu. Mas, posso lembrar perfeitamente como se deu o encantamento por ela. E nesse processo de descobrir a bola, você sabe, é possível imaginá-la em qualquer objeto que tenha essa forma. Quem já não ensaiou um drible ao se deparar com uma bolinha de tênis? Uma bola de meia? Uma bola de papel, e até uma laranja?
No prédio que eu e meu irmão morávamos havia outros dois irmãos, Vitor e Marcelo. Os três foram os amigos com quem mais joguei bola na vida. Dividiram comigo todas as fases dessa descoberta, a bola de meia, a de tênis, e também os momentos em que o bate bola foi se revelando despretensiosamente sério. Vieram, então, os rachões na rua, os duelos com a rua de trás. Foram, por sinal, os duros duelos com a “rua de trás” que me fizeram descobrir a satisfação plena de vencer uma partida de futebol. Nem sempre acontecia, mas quando acontecia...era demais. O sorriso no rosto de cada um, a conversa depois relembrando os lances. Vencer significava também uma superação física, já que os jogos eram, muitas vezes, cheios de empurra-empurra. O time da rua de trás não era só vigor, não. Tinha uns caras bons de bola, o Claudinho era um deles. Nossa esquadra também tinha lá seus nomes. Lembro de um em especial, o Zé Carlos, um mestiço de pernas tortas que era complicado de encarar. O Zé, além de marcar os jogos, era quem guardava a bola doada pra garotada pelo famoso árbitro Romualdo Arpi Filho. Romualdo, quando não estava apitando, tocava sua imobiliária que ficava perto da linha do trem, ao lado da padaria.
Depois vieram as peladas na praia, os jogos “clássicos” disputados aos sábados. Na praia, muitas vezes as turmas de amigos acabavam misturadas na hora de formar os times.
Agora, o auge das peladas da minha infância foi enfrentar o temido Pireli, time que tinha campo e tudo. O campo ficava muito abaixo do nível da rua, em um terreno baldio. Era preciso descer um barranco pra chegar até ele. Era uma espécie de Bombonera feita de barro. Bom, essa era a arte de jogar bola. Mas, foi com meu pai que eu descobri a arte de apreciar o jogo. Era programa certo! No final de semana, em geral depois do almoço, Seo Ary pegava eu e meu irmão e procurava uma partida de várzea pra assistir. Não eram poucos os jogos de várzea naquela época, dava pra escolher, se sabia qual era o time sensação, onde estava o artilheiro, que partida era importante pra decidir a temporada. Na várzea, a maior parte dos campos ficava em lugares abertos, meu pai então chegava, estacionava o carro perto da lateral e sentávamos no capô, o que evitava problemas caso o clima esquentasse. Lembrando, hoje, tenho até a sensação de que o capô da velha Brasília era confortável.
E lá íamos nós atrás do Itararé... do Paulistano... do Beija-flor...do Continental...
Como muitas das ruas em que joguei quando criança eram de terra, isso de certa forma parecia me aproximar das emoções descobertas naqueles campos de barro vermelho.
Nas décadas seguintes a expansão imobiliária tomou o espaço, e muitas equipes da várzea foram obrigadas a migrar para as areias da praia. Estou contando esses detalhes, porque o time que escolhi pra torcer é praiano e, de certa forma, esconde, na essência, um pouco de tudo isso. Evidente, como todo santista já fui chamado de viúva do Pelé, mas devo confessar que naquela época, nos idos de 1978, minha inocência me impedia de compreender a importância do Rei do futebol. Pelé era pra mim apenas um jogador famoso que vira e mexe aparecia no “Canalonga”, um alfaiate que trabalhava em uma casa na Praça do Correio. O que eu sabia era que toda vez que o Pelé pintava por lá causava um reboliço danado na porta da escola. Seja como for, cheguei a dar um aperto de mão nele, levado pela minha mãe.
Como é bom recordar. Veja só! A praça da escola tinha uns bancos que eram, na verdade, duas traves perfeitas. Só não via quem não era moleque, ou não gostava de futebol. Osvaldo, chegava todos os dias com sua pasta e seus óculos quadrados enormes, e com uma disposição tremenda colocava aquele campo quase imaginário pra funcionar. Ele se encarregava também de trazer a bola (de meia). Essa bola tinha que ter um tamanho perfeito, porque precisava ser guardada no final, quando soava o sinal de entrada. Tinha que ir pra classe com a gente.
Cresci ainda mais, e os finais de semana de futebol com meu pai já não se limitavam à várzea. O Jabaquara e, principalmente, a Portuguesa Santista passaram a fazer parte do roteiro. Ir ao estádio da Caneleira, a casa do Jabuca, em dia de chuva exigia determinação. O apogeu do time amarelo e vermelho tinha ficado pra trás, a equipe oscilava, mas levava na alma o que faz qualquer clube se encher de orgulho: os duelos eram apaixonados e apaixonantes. Já Ulrico Mursa era um campo de verdade, arquibancadas grandes de alvenaria, todo murado, e repleto de tremoços, muitos tremoços, uma semente amarela cozida e conservada em sal. A pipoca perdia de goleada por lá. No estádio Ulrico Mursa a emoção se tornava ainda maior, torcedores desesperados andavam de um lado para o outro, quase sempre sem conter o palavrão, e eram o espírito da Portuguesinha, ou “Briosa”, como muitos preferem. Hoje, entendo porque meu pai talvez não fizesse muita questão de me levar à Vila Belmiro. No fundo, no fundo, ele torcia para um clube da capital. Mas quem não queria ver um jogo de uma equipe que tinha ficado conhecida no mundo inteiro?
Ainda bem que nem meu pai resistiu a essa tentação, e meu dia de entrar na Vila Belmiro chegou.
O jogo era de noite, o que já mudava muito a atmosfera. Como mágica, as luzes dentro do estádio faziam parecer dia claro. Jamais imaginei que a entrada de um time em um gramado pudesse ser tão grandiosa.
Não, não era um clássico! O adversário era o modesto Comercial, de Ribeirão Preto. Não importava, meus olhos viam um brilho especial em tudo, e me fizeram acreditar que eu estava diante do maior evento futebolístico do planeta. Em campo, Pita, Nilton Batata e Juary. Aquele time chamado de “Meninos da Vila” era a visão do que o futebol representava pra mim, brincadeira, emoção, magia.
Pô, e ainda tinha o Juary, o jogador do momento, motivo de exaltação da torcida, que gostava de comemorar seus gols dando voltas frenéticas em torno da bandeirinha de escanteio. O Santos venceu por cinco a zero. Juary fez dois.
E pensar que outro dia entrei no site oficial do Santos e nome dele nem estava na lista de ídolos do clube.
Tudo era espetacular, o som do apito do juiz, a expectativa gerada por uma iminente cobrança de falta, aquela coisa de todo mundo levantar repentinamente das cadeiras quando a bola se aproximava do gol. Todos esses detalhes davam ao jogo de bola uma dimensão que eu jamais havia imaginado.
Hoje, entendo que o fator decisivo pra eu virar santista foi o fato de que sentia todos os outros times, por maiores que fossem, totalmente distantes de mim. Mas, o Santos, não. O Santos estava ali, ao meu alcance. É o time que eu acompanhei e o time que me acompanhou. Naquele dia, antes de me levantar para ir embora, olhei bem ao redor, sabia que aquelas jogadas frescas na memória virariam inspiração para tratar a bola pelas ruas nos dias seguintes.
Passei pelo portão de saída de maneira reverente. Meu pai me levou à Vila Belmiro outras vezes, mas aí eu já tinha “um” time. Hoje, aqui no futuro, sei que o dia em que eu virei santista foi o dia em que descobri o futebol por inteiro.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Uma lógica demolidora

Claro, vamos falar de esporte, mas não pense em recordes ou belos lances. Pense em tijolos, cimento, licitações, lucro. Essa tem sido a tônica desde que nossos dirigentes descobriram o filão. Já não há a menor dúvida, a construção civil, definitivamente, passou a ser o segmento mais importante do nosso esporte. Vem aí, a Copa do Mundo de 2014, a Olimpíada de 2016. O futuro dos grandes eventos esportivos no Brasil tem horizonte mais amplo do que o de Ricardo Teixeira.
Uma lógica perversa, que ameaçou a Marina da Glória, e agora mira o Estádio Célio de Barros e o Parque Aquático Julio de Lamare. Os dois, segundo o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, podem ser demolidos para dar lugar a um Shopping, um Hotel ou um centro de convenções. São “equipamentos que completariam o Complexo do Maracanã”, segundo ele. Belo complemento. Piscinas e pista de atletismo é que não rimam com conjunto esportivo.
No ano passado, quando as obras andavam a passo de tartaruga, os organizadores do Pan mostravam com orgulho o Parque Aquático Julio de Lamare, era a única "reforma" quase pronta.
Estive lá, era uma manhã bonita de sol. Olhei ao redor. A arquitetura, apesar de antiga, é charmosa. Imaginei as piscinas limpas, exibindo águas azuis. Foi um exercício de imaginação agradável. Hoje, fico imaginando o que nossos dirigentes sentem quando entram ali. Ao contrário do Maracanã, o Estádio Célio de Barros e o Parque Aquático não são tombados. Que força lúcida será capaz de salvá-los?

Muito além dos mil gols

Escrevi o texto abaixo duas semanas atrás para o Jornal "A Tribuna", de Santos.
Publico para dar uma pista do caminho que pretendo seguir.


Muito além dos mil gols


Santos, sexta-feira.Temperatura amena.
Dois amigos, sentados em um banco da praia, acompanham uma pelada qualquer, e divagam.
_ Era diferente de tudo, olha, sem exagero, chegava a parecer irreal.
_Irreal é demais.Por mais que fosse bom...
_Você nunca vai entender.Você pode imaginar um garoto de dezesseis anos, entrando na seleção e marcando de cara um gol na Argentina?
_ Pelo que eu sei o Brasil perdeu o jogo.
_Brasileiro é fogo mesmo, gosta de diminuir.Mas fica sabendo que na segunda partida, três dias depois, no Pacaembu, nossa seleção venceu por dois a zero, e ele marcou de novo.
_Quer saber? Acho que levou vantagem por ter jogado quando já existia a televisão!Antes existiram outros, o Leonidas, por exemplo.
_Se você fosse argentino eu até entenderia, ia preferir enaltecer o Maradona. Pô, não reconhecer que o cara merece reverência, é demais.
-Até parece que ele é o único injustiçado.Nosso povo não é o tal sem memória?
_É, mas esses jornalistas, que vivem desfilando conhecimento, bem que poderiam dar uma força. Mas não, só querem saber do animal, da bandeirinha que tirou a roupa.
_ Tu tá atacado hoje, hein?
_Quer saber?Acho que pouca gente tem noção, de verdade. Só os que viram podem falar.Eu vi, eu vi.
_Isso é acesso de hiper-nostalgia, meu amigo.
_ Nostalgia?É nostalgia ser o único a vencer três copas do mundo como jogador?Sabe que ficar no banco é outra coisa, né? Que o diga o Zagallo.
-Essa foi boa!
_Só pra completar.O Pelé, é, o Pelé, é até hoje o maior artilheiro da nossa seleção, marcou noventa e cinco gols, noventa e cinco. Por que o Romário não lembrou disso?
Fez gol em quatro copas, foi o jogador mais jovem a vencer uma copa do mundo, o mais jovem bi-campeão mundial. Fez o Brasil ser reconhecido, cara.
_Quem lembra de tudo isso? Pra nova geração, talvez, ele seja mais lembrado como garoto propaganda.
-Tu tá de sacanagem. Tô falando do atleta do século, do século.
-Até já esqueci como é que começou esse papo.
_É?Esqueceu?Liga não, você não foi o único.E o que eu podia esperar dos cartolas, da CBF? Amanhã , meu amigo, amanhã, faz cinqüenta anos que o Pelé estreou na seleção brasileira,
7 de julho de 1957. E todo mundo só quer saber da Copa América, do Dunga, de não sei quem.
_Eu até vi alguma coisa por aí.
_Viu o quê? Uma lembrancinha? Uma citação? O cara merecia muito mais?O cara não, o Pelé.Ele glorificou nosso futebol, glo-ri-fi-cou!
_ Fez cinqüenta mesmo?Cinquenta?Data redondinha?
_Redondinha!Redondinha é a bola que ele jogava.
Ê “brasilzão” que não acorda.

Na área...

Uma cortada bem dada, e pra completar, um olhar desafiador colado à rede. Pura provocação. Tem cena mais típica do que essa quando se fala na rivalidade do nosso vôlei feminino com Cuba?
No esporte moderno, tão preciso, vencer é cada vez mais uma questão de não errar.
Medalha de prata, faz parte do jogo.
Só acho que não faz parte do jogo aquele sistema de som, insuflando a torcida. Deslealdade com o adversário.Além do mais, a torcida merece ser dona de suas reações, não precisa ser dirigida, nem amestrada.
Foi nesse dia de tão emotivo tie-break, que decidi invadir esse mundo dos blogs.
Dia também em que Thiago Pereira deu show nos duzentos metros costas, dia em que deu empate no Palestra Itália.
Queria, de primeira, agradecer demais ao José Renato Sátiro Santiago Jr e ao Rafael Henrique, meus grandes incentivadores nessa empreitada.
Pode parecer trocadilho, mas não é. Nos últimos dias pensei muito sobre a maneira como deveria e gostaria de ocupar esse espaço, e conclui que seria interessante, antes de tudo, ter boas “sacadas”.
Bom, a bola está em jogo.
E já é madrugada.